Após um álbum muito bem aclamado pelos críticos, Neck Deep está de volta expandindo o seu pop punk para outras esferas da música. A banda entrega, neste novo disco, uma coleção de faixas que vem e vão em ondas de caos para achar o grande significado da vida. Após drásticas mudanças e perdas na vida dos integrantes, o grupo entrega faixas maduras e motivacionais, enquanto lutam entre polos de pura emoção.
Apesar
de serem da Europa, o Neck Deep se aproxima muito mais do pop punk proveniente
da Flórida, como A Day To Remember e Yellowcard. Eles flertam com um estilo
mais vívido e positivo, trabalhando sempre com dimensões grandiosas do gênero,
e foi exatamente essa tamanha expressividade que elevou o grupo a patamares
superiores em seu último disco, Life’s
Not Out to Get You, lançado em 2015. Foi por conta da coesão deste álbum
que o Neck Deep conseguiu se consolidar no mercado e ficar conhecido como um
dos pioneiros da nova geração do pop punk, junto a nomes como With Confidence,
State Champs e Moose Blood. O disco esteve entre os melhores lançamentos do
gênero naquele ano e isso só fez com que a expectativa aumentasse bastante para
o próximo disco, que só veio a acontecer agora em 2017.
O Life’s Not Out to Get You, diferente de
muitos trabalhos de pop punk, deixou seus ouvintes com uma perspectiva bem positive
da vida, sendo um disco perfeito para ouvir quando você estiver se sentindo pra
baixo. Porém, para o novo álbum, The
Peace and The Panic, devido a alguns importunos da vida, a banda seguiu
naturalmente para uma linha menos utópica, sendo ela mais real e madura. A
questão é que, apesar de todo o sucesso, muita coisa desagradável aconteceu
desde o último lançamento. O guitarrista Lloyd Roberts teve que sair da banda
por conta de alegações de abuso sexual, trazendo Sam Bowden para substituí-lo
no novo disco. Além disso, tivemos dois tristes falecimentos, o do pai do
frontman Ben Barlow e o do baixista Fil Thorpe-Evans.
Foram
tantos acontecimentos que é quase óbvio que eles iriam refletir diretamente nas
composições do novo disco, e de fato não foi diferente. The Peace and The Panic, o terceiro álbum de estúdio da carreira do
grupo, traz a evolução natural de Neck Deep, que agora expande seu conteúdo
para uma pegada mais madura e reflexiva. A banda pegou o seu pop punk de sempre
para seguir caminhos mais instrospectivos, fazendo com que aconteça a
experimentação de outros gêneros. É fácil notar, por exemplo, que a banda, em
comparativo com o último álbum, explorou mais o lado “pop” do pop punk,
viajando até por camadas de pop rock em alguns momentos. O grande destaque do
disco não é mais riffs marcantes, e sim as melodias chicletes acompanhadas de
letras de puro apelo emocional. Tudo se apresenta ainda melhor com a tocante performance
vocal de Ben Barlow, que está melhor do que nunca neste novo trabalho. É de um
jeito energético e inspirador que o Neck Deep nos motiva a viver a vida por
completo. The Peace and The Panic
encara o mundo como ele é, absorvendo todas as frustrações e medos para
produzir uma positividade mais construtiva.
O álbum
já começa com “Motion Sickness”, um
dos maiores destaques da tracklist. Além de ser um grande banho de motivação, a
faixa facilmente conquista os fãs do Neck Deep de longa data, por conta de toda
a energia gerada pelos vocais incríveis de Ben e a guitarra ardente de Sam, que
traz uma sonoridade bem parecida com o grande e tão adorado Life’s Not Out To Get You. A mesma vibe
continua na problematizadora “Happy
Judgemental Day”, que já começa com riffs épicos e prossegue com um clima
bem pra cima e contagiante, com um refrão que vai definitivamente ficar na sua
cabeça por um bom tempo. E não dá para esquecer da forma consistente e simples que
“Heavy Lies” flui, trazendo uma
sonoridade que também resgata as raízes do Neck Deep.
No
entanto, o novo disco não é feito só da mesma pegada de sempre. Apesar de se
manter fiel ao seu som em algumas, a banda foi corajosa para sair de sua zona
de conforto e enfrentar novos desafios ao experimentar novos caminhos na
maioria do disco, que levou o Neck Deep a acertar em cheio em vezes e errar
feio em outras. A romântica “Parachute” é
um bom produto disso, mas “Wish You Were
Here” e “In Bloom” foram as
melhores experimentações do álbum, sem dúvidas. “Wish You Were Here” te pega desprevenido com um clima doloroso e
intimista inspirado na morte de um amigo de longa data de Fil Thorpe-Evans, lembrando de
cada momento que passaram juntos. O baixista nunca tinha se exposto de um jeito
tão puro e especial como este. Do começo ao fim, a faixa passa muita verdade e
emoção de um jeito devastador. É algo completamente novo para o Neck Deep, que
conseguiu construir um hino da bad mais penetrante ainda que “December”.
