O maior rapper dos últimos tempos
está de volta, muito mais solto e direto como não víamos há mais de uma década,
acompanhado de uma sonoridade extremamente inovadora e várias participações. Confira o nosso review de Revival,
o novo álbum de estúdio de Eminem.
Em outubro desse ano, depois de
humilhar Donald Trump (e todos que o apoiam) em rede nacional, Eminem subiu
novamente a um patamar em que não esteve desde a época do disco Encore de 2004, chamando a atenção de
todos para si e preparando o terreno perfeito para um retorno triunfal.
No início de novembro, Eminem voltou
deliberadamente agressivo e de supetão nos entregou o single “Walk On Water”
que não agradou muita gente e foi tudo o que tivemos do álbum até 8 de
dezembro, quando a faixa “Untouchable” foi liberada como single promocional, finalmente
conquistando o público.
Isso nos traz a 15 de dezembro,
dia de lançamento do álbum, juntamente com o segundo single “River”. Tudo
conspirava a favor de Eminem nesse novo lançamento e, apesar do álbum ter
vazado na internet dois dias antes, as vendas aparentemente não foram nada
prejudicadas.
O álbum abre com a já citada “Walk
On Water” que trouxe algo totalmente diferente de qualquer coisa que ele já tinha
feito na carreira. Infelizmente o diferente não foi tão bom e, apesar das
letras do rapper continuarem sensacionais e da ótima performance de Beyoncé, o
instrumental da canção, que conta essencialmente apenas com um tímido piano,
não agradou muito.
“Believe” vem como um tiro logo
na sequência e não te dá espaço para respirar, com Eminem explorando um estilo
mais cadenciado de rimas em cima de um instrumental essencialmente calmo. O
rapper expões suas fraquezas e frustrações, fazendo até referências ao seu hit “Cleanin’
Out My Closet” de 2002. A canção é bastante semelhante ao estilo característico
de Kendrick Lamar, algo que se repete em “Chloraseptic” que vem logo em
seguida, contando com a participação do rapper Phresher. Em contraste direto com
“Believe”, a faixa mira muito mais no fato de Eminem ser ‘difícil de engolir’, mesclando
o instrumental moderno com o estilo clássico do rapper, uma combinação que deu
muito certo.
“Untouchable” vem atirando sem dó nos policiais
que abusam de autoridade, trazendo um refrão irônico e versos extremamente diretos
em relação ao assunto e relembra o caso de Rodney King (injustamente espancado
pela polícia em 1991), tirando até sarro do infeliz episódio. O instrumental da
primeira seção traz o famoso estilo oldschool baseado em samples, com o da
segunda parte sendo mais semelhante aos usados em The Eminem Show e Encore.
Retornando ao tipo de canção que
atraiu muitos fãs no início da década passada, Eminem e Ed Sheeran colaboram
pela primeira vez no segundo single do álbum, “River”. A faixa tem uma ótima
letra sobre um relacionamento onde uma mulher descobre que seu namorado está
lhe traindo e usa Eminem para fazer o mesmo, mas acaba ficando grávida do
rapper e por conta do desinteresse do mesmo, acaba abortando a gravidez. Histórias
trágicas sempre foram temas recorrentes nas músicas de Eminem e parece que nada
mudou. A ótima participação de Ed Sheeran surpreendeu até mesmo quem não
gostava de seu trabalho.
“Remind Me” conta a história do
início da relação volátil de Eminem e sua ex esposa Kim, quando eles não tinham
preocupações, eram ambos cegos de amor um pelo outro e isso era tudo que
importava. A base da música é feita em cima da versão de Joan Jett & The
Blackhearts da canção “I Love Rock and Roll”, que foi usada de forma a
completar os versos de Eminem, uma sacada genial.
Patriotas como nunca, Eminem e
Alicia Keys idolatram os Estados Unidos em “Like Home”, criticando fortemente Donald
Trump, algo que o rapper já provou adorar fazer, sendo ‘nazista’ o nome mais
amigável pelo qual o rapper chama o presidente. Como não poderia ser diferente,
o instrumental apela para o lado pop, provavelmente para que a canção toque nas
rádios e a mensagem da letra tenha mais chances de se espalhar, afinal Eminem é
tudo menos bobo.
“Bad Husband” funciona como
segunda parte da história que começa em “Remind Me”, falando sobre como o
relacionamento de Eminem e Kim se deteriorou e sendo uma espécie de pedido de
desculpas de Eminem por todo o mal que o mesmo causou à ex esposa, não só por
faixas como “Kim” e “Puke”, mas por toda a turbulência que a vida
pública do rapper causou na vida dela. Provavelmente uma das melhores composições
do rapper até o momento.
