Depois da grande
espera para o novo disco, Fall Out Boy nos surpreendeu com o inovador Mania,
que dá um caminho nada convencional para o pop rock enérgico da banda. Mas a
grande questão é: o resultado dessa transformação foi positivo?
Não é de hoje que
Fall Out Boy, a grande queridinha da cena pop punk/emo de 2008, vem
experimentando um som mais radiofônico, e, de fato, isso continua no
recém-lançado Mania, o mais novo disco da banda. Porém, agora isso
toma uma dimensão completamente diferente. Desde o retorno do tão dolorido
hiato do grupo, o quarteto vem evoluindo de maneira extraordinária, mas
finalmente esse novo som parece se concretizar em algo completamente único e
moderno para o universo rock: o experimentalismo com o EDM, porém ainda
mantendo o estrondoso e enérgico som da banda de sempre, sem parecer algo raso
em momento algum. E é por isso que Fall Out Boy não cairá no esquecimento tão
cedo. A banda continua se renovando e se adaptando às novidades da cena
musical. E, especialmente nesse disco, esse esforço é muito claro, vindo de
cada integrante, sem exceção.
A banda traz uma
produção e mixagem completamente ambiciosa. Foram datas adiadas e muito
trabalho duro para que o quarteto conseguisse um disco completamente sólido e
consistente do qual eles pudessem se orgulhar. A entrega, portanto, é
maravilhosamente apresentada de corpo e alma. Patrick Stump dá aquela energia
de sempre com suas expressões vocais ferozmente fortes, nos dando muitos
arrepios ao longo do disco. Joe Trohman traz toques de guitarras bem marcantes
e pesados, algo que sentíamos falta nas músicas mais recentes da banda. Andy
Hurley tem a importante função no álbum de criar uma percussão extremamente
inovadora e diversa, encarando o desafio de equilibrar o disco com batidas
épicas tanto para o pop, quanto para o rock. O equilíbrio entre os dois gêneros
se deve muito a ele, sem dúvidas. Pete Wentz, por sua vez, tem o maior momento
da história do Fall Out Boy, se destacando com linhas de baixo épicas em quase
todas as faixas, mas principalmente em “Church” e “Sunshine
Riptide”. Os instrumentais como um todo estão no ponto, e só de ser fã da
banda, posso ainda afirmar que as versões ao vivo devem ficar ainda melhores do
que a estúdio. Os caras ficam monstruosos no palco.
Sem dúvidas, “Young
And Menace”, o carro-chefe do álbum foi o grande divisor de águas para essa
nova linha sonora do Fall Out Boy. Assim que lançada, a música chocou muitos
fãs, e eu estou incluído nessa linha. No começo, eu havia ficado confuso,
porque parecia que faltava uma linearidade. Eles queriam manter o rock ou
partir mesmo para o pop, dando um passo para o EDM? Realmente, uma primeira
escolha bem arriscada para single, mas era isso que a banda queria: os dois
lados. Nessa música, a banda realmente apresentou um pouco dessas duas
vertentes que o álbum seguiria e, apesar de muito experimental, a faixa cresce
em você de um jeito indescritível e ainda apresenta o conceito de “insanidade”
do disco muito bem, então por que julgá-la? Aliás, falando no conceito, através
das letras de empoderamento, o disco traz algo muito inspirador e encorajador
com a energia do instrumental e letras como “If I can live through this/I can
do anything” e “The only thing that's ever stopping me is me”. É uma
grande batalha pela sanidade e tranquilidade. É violento, emocionante e
inspirador.
Esse clima de
selvageria se mantém em faixas como “Champion” e “Stay
Frosty Royal Milk Tea”. A primeira flerta com riffs de guitarra bem
icônicos, com melodias que a faz parecer como uma irmã perdida de “Centuries”.
A segunda já constrói a tensão mais empolgante do álbum, com uma bateria bem
marcante, que se junta com o baixo e a guitarra para criar o clima mais sombrio
e enérgico do disco, tendo aquele tempero único do Fall Out Boy. É sem dúvidas
a faixa mais grandiosa do álbum. Todavia, o lado pop do grupo é muito bem
apresentado pela animada e refrescante “HOLD ME TIGHT OR DON’T”,
trazendo até uma atmosfera bem dançante ao explodir o refrão com um ritmo, que
lembra a linha K-POP atual.
A maravilhosa
fusão acontece em uma só música, na iluminada “The Last Of The Real
Ones”, que ao mesmo tempo que traz versos mais doces acompanhados de um
delicado piano, também traz um refrão rápido guiado por um toque bem forte de
guitarra no refrão. A música é a grande prova que esse experimentalismo do Fall
Out Boy tem dado muito certo. Trata-se de uma faixa agressiva e simpática que
traz um crescente que pega fogo. A divertida “Wilson (Expensive
Mistakes)” também apresenta essa dualidade, com um instrumental coeso
e uma das melhores letras do disco. I mean, tem como não enaltecer o “I’ll stop
wearing black when they make a darker color”?!
Depois de uma grande
dose de insanidade, com o mais maravilhoso caos que você vai ouvir na sua vida,
temos os momentos mais inesperados do álbum: “Church” e “Heaven’s
Gate”. “Church” traz um certo tom de delicadeza e
amargura, entregando a produção mais elaborada do disco. Temos o clímax
entrando em combustão por um coral, órgãos, linhas de baixo geniais e é de
arrepiar do começo ao fim. Sem dúvidas, é um dos grandes tesouros do
disco. “Heaven’s Gate”, por sua vez, dá luz ao caos com seu tom
angelical. De um jeito emocionante, Fall Out Boy apresenta um clima romântico
muito particular, se tornando uma das melhores baladas da carreira do grupo.
Ao fim, temos a
experimental “Sunshine Riptide”, que traz um baixo predominante
durante toda a faixa. Talvez não seja um dos pontos fortes do disco, mas Pete
Wentz faz a música valer a pena e até quase nos faz esquecer da estranha
participação que Burna Boy teve na faixa. Mas para encerrar, aquela energia do
começo volta com tudo com “Bishop Knife Trick”, que combina
diversos gêneros em uma só obra de arte. Temos um toque de rock, electropop e
até um tom soul vindo dos vocais do Patrick, que brilha nessa faixa de forma
incrível.
De uma coisa temos
certeza: Mania não é um disco comum. A banda modernizou seu
rock de sempre para algo incrivelmente dinâmico e sofisticado. A intensidade da
banda nunca esteve com tanta força desde seu retorno. Parece até que esse álbum
é um tipo de Nescau para se tomar numa manhã de segunda-feira. Com esse
trabalho, sabemos que Fall Out Boy é uma das bandas da indústria que mais sabem
construir adrenalina e inovar, sem ao menos perder seu DNA.
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