“Little Dark Age”: o promissor recomeço de MGMT!


MGMT, o duo referêrencia do indie rock psicodélico, está de volta após quase cinco anos do lançamento do último disco. O novo álbum, Little Dark Age, marca um retorno glorioso para a dupla americana.

Quem é fã da banda, já viu Andrew e Ben passarem por grandes contrastes durante sua carreira. Desde o primeiro disco, Oracular Spectacular, MGMT foi perdendo um pouco de sua fórmula, principalmente no último álbum auto-intitulado, que foi onde a dupla perdeu a direção por completo. Porém, agora, o duo se mostrou maduro e pronto para narrar essa trajetória de tentativas e experimentalismos em Little Dark Age, um disco coeso, inesperado e extremamente fiel às raízes da banda.

Para o novo material, MGMT soube colorir e traduzir suas músicas em uma psicodelia que flerta com um retrowave e um funk que rodeava o final da década de 70 e começo de 80. Evitando seguir uma linha frouxa a todo momento, o duo dá vida à “She Works Out Too Much”, que abre a tracklist já nos mostrando que a espera de anos valeu muito a pena. 


Já o carro-chefe, que dá nome ao disco, traz uma atmosfera mais áspera e amarga, enriquecendo o álbum com um clímax e tensão de outro mundo. Em seguida, “When You Die” tem o contraste mais interessante da compilação, com um instrumental doce, ironicamente feliz, e letras de origem mais pesada. A interpretação da banda é maravilhosa, trazendo algo que você nunca viu antes. É como se um psicopata pegasse um violão para tentar tocar uma música feliz em um circo. Exótico, não é? Pois é, mas os melhores tesouros vêm da estranheza quando se trata de MGMT.


Little Dark Age também traz um lado mais delicado com a doce “Me and Michael”, uma faixa que não poderia nunca fazer parte do abundante último álbum. Essa faixa traz uma brisa simples, porém bem refrescante, com um instrumental aveludado por nostalgia que vem direto dos anos 80, assim como acontece em “James”. Essa última também repete o romantismo de “Me and Michael”, com o mesmo instrumental clássico oitentista, porém com uma melancolia mais iluminada do que a primeira, devida ao tom barítono maravilhoso de Andrew, que parece colocar sua alma na música ao homenagear o guitarrista da banda, James Richardson.


Falando sobre o tempo passado no celular, com uma temática bem pertinente à atualidade, a dupla descola também a reflexiva “TSLAMP”, que revive uma certa sonoridade euro-pop. Também não podemos deixar de dar o devido destaque ao experimentalismo surpreendente de “Days That Got Away”, o grande show instrumental que traz texturas completamente artísticas provenientes do vaporwave.

Chegando já ao fim do disco, temos a enérgica “One Thing Left To Try”, a faixa que representa bem todo o esforço e força que o duo colocou para se reerguer após o último álbum, se aproximando muito mais da qualidade impecável de Oracular Spectacular e Congratulations, os dois primeiros discos do MGMT. A faixa traz aquela vibe nostálgica e contagiante que o duo trazia nos primeiros hits, com um clima perfeito para encerrar um set no festival – por que não o do Lolla 2019, aliás, não é mesmo? –, mas esse é o último número agitado do álbum, porque o encerramento é executado de forma inspiradora com as mais lentas “When You’re Small” e “Hand It Over”. A primeira traz um clima mórbido e introspectivo, que reflete sobre os altos e baixos da vida, terminando em um final orquestral que leva à divina “Hand It Over”. Ela, por sua vez, encerra o álbum com uma mensagem de esperança para um recomeço da banda e do mundo como um todo. É uma faixa empoderadora que comprova o fato de que Little Dark Age veio para impactar a Indústria de forma muito positiva. 



Após tanta expectativa, MGMT tomou o tempo certo para agradar os fãs com esse quarto disco da carreira. Sem abusar muito do synthpop, usando-o numa escala mais simplória e se inspirando em técnicas ointentistas do synthwave, o duo conseguiu produzir um disco consistente e refinado o suficiente para se reerguer e mostrar a mesma qualidade apresentada em 2007, com o álbum de estreia. A dupla fez a catarse de todas suas tentativas e fracassos para fazer um material completamente brilhante do começo ao fim, com músicas pessoais e nada convencionais. Eles finalmente conseguiram novamente mostrar a autenticidade artística pela qual nos apaixonamos nos primeiros trabalhos. Little Dark Age é, sem dúvidas, um grande e promissor recomeço para MGMT. 


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