Para a alegria da nação, os caras
que nos cativaram primeiramente com “Pompeii” voltaram, e parece que vieram pra
ficar mesmo! Bastille lançou Wild World –
o segundo álbum de estúdio da banda – na última sexta feira, entregando um trabalho
bem completo, desde a temática, super pertinente, até os instrumentais, que
estão mais completos, já que a banda trouxe um elemento chave que faltou no
primeiro disco: a guitarra com o seu som amigável, ou não.
Contextualizando um pouco o tema de Wild World, pode-se dizer que ele é todo voltado à um personagem, muito representativo, que se depara com a mídia e o mundo caótico por ela mostrado e, consequentemente, entra em crise severa, culminando em uma caça inacabável por estabilidade. Diante do absurdo mundano, o personagem busca refúgio nos braços de outro alguém, fazendo com que Dan Smith implore “Hold me in this wild, wild world”, em “Warmth”. O grande objetivo do personagem é, sem dúvidas, comprovar a existência do amor, que parece ser ilusória.
Porém, diferente dos contos de
fadas, esse sentimento de conforto, que o personagem encontra à dois, é de
curto prazo, fazendo do amor mais uma narrativa que perde credibilidade, uma
vez que ele também decepciona e também se torna tóxico, assim como qualquer
outra coisa no mundo. Já podemos sentir isso na faixa de abertura do álbum, e
também carro chefe do mesmo: “Good Grief”. Dan Smith, com sua voz grave, mostra
toda a insegurança ao perder alguém ou algo querido, e realmente ele consegue
transmitir isso, principalmente na bridge. Trata-se, portanto, de um ciclo
vicioso, no qual o personagem sempre acaba perdendo referências e segurança, se
encontrando sozinho no mundo, em busca do paraíso, como é citado em “Glory”. A
banda, por sua vez, soube tratar isso com muita verdade e emoção. O sentimento,
na maioria das vezes, é muito bem representado, seja pela voz desoladora de Dan
Smith, ou pelo piano fúnebre de fundo, ou pela guitarra cheia de identidade.
Todavia, para não apontar só
pontos positivos, vou apontar rapidamente, algo que não deu certo no álbum,
provavelmente a única fraqueza do álbum inteiro. O problema é que a tracklist é
muito extensa, o que é um perigo. Então, como era de se esperar com a
quantidade de músicas, algumas acabaram não se destacando muito, se tornando
completamente descartáveis, como “Power”, “Lethargy” e “Snakes”. No entanto,
isso quase não afetou o todo. Wild World
permaneceu bem consistente, mesmo com esses pequenos deslizes.
Seja pelo sentimento de revolta ou de lamentação, a emoção foi o fator determinante para levar o álbum para o topo. E, para mim, houve três faixas que atingiram o auge da sensibilidade, cada uma do seu jeito: “Two Evils”, “Blame” e “Winter Of Our Youth”. A intensidade do sentimento é muito forte em todas essas três. “Two Evils” expõe uma vulnerabilidade absurda, através de um blues obscuro causado por um encontro quase místico da guitarra com o piano. A incendiadora “Blame”, por sua vez, causa o efeito oposto, trazendo muita determinação consigo mesma, num instinto rock n’ roll revolucionário, que faz dela provavelmente a mais impactante do álbum. Por fim, “Winter Of Our Youth” encanta com sua delicadeza e fragilidade, principalmente no “I Know” do refrão, que parece mais como uma brisa gelada e seca, assim como a letra propõe. Esta última, está quase no plano angelical e inocente do Wild World, ao lado de “Oil On Water” e “Anchor”.
A temática do álbum já havia me
contagiado muito, porém quando comecei a reparar no instrumental das músicas,
me apaixonei ainda mais pelo repertório do Wild
World. Em muitas músicas, como em “Glory” e “Oil On Water”, temos um
violino de fundo, perfeito para dramatizar e quebrar um pouco a abundância de
sintetizadores. Os trompetes também são muito responsáveis para modelar músicas
como “Send Them Off” e, novamente, “Oil On Water”. Porém, o instrumento que
mais me atraiu quando apareceu foi a guitarra, sem dúvida alguma. Temos uma
guitarra bem amigável em “An Act Of Kindness” e uma ainda mais presente ainda em
“Power”, e quando ela se tornou explosiva em “Blame”, admito que entrei em
êxtase. Foi uma ótima experimentação com esse instrumento, já que não havíamos
tido nenhuma amostra do mesmo no Bad
Blood. Já vou adiantando também que quero ouvir ainda mais guitarra no
próximo álbum, porque deu muito certo, ainda mais pelo fato do Bastille ser uma
banda que usa muito piano e violino, que vão muito bem com esse instrumento de
corda.
Em suma, devo admitir que as músicas isoladamente não me conquistaram no nível que as do Bad Blood me conquistaram, porém seria ignorância da minha parte se eu não admitisse que o Bastille arriscou e evoluiu muito neste projeto que, assim como o primeiro álbum, possui muitas características positivas, mais do que negativas. Wild World possui uma conectividade entre as músicas que me atraiu muito, de tal forma com que meu sentido imagético fosse estimulado fortemente. É o tipo de álbum que, por seguir uma mesma linha, faz com que o seu cérebro vá criando um filminho enquanto você o escuta. Isso não aconteceu no Bad Blood, e foi aí que Wild World ganhou uns bons pontos comigo!
Bastille entregou um material bem
sólido e bem definido. Foi, do começo ao fim, um tiro certeiro e coerente,
quanto a composição instrumental, vocal e lírica. Wild World ainda soube me impactar com tamanha identificação, na
maioria das músicas. O álbum inteiro é um retrato perfeito da nossa relação com
a pós modernidade, relatando nossos conflitos, perdas e dúvidas. Por ser um
assunto próximo da gente, o álbum cai como um verdadeiro abraço amigo, o que o
torna tão poderoso.
Após o estrondoso sucesso de sua
primeira era, havia muita expectativa para o seu segundo trabalho, e, felizmente,
Bastille se virou muito bem, sem chegar perto de decepcionar. Estão de parabéns!
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