Um dos dias mais esperados do ano
chegou e já podemos dizer com certeza absoluta que o resultado saiu muito
melhor que a encomenda, pois o novo álbum do Foo Fighters carrega uma
estranheza incrivelmente surpreendente, diferente de tudo que a banda já fez
até hoje. Entenda toda essa esquisitice no nosso review de Concrete and Gold.
Depois do episódio da perna
quebrada, a morte de amigos como Lemmy Kilmister e a eleição de Donald Trump,
Dave Grohl teve muitos motivos para não sorrir e como de costume, o cara
colocou essa negatividade em suas letras, mas de um jeito sutil e muito
criativo. Antes do álbum ser lançado, Josh Homme, amigo de Dave e frontman do
Queens of the Stone Age, foi até o estúdio onde a banda gravava e saiu de lá
dizendo que eles estavam fazendo um disco estranho. Bem, o menino ruivo tinha
razão e você não vai demorar a concordar com ele.
Concrete and Gold é uma salada maluca e extremamente variada, tanto no
quesito influências quanto nas participações, que vão de Justin Timberlake a
Paul McCartney, passando por Alison Mosshart. Aparentemente, a banda andou
ouvindo rock clássico mais do que nunca, pois é nítida a influência de bandas
como Black Sabbath, Led Zeppelin e principalmente The Beatles, que está quase que
literalmente por todo o disco.
“T-Shirt” inicia a experiência
como uma curta e esperta piada irônica e serve apenas de abertura, e assim que
seus menos de um minuto e meio acabam, ela se conecta diretamente com “Run”,
que foi o pontapé inicial para o álbum. Dave explicou que tentou sossegar por
um tempo, mas falhou em ficar longe da música e acabou compondo “Run”, que foi
a primeira faixa do álbum a ser escrita e também a ser lançada. A canção parece
satirizar o estilo de vida americano e é uma das mais características do álbum,
cheia de mudanças de andamento com algumas seções mais cadenciadas e outras rápidas,
provavelmente o melhor lead single que eles poderiam ter nesse trabalho e já pode ser considerada uma das canções mais características da banda.
“Make It Right” não segue a
agitação tão bem e vem um pouco mais morna, influenciada pelo blues e com
Justin Timberlake nos vocais de apoio. O andamento esquisito e a letra
sarcástica não atingem o potencial que a faixa tinha e não a salvam de ser absolutamente
esquecível, algo que é salientado pelo fato de ela preceder duas das melhores
canções do disco, a primeira delas sendo “The Sky Is A Neighborhood”, que também
tem influências do Blues, mas carrega uma letra extremamente criativa e um
refrão absurdamente viciante. Segundo Dave, a parte mais pesada da faixa foi
por conta da banda, já a parte do coral e dos arranjos de cordas foi por conta
do produtor Greg Kurstin, que possui uma veia criativa que tende a experimentar coisas pouco usuais.
Apesar de ter sido estreada ao
vivo há alguns meses, “La Dee Da” foi uma surpresa na versão do álbum, soando
ainda mais pesada e esquisita do que nunca. Com distorção por todo lado, ela é
quase uma prima distante de “White Limo”, faixa semelhante do álbum Wasting Light de 2011. Assim como "Run", a faixa também traz um pouco do rock característico da banda e mistura isso muito bem com o conceito bizarro do álbum. Os vocais de
Alison Mosshart deram um toque fundamental na faixa, assim como na anterior, na
qual ela também participa.
Mostrando o quão instável é o ritmo do disco,
seguimos com “Dirty Water”, que se divide em uma metade morna e calma e outra mais
agitada, bem a cara da banda, com alguns ótimos vocais de Dave e um riff de
guitarra insistente que parece ter sido criado para lhe tirar do sério. Um dos
pontos mais altos da faixa é justamente a transição entre as duas metades, que parece
uma tragédia anunciada, no bom sentido, pela própria letra, uma sacada que só
pode ser descrita como genial. Como se não fosse suficiente, a faixa ainda
conta com vocais de apoio de Inara George, que junto com o já citado Greg
Kurstin, formam o The Bird and The Bee, um duo de indie pop que chamou muito a
atenção de Dave e o fez convidar Greg para produzir o álbum.
Seguindo a mesma grandiosidade,
“Arrows” soa como Foo Fighters tocando uma faixa do U2, com guitarras extremamente
harmoniosas e uma letra profundamente linda, que não só a torna uma das
melhores faixas do disco, mas também da carreira da banda, comparável a outras
grandes canções deles como “Aurora” e “Come Alive”, de 1999 e 2007
respectivamente. Em uma mistura genial de blues e country, a sonoridade de “Happy
Ever After (Zero Hour)” faz o encontro perfeito entre a suavidade do
instrumental acústico e a desilusão presente na letra, que te dão três
minutinhos de descanso entre uma agitação e outra, começando e terminando na
mesma proporção de rapidez, sem fazer cerimônia.
Pela primeira vez em doze
anos, o baterista Taylor Hawkins assume os vocais de uma faixa do Foo Fighters
e assim como da última vez, fez bonito. A bateria ficou por conta de ninguém
menos que Paul McCartney, que gravou sem ao menos ter ouvido a faixa original, se
baseando apenas em um improviso de Dave no violão. Como já era de se esperar, a
combinação desses dois deu vida a uma das canções mais bem construídas do disco
e coincidentemente a mais longa do mesmo, ultrapassando os seis minutos de
duração.
Imaginem uma versão ligeiramente mais pesada e sem piano de “Clocks”
do Coldplay. Conseguiram? Se sim, tenho certeza que soou exatamente como “The
Line”. A faixa é uma das mais otimistas do álbum e traz os três guitarristas em
perfeita sinergia, completando um ao outro do início ao fim, de um jeito
simplesmente sensacional. Um dos grandes destaques da canção é o trabalho
fenomenal de Rami Jaffee nos teclados, agora como membro oficial da banda e não
apenas músico de apoio.
Fechando com chave de (concreto
e) ouro, a assombrosa e obscura “Concrete and Gold” surpreende com uma
sonoridade mais estranha que qualquer coisa já feita pela banda, com seu
andamento arrastado e claramente influenciado por Black Sabbath. A faixa-título
é um tanto destoante em relação ao restante do álbum, mas por outro lado,
representa um lado até então inexplorado da banda e o fato de que esse é o
trabalho mais variado e talvez mais criativo deles, o que obviamente é um ponto
bastante positivo. De maneira um tanto esdrúxula, o álbum termina e nos deixa com
apenas uma única dúvida: o que foi isso?
A estranheza do álbum é um tanto
chocante, mas ela indica uma autenticidade enorme por parte da banda, que vinha
de um álbum morno e não tão criativo. A negatividade novamente deu vida a um disco
maravilhoso, assim como aconteceu em 2002 com One By One, e assim como na época, é fruto de muito trabalho duro.
No final das contas, é um álbum do Foo Fighters.
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