O
inglês, radicado no Brasil, apresenta seu terceiro álbum, Run, que traz
um som moderno, com forte inspiração da década de 1980 e provoca um olhar para
o lado obscuro da humanidade ao falar de autoconhecimento, amor e morte.
Após mais de um ano flutuando
no espaço com o disco Black Moon, Charly Coombes retorna à Terra para o lançamento do seu mais novo
trabalho, Run. Uma mistura de electro rock moderno com
influências dos anos 1980, o álbum apresenta uma sonoridade crua através de sintetizadores, guitarras e bateria.
Além disso, o disco relata sobre os sentimentos
provocados através da experiência de viver em uma metrópole barulhenta e, em
certos momentos, até agressiva, como São Paulo. Aponta para o choque com
o caos depois da jornada catártica no espaço. É tempo de correr.
Embarcando
em uma viagem de autoconhecimento, Run evidencia
o lado obscuro das pessoas.
Porém, nem sempre de uma forma negativa. Afinal, para se ter sombras precisa de
luz. E, dessa forma, na escuridão de Run,
é possível identificar fortes indícios de esperança. Charly fala sobre saúde,
morte, dependência, obsessão e amor. Run,
portanto, é estar de frente à
realidade, encarar os altos e baixos, os amores e temores e sobreviver.
A energia dark,
intensa e, estranhamente, esperançosa, que Run transmite é um reflexo
dos conflitantes anos 80, principalmente na Inglaterra, onde Charly
viveu em um pequeno vilarejo, bastante calmo, próximo a Oxford. Segundo ele,
foi um tempo muito louco musicalmente - fim
do punk, início do new wave e de um som pop duvidoso. Um período
excelente para mudanças. Para ele, 2016,
ano em que Run foi desenvolvido, poderia muito bem se encaixar nos anos
1980 de sua infância.
E, além de
abordar questões individuais no disco, Charly ressalta o momento conservador que o mundo está vivendo em “The Locust”, quinta faixa do
álbum. Já musicalmente, as referências transitam entre The Cure, Ultravox, Talking Heads, The Cars e
David Bowie, que tem a voz identificada na música SPX. Charly
resgatou uma entrevista do camaleão sobre o período em que ele morou em Berlim.
Além disso, a sua
veia cinematográfica pode ser percebida em faixas que poderiam ser facilmente
trilhas sonoras de filmes e séries, como a oitentista Stranger Things.
Run abre com “SPX”, primeiro single do disco, que descreve o fim de Black Moon e a aterrissagem em São Paulo.
Charly fala sobre a experiência de
viver nesta metrópole louca que flutua entre a sanidade e a insanidade.
Vale atenção para a homenagem que o músico faz a David Bowie ao incluir na
faixa um trecho de uma entrevista que a
lenda inglesa deu sobre a vida em Berlim, momento que marcou o início de
uma rehab depois de anos loucos em Los Angeles (EUA). Charly, ao incluir
essa citação, faz uma relação entre a chegada em São Paulo com o momento de
experimentação que Bowie se permitiu enquanto viveu na cidade alemã. “It´s
a very tight life, surrounded by a wall with machine guns… which is forever
coming in on you”, diz Bowie.
Já “When Your Time Comes” fala sobre a necessidade de correr em busca
de uma vida saudável. Com o tempo e o amadurecimento, a importância de
cuidar da mente e do corpo se faz cada vez mais presente e necessária. Charly
aponta que o homem precisa se adaptar sempre para tirar o melhor da vida, senão
coisas ruins podem acontecer. Afinal, se escorregar a morte está bem na
esquina. É urgente o brinde à saúde.
Enquanto isso,
“Darkroom”, aponta para aqueles momentos
em que a corrida é em direção à escuridão. Quando os desafios cegam,
petrificam. Charly fala sobre o
"pequeno espaço escuro" que se forma quando fechamos os olhos, o
divisor mais próximo que temos do mundo interior e exterior. Que, por
mais que represente um momento de aflição, é, ao mesmo tempo, confortável e
seguro. Nesta terceira faixa, inclusive, tem uma frase em português que diz: "Agora é a hora mais escura da minha
vida".
“Fool”,
quarta música do álbum, aborda sobre a
auto rejeição e falta de confiança, algo que todas as pessoas já passaram em
diferentes momentos pela vida. Musicalmente, é bem semelhante a Black
Moon, remete a Silence & Purpose.
E em meio a
tantos sentimentos confusos, que ao mesmo tempo refletem uma fase de
amadurecimento, em “The Locust”
Charly fala sobre a face conservadora
que o mundo tem apresentado através de acontecimentos como o Brexit na
Inglaterra, a eleição de Donald Trump nos EUA e o golpe à democracia que o
Brasil viveuem 2016.
Charly
critica a visão massificada que as pessoas embarcam ao serem influenciadas pela
grande mídia e também a forma egoísta em que enxergam somente o que é
interessante para a classe social que pertencem. Fala ainda sobre como
não sabem lidar com opiniões diferentes o que as tornam margeadas a bolhas
sociais. “The Locust” é um ataque às instituições corruptas e às
mentes doentes das pessoas. Inclusive, as linhas raivosas da música não
pretendem, em nenhum momento, dizer aos brasileiros o que fazer ou como viver,
contudo, é um lembrete de que a democracia e a liberdade estão correndo grandes
riscos no mundo todo.
Já “Moving Lines” é
sobre as diferentes versões que os indivíduos têm de si mesmos. Como
cada escolha interfere no caminho e em uma infinidade de acontecimentos
futuros. Mais uma vez ressalta a
importância de cuidar da saúde e levar uma rotina mais harmoniosa com o corpo.
Charly fala de
amor em “Love is Science”. Discorre sobre
quando dois indivíduos se conectam e
passam a trabalhar como uma só máquina. Um olhar científico sobre o
amor, enquanto a oitava música, “Roots
to Rust”, traz à tona a paixão platônica. Porém sem dor, é o dom de
quem encontra a paz no amor solitário.
Em direção ao final do disco, “Like a Sinking Ship”, fala sobre ter um lugar para retornar após a jornada, sendo este físico ou emocional. Um porto seguro. Já “Goldmine” reverencia o amor não romântico. Aborda todas as facetas deste sentimento, sejam boas ou ruins.
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