Após ter
passado por maus lençóis nos últimos anos, Kesha está finalmente de volta com
o seu novo álbum, Rainbow! A cantora achou
um estilo mais autêntico e orgânico, que viaja por águas de pura emoção e
empoderamento. Por muitos motivos, o disco deve ser um dos melhores lançamentos
deste ano.
Muita
coisa aconteceu com Kesha após o exuberante Warrior,
seu último disco lançado. Em 2013, a cantora já colhia os frutos do álbum, com
uma turnê mundial, singles no topo das paradas, uma série documentário na MTV e
sua parceria com Pitbull, “Timber”, bombando mundo afora. Kesha estava em todos
os lugares. Foi, no entanto, bem no começo do ano de 2014 que tudo começou a ir
por água abaixo. Nos primeiros dias de Janeiro deste ano, a cantora ainda
estava em todo lugar da mídia, mas desta vez com a notícia de que ela havia ido
para a Rehab para tratar seus distúrbios alimentares e “aprender a se amar”,
como foi dito na época. Para qualquer paciente, a recuperação não é fácil, e
realmente é uma verdadeira batalha para buscar estabilidade nos lugares mais
inseguros. Em março, a cantora saiu de reabilitação, mas não devemos esquecer
que Kesha teve momentos bem difíceis lá, lutando contra a auto aceitação e
acordando cedo todo dia para uma rotina diferente, que envolvia muita terapia.
Quando a
cantora saiu da rehab, ela decidiu remover o cifrão de seu nome artístico, que
antes era “Ke$ha”, para tentar um recomeço em sua carreira. Tudo parecia bem, e
ela estava muito determinada para tomar um ar fresco, conseguindo até estrelar
como jurada da bancada do reality show americano Rising Star, mas mal sabia ela o que estava por vir. Em outubro,
ainda na busca de um novo momento para sua carreira, a cantora decidiu resolver
algo que já estava carregando nas costas há um bom tempo, mesmo que em sigilo.
Kesha abriu um processo pedindo o fim do contrato que tinha com a Kemosable
Records e o Dr. Luke, seu produtor. O motivo foi por conta de abuso sexual,
verbal e psicológico, assim como uma exacerbada falta de liberdade criativa na
sua carreira. Porém Dr. Luke também entrou com uma ação contra Kesha, por
violar o contrato e suposta difamação. A partir daí, tudo ficou cansativo. Foi
uma verdadeira guerra, e é inacreditável tudo que a mulher passa no mundo da
música e toda a humilhação que tem que passar, até mesmo quando tentam buscar
ajuda ou denunciar um comportamento impróprio. A Indústria, e o mundo, precisa
sem dúvida de uma mudança urgente!
Em
fevereiro de 2016, a Corte Suprema de Nova York negou o pedido de Kesha para
sair da gravadora, e em abril do mesmo ano, foi também negado todas as
alegações contra o próprio Dr. Luke. O absurdo foi tão grande que acabou
movimentando milhares de fãs e grande parte dos famosos a mostrar apoio à
cantora através das redes sociais, tudo com a hashtag #FreeKesha. Sem ter pra
onde ir, Kesha ainda tinha mais três álbuns a cumprir com a gravadora, e foi
daí que surgiu Rainbow. Pelo menos
nesse álbum, a cantora conseguiu se “livrar” um pouco do Dr. Luke e trabalhar com
outros produtores, que valorizaram muito mais o processo criativo da cantora. O
resultado foi maravilhoso, trazendo uma compilação de hinos que gritam liberdade,
diversidade e muita paz. Kesha, de uma vez por todas, está aqui para provar o quão liberta está para espalhar amor por onde passa.
Desde a
remoção do cifrão em seu nome até a mudança do pop poluído para um som mais
orgânico, Kesha entrega maturidade e muito progresso em seu novo disco,
variando sua sonoridade de sempre com vertentes do country e do rock. Nenhum
trabalho já lançado pela cantora é tão original como o Rainbow. Através de letras de luta, amor e empoderamento,
finalmente percebemos que Kesha encontrou a paz que tanto procurava nesses
últimos anos, assim como ela conta em “Praying”,
o comovente carro chefe do disco.
“Bastards”, a faixa
country stripped down que abre o álbum, já traz uma introdução maravilhosa do
que o álbum vai ser, apontando já a discrepante mudança pela qual a cantora
passou. Não dá para acreditar que aquela garota festeira cheia de glitter de
“Tik Tok” é a mesma apresentada agora. E é com o seu tom angelical e genuíno
que percebemos o amadurecimento de Kesha devido a toda sua difícil jornada dos
últimos anos. O álbum começa de um jeito simples e sincero, que parece vir diretamente
do coração.
Depois de
uma abertura melódica cheia de paz, “Let
Em’ Talk”, a primeira parceria com Eagles Of Death Metal, dá continuidade
ao álbum e te pega de surpresa ao começar com um riff de guitarra bem marcante.