Colaborando lindamente com Skylar
Grey que também produziu e compôs outras faixas do disco, Eminem fala sobre um
relacionamento onde a mulher está sempre diminuindo o homem ao invés de
encorajá-lo a enfrentar seus desafios, tema que já foi abordado por ele no hit “Love
The Way You Lie”. A participação de Skylar Grey novamente é ponto alto do
disco, casando muito bem com o tema da faixa e com o estilo da canção.
Dando um gostinho de Slim Shady
para os fãs, “Framed” fala ironicamente de um caso fictício onde Eminem é
acusado de homicídio por conta de uma letra onde ele “acidentalmente” descreve
perfeitamente a cena do crime, apesar do mesmo declarar que foi apenas uma
infeliz coincidência. A faixa volta ao estilo horrorcore, altamente explorado por
Eminem em seus primeiros dois álbuns e supre muito bem a nossa falta de faixas
com a persona maluca do rapper.
“Nowhere Fast” é uma faixa um
tanto rara na carreira de Eminem, sendo otimista até demais para os padrões
dele, falando sobre tudo ter um lado bom e sobre lutar sem jamais desistir dos
seus objetivos. O clima da canção casa bem com a proposta do álbum e os vocais
da cantora Kehlani são um dos pontos mais altos da faixa.
Cheia das referências a Kim
Kardashian, Rick Rubin, Rick Ross e ao filme Boogie Nights, “Heat” traz uma letra
absolutamente sensacional, ao melhor estilo irônico e maluco do rapper,
contrastando totalmente, segundo ele, com o disco Relapse de 2009. Uma das melhores faixas do álbum sem sombra de
dúvida.
Direta e agressiva, “Offended”
traz novamente insultos a Donald Trump mas também acompanha referências a outros
criminosos famosos como Bill Cosby, Justin Ross e Tommy Lynn Sells. A faixa
mostra que Eminem claramente não está afim de deixar o presidente em paz e irá
incomodá-lo sempre que tiver a oportunidade.
P!nk, colaboradora de longa data
de Eminem, aparece em mais uma faixa sensacional do rapper, dessa vez sobre
relacionamentos tóxicos, onde um não confia no outro, mas não têm coragem de
dar um fim na relação. De novo, P!nk se mostra uma artista fenomenal e representa
um grande destaque no álbum.
“In Your Head” revive o clássico
refrão de “Zombie”, hit de 1994 da banda The Cranberries, e em cima disso, Eminem
expressa sua frustração com o alter-ego Slim Shady e mostra um grande remorso
em relação a certas letras que escreveu no passado. Apesar do tema parecer
complexo, a canção dura pouco mais de três minutos e deixa um gosto amargo por
terminar tão de repente.
Outro tema recorrente é novamente
abordado por Eminem em “Castle”, que é dedicada à sua filha Hailie. Eminem
expressa seus pensamentos sobre vários assuntos, como o fato de que Hailie terá
que lidar com letras mórbidas onde ela é citada, como “Kim” e “’97 Bonnie &
Clyde”, e também fala sobre a forma como Eminem expôs a conturbada vida familiar
deles, mesmo com a filha sendo tão jovem. Pela primeira vez, o rapper fala de
forma madura sobre o assunto, um ponto muito positivo da faixa.
Guardar o melhor para o final
parece ter sido levado a sério, pois “Arose” é uma das melhores letras da
carreira de Eminem e expõe seu lado mais vulnerável e frágil, fazendo uma
retrospectiva de sua vida inteira, falando sobre sua família, sobre sua
overdose em 2007, que quase o levou à morte e todos os momentos que ele teria
perdido se tivesse morrido naquele dia. Ao final, a canção “volta a fita” e retorna
ao instrumental de “Castle”. Eminem se abre como o público e explica que apesar
de como a mídia o descreve e de como as coisas aconteceram, ele é uma boa
pessoa e o passado não faz parte do presente, dando um fim na figura caricata que
anos atrás foi criada. Sem dúvidas o melhor encerramento possível para um álbum
grandioso.
Para quem achou que a carreira de
Eminem tinha acabado em The Marshall
Mathers LP2, Revival serviu como
um soco na cara da mídia e um presente mais do que especial para os fãs do
rapper, além de ter sido mais um capítulo de uma carreira genial. Seja você fã
do Marshall Mathers, do Slim Shady ou do Eminem, Revival é um disco pra você.
Excelente crítica, parabéns...visão perfeita de todo o album, parecem que conseguiram de fato ler exatamente o que o Eminem queria passar em todo o CD!
ResponderExcluirMuito obrigado!
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