A
delicada “In Bloom” também é
completamente diferente do ritmo rápido e conturbado dos últimos trabalhos, mas
ainda assim é uma das faixas mais poderosas do The Peace and The Panic. Mesmo tocando em um lado mais pop, não tem
como nenhum fã das antigas negar como essa música é forte pelos vocais, a
fluidez dos instrumentais e a letra empoderadora. A música pinta um clima
extremamente brilhante que se apresenta quase como um maravilhoso sol nascente
pós tempestade. “In Bloom” traz um aspecto
radiante que só intensifica o conceito do álbum. O sentimento de pânico e paz
se fundem em uma produção de tirar o chapéu.
Por
outro lado, apesar de conter faixas ótimas, a tentativa de buscar novos sons
não se concretizou sempre muito bem. Muitas vezes, a banda forçou a barra com
estilos que realmente não condizem com quase nada da essência do Neck Deep,
tornando o álbum um pouco frouxo. A descontraída “Critical Mistake”, por exemplo, apresenta um pop rock que foi muito
longe da identidade da banda, parecendo muito mais uma música do One Direction
do que do Neck Deep de fato. É ouvindo faixas como essas que é bem perceptível
a busca da banda para se renovar com batidas mais chicletes, assim como
aconteceu com diversas bandas de pop punk, como o Simple Plan, porém tomar esse
caminho pode ser bem perigoso. O mesmo acontece com “19 Seventhy Sumthin”, o que é uma pena, porque a faixa possui uma
letra muito bacana e significativa, mas infelizmente toda a melosidade e voz
nasal do Bem torna quase impossível de ouvir até o final. De qualquer forma, apesar
do grande desvio, essas faixas não estragam o álbum por inteiro, afinal The Peace and The Panic possui um
conceito bem forte e algumas faixas particulares que merecem muita atenção.
O que
mais marca o disco é como ele sempre coloca situações de ansiedade e desespero
para trazer uma solução e um pingo de esperança, numa admirável dualidade. E,
de um jeito muito genial, isso também segue na linha musical. Neck Deep soube brincar
com diferentes texturas e vertentes neste novo disco, mesclando entre faixas
mais calmas, indo para ambientes mais ácidos e resultando em águas de pura
reflexão e fé. É, por exemplo, com a maravilhosa ambiguidade entre os riffs pesados,
a velocidade calma e o tom melódico de “The
Grand Delusion” que a banda explora todos os polos de sua esfera musical. Indo
além, toda a adrenalina explode na ácida e mais agressiva “Don’t Wait”, que fica ainda melhor com a adição dos vocais do Sam
Carter da Architects. Por fim, todo o caos se concretiza na última faixa, “Where Do We Go When We Go”, um dos
momentos mais bonitos do álbum.
“Where Do We Go When We Go” começa com um coral doce de crianças cantando e logo estoura
com instrumentais que já mostram o quão épica essa faixa vai ser. A faixa
encerra o disco com a pura essência do Neck Deep, tudo com muito estilo. Os
riffs estão impecáveis, assim como a percussão. Ao seu fim, The Panic and The Peace chega ao seu
auge com uma harmonia muito bem pensada para os shows ao vivo. É fácil de
imaginar todo mundo indo a loucura com essa música nos shows, levando a
multidão a cantar junto. Aliás, aproveitando o momento para: “COME TO BRAZIL,
NECK DEEP”. Mas enfim, nenhuma faixa conseguiria encerrar este ciclo tão bem.
No
geral, não há nada mais interessante do que ver uma banda como o Neck Deep
expandindo sua criatividade artística para uma paleta de cores ainda maior,
tudo realizado de um jeito bem corajoso. Claro que em algumas vezes, ainda
há um pouco de insegurança e erros na escolha de experimentação, o que fará com
que a recepção dos fãs de longa data seja um pouco mais dura, ainda mais com um
álbum antecessor tão memorável. Todavia, ainda é possível ver o grupo crescendo
cada vez mais e cativando uma parte ainda maior do mercado neste novo álbum. The Peace and The Panic é um trabalho
completamente emocionante, inspirador e penetrante para ouvir com a mente aberta
e os olhos fechados. É inegável que cada um dos membros do Neck Deep se
entregou por completo neste disco e é por isso que devemos se sentir orgulhosos
e ansiosos para um novo ciclo que se abre para a banda. AO INFINITO E ALÉM!
Muito bom,espero que conquistem espaço no Brasil
ResponderExcluirExato! É o que nós mais queremos <3
Excluir