É a primeira vez que Kesha mostra seu lado mais rockstar, que é apresentado de
um jeito bem animado, à la Avril Lavigne, que fará todo mundo dançar e bater
palmas junto. E é neste momento que percebemos que o disco não é só feito de
lamentações e baladas emocionantes. Rainbow,
como o próprio nome sugere, é um disco heterogêneo que brinca com estilos,
tons, ritmos e sentimentos diferentes. É uma mistura de muitas cores que trazem
uma produção completamente original para Kesha. E essa pluralidade continua ao
longo do álbum, com os hinos de empoderamento “Woman”, que experimenta um contry rock com o soul funk dos trompetes
do The Dap Kings, “Hymm”, que
entrega um urban pop calmo que flui de um jeito muito único, e a motivadora e
agitada “Learn To Let Go”, uma faixa
pop rock, bem Katy Perry meets Paramore, que vai ser a escolha perfeita para te
dar forças numa manhã de segunda feira, por exemplo.
Durante
todo o álbum ainda, Kesha veste diversas cores com as várias nuances de sua
personalidade. Isso acontece, por exemplo, quando a cantora explora o seu lado
mais romântico na refrescante “Finding
You”, que cabe perfeitamente como uma continuação de “Past Lives”, do seu
disco Warrior, em que Kesha conta a
história de um amor que transcende gerações. Em contrapartida, ela não deixa de
mostrar suas garras como costumávamos ver na sua imagem mais selvagem dos
últimos discos. Em “Hunt You Down”, ela mostra que pode ser dócil, mas não
deixa de ser perigosa, isso caso ela pegue o seu parceiro fora dos eixos, então
ela já avisa para os homens tomarem cuidado com ela. A faixa é construída com
uma pegada country bem divertida que cai muito bem com a proposta. Rainbow abre espaço também para uma
linha mais sensual, com “Boots”, que
tem um som diferente, bem faraoste, que exala luxúria, sendo a faixa que mais
lembra aquele tom despojado e descontraído dos primeiros trabalhos de Kesha. E,
de um jeito bem estranho, porém doce e delicado, a cantora ainda se encontra
com o lado mais peculiar e bem humorado de sua personalidade em “Godzilla”, uma faixa que compara, através
de uma analogia, o seu parceiro amoroso com o Godzilla. A música é
completamente bizarra e parece que foi escrita por Phoebe Buffay. “Godzilla” nos leva até a questionar se
a faixa realmente deveria estar neste álbum, porém ela não causa grande
incômodo a ponto de estragar a essência de Rainbow.
No entanto, apesar de
mostrar vários lados de sua persona, nada chega aos pés de quando a cantora se
entrega para o seu lado vulnerável, em faixas como “Praying” e “Rainbow”,
que é onde Kesha mais brilha no álbum. A primeira, como já dito, é o carro
chefe do álbum, e logo quando foi lançada já deixou todos de boca aberta com a
letra, que é muito mais profunda do que os trabalhos anteriores de Kesha, e a
performance vocal da cantora, que nunca esteve tão impressionante. Em “Praying”,
ela deixa claro que seguiu em frente e encontrou a paz que tanto procurava.
Tudo é colocado de um jeito muito inspirador, principalmente o piano e a voz
fenomenal da Kesha, que facilmente tiram uns bons arrepios de quem os ouve
crescer ao longo da música, fazendo dela um grande hino de esperança. Na mesma
pegada de “Til It Happens To You”, de Lady Gaga, essa faixa traz algo
gigantescamente emocionante, sendo um dos momentos mais iluminados do disco. Muita
emoção também é colocada em “Rainbow”,
a faixa que dá nome ao disco, pois ela expõe a fragilidade de Kesha enquanto
ela estava em recuperação na Rehab, onde a música foi escrita. A cantora contou
em uma entrevista que a música surgiu como um mantra e uma promessa pra ela
mesmo para que ela adquirisse estabilidade naquela situação. Foi na
reabilitação, dia a dia, tocando um piano de brinquedo que essa música saiu
como um pedido de ajuda sincero. É ácido de ouvir, e não tem como não admirar
Kesha pela coragem e determinação em sua jornada de recuperação, que é muito
bem traduzida em “Rainbow”. Cada nota do piano da música é um
arrepio diferente!
Para
encerrar o álbum, Kesha traz a inesperada e até um pouco sombria “Spaceship”. Através de um instrumental
suave guiado por uma percussão simples de bateria e banjo, a cantora finalmente
explica a capa do álbum tão peculiar. Na música, Kesha conta como ela simplesmente
se sente diferente das pessoas que a circulam, tendo a sensação de que ela não
pertence a este mundo. Com isso dito, de um jeito bem delicado, a cantora
anuncia que está esperando a sua espaçonave para levá-la para a sua casa. Agora
a capa do álbum, em que ela está nua com uma espaçonave no céu, faz muito
sentido. “Spaceship” é, ao mesmo
tempo, muito bonita e áspera quanto à sua construção sonora. A combinação
agridoce destes dois polos fazem dela uma das faixas mais interessantes do
disco. Com uma coisa temos que concordar: todo
esse talento e criatividade de Rainbow
realmente provam que Kesha não pode ser desse mundo, não mesmo!
Rainbow
é,
sem dúvidas, um álbum completamente plural e rico, que deve facilmente render
novos fãs para a cantora, assim como uma nova imagem. Ela não é mais aquela
garota genérica cheia de glitter com a voz de ET. Kesha finalmente achou seu
propósito e está pronta para compartilhá-lo com mundo, por meio de sua voz, que
passam belas mensagens de empoderamento. Rainbow,
com toda a sua originalidade, merece facilmente estar entre os melhores álbuns
do ano, porque qualidade é o que não falta!
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