Depois de nove anos sem qualquer
tipo de material inédito, o Alice In Chains entrou em estúdio com o novo
vocalista e deu vida ao seu álbum de retorno, surpreendendo a todos com a
consistência e alta qualidade do disco. Relembre conosco o lançamento do clássico
instantâneo Black Gives Way To Blue.
Com a morte do vocalista original
Layne Staley em 2002, o futuro do Alice In Chains era incerto, mas graças à
força de vontade de Jerry Cantrell a grande ajuda de William DuVall, a banda
ressurgiu das cinzas e retornou aos palcos com as energias renovadas e com o
otimismo estampado na testa. Não demorou muito para que eles entrassem em
estúdio.
Em 2009 a banda finalmente nos
presenteou com Black Gives Way To Blue, o primeiro álbum desde 1995 e a
grande estreia de William DuVall nos vocais. O disco trazia uma sonoridade que
oscilava entre peso e melodia, contando com letras compostas tanto por Jerry
quanto por William, que provou ser muito talentoso não só como letrista, mas
como vocalista também.
O disco abre com “All Secrets
Known”, uma faixa nada convidativa, mas perfeita para definir a atmosfera geral
do álbum, com seu ar misterioso e obscuro, contando com um solo de guitarra
característico de Jerry e vocais também feitos por ele, que entoa versos sobre
seguir em frente e se desprender do passado, algo que a banda certamente fez
com maestria. Logo na sequência nós temos um dos poucos pontos agitados do
disco, com o segundo single “Check My Brain”, que traz um dos riffs mais
“bêbados” da discografia da banda e uma letra um tanto divertida, cantada por
William e Jerry, que fala sobre sua mudança de Seattle para Los Angeles, o que
segundo ele acabou se tornando agradável, mas que num primeiro momento parecia
loucura, daí o título da faixa.
Se já tivemos Jerry solo nos
vocais, nada mais justo que termos William solo também, certo? Pois é em “Last
Of My Kind” que esse negro maravilhoso brilha e mostra que não é só seu cabelo
afro que chama atenção, mas sua poderosíssima voz. A música é bastante densa e
pesada, acompanhada de uma letra co-escrita pelo próprio William, daquelas bem
complexas que te dão total liberdade de interpretação. Isso se tornaria um
hábito nas composições dele. A melancolia toma conta do ambiente em “Your
Decision”, uma faixa de andamento arrastado, com elementos acústicos e vocais
novamente compartilhados entre Jerry e William. Eu ouso dizer que a letra dessa
canção é uma das melhores do álbum, nela Jerry fala sobre as escolhas que
fazemos e as consequências decorrentes dessas escolhas.
Retomando o formato da primeira
faixa, temos a obra de arte “A Looking In View”, primeiro single do álbum. A
música conta com um dos riffs mais pesados de Jerry, segundo ele mesmo, além de
ser o single de maior duração da banda, ultrapassando os sete minutos. A letra
é cantada por ambos os vocalistas e fala sobre as pessoas que se acomodam e não
evoluem, mantendo-se estagnados a vida toda, sem jamais seguir em frente.
Definitivamente uma ótima mensagem para se colocar num álbum de retorno, concordam?
Tudo nesse álbum faz sentido, até
chegarmos em “When The Sun Rose Again”, uma faixa que não tem razão para estar
ali, mas já que está, a gente acolhe e ama como (quase) todas as outras. Pois
bem, a canção é quase toda trabalhada em arranjos acústicos, com exceção apenas
para a guitarra de Jerry e não possui bateria, apenas percussão. A letra é um
tanto irônica e parece se referir a alguém que não tem como fugir de uma
situação, mas está com medo de enfrentá-la. Apesar da grande diferença entre
esta e as demais faixas do álbum, eu a considero uma das mais bem construídas
da carreira da banda e admiro a coragem deles de a colocarem bem no meio de um
disco tão denso e pesado como esse. Falando em peso, a próxima faixa mostra
muito bem o que eu quero dizer. “Acid Bubble” é extremamente densa e oscila
entre a melancolia e o caos, que são representados pelos andamentos distintos
em que a faixa alterna de forma sutil. A letra é bastante obscura e misteriosa,
semelhante a “Last Of My Kind”, não deixa explícito o que o compositor quer
dizer, mas deixa várias brechas para interpretações. Animando um pouco mais as
coisas temos “Lesson Learned”, quarto e último single do álbum e não por
coincidência uma das faixas mais comerciais do mesmo. A letra foi escrita por
Jerry e fala da relação dele com drogas as quais ele abandonou em 2003. O riff
principal da música chega a ser viciante e gruda facilmente na sua cabeça junto
com o verso “Just another lesson learned...”, que você vai ficar repetindo
durante um certo tempo.
Mantendo uma linha bastante
parecida, o disco segue com “Take Her Out”, uma das faixas mais leves do disco,
com uma letra que parece usar uma figura de linguagem bizarra para tratar de um
assunto que nem mesmo eu fui capaz de decifrar qual é. A faixa não tem muitos
destaques, algo que definitivamente não falta em “Private Hell”, que vem logo
em seguida quebrando permanentemente o clima do álbum, com seu instrumental
lento e sua letra carregada de melancolia, que fala sobre engolir os
sentimentos e mantê-los para si, sempre fingindo estar bem enquanto sua mente o
mata por dentro, definitivamente uma das melhores faixas do álbum e uma das
melhores letras de Jerry, competindo fortemente com a faixa-título “Black Gives
Way To Blue”, que encerra o disco como um tributo a Layne Staley, vocalista
original da banda que, como citado no início, morreu em 2002. O piano presente
na faixa foi tocado por ninguém menos que Elton John e aumenta ainda mais a
carga emocional da música. Apesar de curta, a faixa
é extremamente marcante por conta da guitarra, do vibrafone e do vocal de Jerry
que passa uma emoção indescritível, especialmente no verso “Lay down, I’ll
remember you” que encerra a faixa e consequentemente o álbum.
O álbum que marcou o retorno da
banda fez muitos fãs antigos torcerem o nariz, principalmente por conta do novo
vocalista. Eu já acho que esse trabalho se posiciona facilmente entre os
melhores da banda, não peca em absolutamente nenhum aspecto e não deve nada
para qualquer outro disco deles, muito pelo contrário, traz aspectos da banda
que jamais veríamos com Layne e além de dar continuidade à história que começou
com ele, também passa a mesma mensagem que ele passava, mantendo assim seu
legado vivo.
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