No meio de lamentações e corações
partidos, Niall Horan aquece o nosso coração com melodias pop acústicas em seu
álbum de estreia, Flicker.
Após a pausa com o One Direction,
Niall Horan também se dedicou à sua carreira solo e suas composições autorais,
assim como os outros meninos. Zayn seguiu uma linha urban, enquanto Harry ousou ainda mais com o seu lançamento
refinado com influências do classic rock.
Louis e Liam ainda estão moldando suas trajetórias, mas provavelmente já
possuem um caminho: o electro-pop.
Niall Horan, por sua vez, decidiu lançar algo mais intimista, com variações de country e folk que dão vida ao tema de coração perdido do disco. O resultado
disso foi surpreendentemente sensacional com o seu álbum de estreia, Flicker, em que podemos ver vários lados
do cantor que não conseguíamos ver tão bem quando ele dividia as composições
com mais outros quatro vocais. É no meio de variações entre chamas melancólicas
e inspiradoras que Niall Horan faz o seu debute de forma memorável.
Com “On The Loose”, o álbum
começa de um jeito animado, que flui como um pop retrô delicioso, lembrando muito
a sonoridade de Maroon 5 e Fleetwood Mac em seus anos de ascensão. Acompanhado de uma percussão muito amigável e
relaxante, Niall Horan inaugura a tracklist mandando um alerta sobre a sua
ex-parceira que quebrou seu coração, porém aqui é tudo executado de um jeito
bem dançante e descontraído, algo que não é mantido durante todo ao disco
devido ao conceito de Flicker, que
explicarei mais pra frente. Tal repetição só acontece depois em “Since We’re
Alone”, canção que viaja por um soul rítmico retrô maravilhoso. Tal faixa
poderia muito bem fazer parte do novo álbum do Harry Styles, por exemplo.
A instabilidade do emocional do
cantor já é revelada através das variações entre os ritmos da músicas, assim
como já acontece de cara ao irmos de “On The Loose” para “This Town”, o carro
chefe stripped down do disco em que Niall
Horan mostra não estar tão bem resolvido com o seu romance perdido, diferente do
que mostrou na primeira música. Em “This Town”, o cantor é acompanhado somente
de um violão e da letra de quebrar o coração, toda bem trabalhada em uma linha
bem poética.
Em “Seeing Blind”, Niall Horan se
junta a Maren Morris para resgatar aquela sensação de estar apaixonado em um
dueto country extremamente doce e romântico. A música é apaixonante e traduz
perfeitamente a faísca do amor, se concretizando em uma mistura muito intensa, explosiva
e iluminada. Na seguinte, “Slow Hands”, Niall mantém o ritmo pra cima, porém
dessa vez deixando o violão um pouco de lado e experimentando um pouco mais do
seu lado caloroso e sensual que nunca havíamos visto antes. A canção explora
também a sensação de estar apaixonado e namorando, porém dessa vez seguindo uma
linha mais corporal do sex-appeal.
Explorando o rock clássico dos anos 80, o cantor executa tudo de forma estável
e confiante, entregando um groove
prazeroso bem funky.
O tema de amor perdido, muito
recorrente durante todo o álbum, volta na harmoniosa country-friendly “Too Much To Ask”, que possui uma pegada muito
semelhante a de Hunter Hayes – o jovem country que fez um tremendo sucesso com “Wanted”.
Com a mesma temática, a iluminada “Paper Houses” aparece como um leve sopro folk
no álbum que, acompanhada de letras impactantes como “Why do
we climb and fall so far?”, dá vida à decepcionante experiência
de depositar as esperanças em alguém e acabar se desiludindo e perdendo tudo o
que tinha com essa pessoa, seguindo a mesma ideia usada em “Long Way Down” –
música do One Direction.
Temos muitas músicas tristes no
álbum, mas nenhuma é tão devastadora como “Flicker”, a faixa que dá nome ao
álbum. Niall Horan transmite tão bem o sentimento na música, que facilmente nos
deixa de coração partido. Aqui foi onde eu percebi o conceito do álbum, através
do verso “There's a light in the dark / Still a flicker of hope
that you first gave to me”. Neste momento, o cantor conta que sua paixão,
ao partir, só deixou uma “cintilação” de esperança consigo. Tal termo é usado
para descrever rápidas variações de cor e brilho de uma luz. Observe uma vela
acesa, e você verá como aquele fogo é frágil e instável. E é exatamente baseado
neste conceito que Niall brinca durante todo o disco. De um jeito bem delicado
e efêmero, Niall Horan representa essa cintilação através de diferentes
texturas, sentimentos e ritmos. Depois de passar por um término difícil, Niall
Horan consegue traduzir exatamente o sentimento de perda, que se resume em
flashbacks, dor e muita reflexão. Às vezes a sua mente atua de um jeito positivo,
com pulsações mais felizes, porém em muitas outras, todo o clima doce e
romântico se transforma em algo extremamente amargo e desolador. O álbum é a
própria “cintilação” que restou do seu relacionamento, e isso explica o seu
nome e o seu conteúdo variável, que viaja por diferentes polos.
A inspiradora “Fire Away” traz um
soul único ao disco, englobando até
mesmo influências do jazz. Este é um
dos momentos mais preciosos do álbum, possuindo a maior transmissão de luz
também. Mesmo com o seu coração extremamente machucado, Niall Horan se
posiciona a dizer que está lá para a sua pessoa amada, propondo uma conversa
amiga, caso venha precisar de ajuda. A mesma leveza permanece em “You And Me”,
que possui uma guitarra amigável num tom americana,
abrindo alas para um som extremamente maduro. A maturidade dessas últimas
músicas também vão crescendo através das letras, que agora não são somente de
lamentações, mas sim grandes amostras de positividade. E do mesmo jeito que ele
mostrou sua confiança em um relacionamento durante “Slow Hands”, agora ele
mostra ser confiante e seguro em estar sozinho em “On My Own”, uma faixa country-rock com influências do folk irlandês e da pegada empolgante à
la Bon Jovi. A pulsante “Mirrors” coloca o protagonista agora refletindo sobre
o amor, de um jeito extremamente intenso e ardente. Mas a reflexão final fica
por conta de “The Tide”.
“The Tide” encerra o álbum
descrevendo as idas e vindas de seus sentimentos como uma grande maré que vai e
vem, de um jeito furioso e inesperado. Com um ritmo animado, ele implora “Don’t let the tide come and wash us
away”. Executando tudo de forma grandiosa, com um instrumental dramático
e emocionante, Niall Horan coloca um ponto final com muita personalidade. A
música será perfeita para encerrar sua turnê de um jeito icônico e memorável,
da mesma forma que este disco termina.
Sobretudo, com um conceito muito
bem trabalhado e uma sonoridade orgânica admirável, Niall Horan conseguiu uma estreia
muito original. Temos algumas composições que lembram o seu trabalho com o One
Direction, como “Too Much To Ask” e “Since We’re Alone”, porém em sua maioria,
o cantor consegue construir seu próprio reinado com faixas bem consistentes e
diferentes das que tinha com a boyband, como em “Slow Hands” e “On My Own”. Assim como aconteceu com Harry Styles, Niall
soube pegar suas influências e transformar suas composições em obras de artes poeticamente
grandiosas. É interessante ver artistas mais jovens aderindo à diversas
variações da música, brincando mais com os instrumentos e, cada vez com mais
frequência, saindo da camada superficial e dominante da música pop. Precisamos
de mais discos como Flicker e mais
artistas como Niall Horan.
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