Fifth Harmony já possuía dois
álbuns lançados, mas foi só agora com o lançamento de seu terceiro disso, por ventura
autointitulado, que as meninas acharam uma direção firme. Finalmente, o
girlgroup achou uma linha segura que amarra todas as integrantes do grupo em
uma única harmonia.
No final do ano passado, o girlgroup
passou por tempos de crise com a saída de Camila Cabello. Por um bom período,
as meninas já passavam por alguns desentendimentos e tudo parecia muito
turbulento nos bastidores. Elas estavam numa agenda exaustiva e num clima
péssimo para estarem tão presentes na mídia daquele jeito. Por incrível que
pareça, a decisão de Camila de deixar o grupo foi o que colocou tudo no eixo. Ela
pôde se envolver mais com as suas músicas em seu projeto solo e as meninas do
Fifth Harmony puderam trazer um novo momento para o girlgroup. Podemos até
dizer que este terceiro disco marca o renascimento do grupo como um todo. Elas
finalmente se acharam para fazerem um retorno de qualidade que supera qualquer outro
álbum lançado por elas anteriormente.
Não estou tentando comparar as
meninas, afinal todas são muito talentosas, mas sem dúvidas, a voz de Camila
Cabello, apesar de ser muito boa, tinha um tom muito diferente do resto do
grupo, fazendo com que ela se diferenciasse e muitas vezes tirasse atenção das
outras integrantes. Pensando agora, pode-se dizer que nos outros dois discos
elas se comportavam como cinco cantoras solo cantando juntas, e não como um
grupo de verdade. Agora, no entanto, tudo mudou. Fifth Harmony se encontra mais
unificado, com muito mais química e harmonia nas melodias.
Isso tudo é perceptível
claramente na distribuição de solos no novo álbum, que agora está muito bem
feita, e estão explorando bem mais a participação de cada uma, intercalando as
vozes bastante, mesmo que em pequenos trechos. Além disso, o gênero musical do
grupo definitivamente amadureceu. As meninas estão perdendo cada vez mais o
medo de se entregar por completo ao R&B, que floresceu muito bem neste
terceiro lançamento. E pra melhora ainda mais, as meninas não só entregam um
direcionamento mais sólido, como também agora finalmente puderam ter mais
liberdade criativa nas composições. Elas realmente participaram de quase todas
as composições, que não perdem nem um pouco para as de seus últimos álbuns
escritas somente por hitmakers. Sem dúvidas é um recomeço mais coeso para Fifth
Harmony que eleva o nível do grupo para dimensões mais profissionais de pura
evolução.
No álbum, essa mudança é tratada
de um jeito bem delicado, numa linha crescente de transformação. A tracklist
começa com um som mais pop, que já estávamos acostumados, contando com o carro
chefe “Down”, que sem dúvidas é a mais fraca do álbum. Assim que ela foi
lançada, todo mundo a comparou com o ritmo repetitivo de “Work From Home”,
sendo mais do mesmo. A sensual “He Like That” ousa um pouco mais no som, com
uma melodia tropical e vocais mais conexos do que a primeira música, que soa muito
robotizada. Sim, o grupo ainda segue a linha pop comercial de sempre nessas
primeiras faixas, mas, para a nossa alegria, o álbum começa lá embaixo para
evoluir e resultar em algo maravilhoso, então nada de se desanimar pela parte
superficial dos singles.
Continuando com a tracklist,
aquele som mainstream de sempre começa a criar uma forma mais coesa e unitária,
numa suave transição que se dá na refrescante e jovial “Sauced Up”, que é o
primeiro momento que temos uma pequena amostra de harmonias R&B e Urban,
mesmo que de um jeito bem leve. Tudo fica ainda melhor com a poderosa “Make You
Mad”, que viaja por batidas singelas e por harmonias que ganham muita vida no
refrão. Este hino de empoderamento dá uma abertura fantástica para resumir a
essência do Fifth Harmony. Essas duas músicas são os primeiros indícios da nova
identidade do grupo. Com elas, fica bem claro o quanto elas amadureceram
através da nova sonoridade.
O ápice, no entanto, se encontra
nas faixas do meio. É aquela história que falam que o recheio sempre é a melhor
parte, e é verdade para o terceiro álbum do Fifth Harmony. “Deliver” é tudo o
que o Reflection quis ser e não
conseguiu. A faixa esbanja atitude, através de melodias Trap R&B que
aproximam o grupo de uma sonoridade bem próxima do icônico Destiny’s Child,
principalmente pelo soul das harmonias. “Lonely Night” também é um exemplo de
concordância no álbum. A música viaja por diversos climas, de uma pegada mais
ácida, para uma outra mais tropical e um refrão R&B guiado por um sopro
fantasmagórico de harmonias deliciosas de Dinah Jane e Normani. E a tão querida
“Angel” pode também entrar neste recheio. Ela é definitivamente a mais
experimental e exótica do álbum, mas a sua produção é sensacional, contendo as
batidas mais legais da tracklist.
E é claro que não podia faltar
faixas com um apelo mais emocional, não é mesmo? Afinal, a gente ama demais. Não
temos nenhuma “Who Are You” aqui, porém “Don’t Say You Love Me” traz pro álbum
um aspecto completamente genuíno em que as vozes puderam individualmente
mostrar sentimento. A música parece que foi feita diretamente do coração. “Messy”
parece ainda mais pessoal, e eu diria até que é o momento mais vulnerável do
álbum. É tudo muito delicado e sincero ao mesmo tempo. Com certeza, o lado mais
tocante do Fifth Harmony é algo que deve ser explorado ainda mais nos próximos
álbuns, porque é aí que as garotas tem muito potencial para brilhar. Elas
precisam de um destaque mais intimista, mas este é um bom começo.
Por fim, “Bridges” tem uma
proposta completamente diferente e inovadora para o quarteto. Diferente de uma
pegada mais amorosa ou sensual, a faixa de encerramento esbarra com o plano da
política. “Bridges” é dedicada para todos os péssimos acontecimentos destes
últimos meses, incluindo principalmente o Trump no poder. A faixa transmite, de
um jeito muito reconfortante, algo que muitos precisam atualmente: união.
Encerrando o álbum numa linha de “Fighter”, do Gym Class Heroes, e “Send It On”,
do Disney’s Friends For Change, o grupo espalha a mensagem de amor com muita
positividade. O disco termina assim, de um jeito épico e iluminado, deixando
até um gostinho de “quero mais”.
Com seu terceiro disco, Fifth
Harmony levanta uma nova bandeira para o grupo, dando um adeus para as
produções exageradas e abrindo portas para harmonias que trazem a verdadeira
alma do grupo. Está tudo mais coeso e dinâmico, o que nos faz pensar que este
álbum seja um grande divisor de águas para o girlgroup americano. Este álbum é
tudo o que a gente precisava, e o mais importante: é tudo o que o Fifth Harmony
precisava!
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