Girassol é muito mais do que o álbum de estreia
de Kell Smith. O disco, com 14 músicas, está sendo lançado agora, neste abril
de 2018 – mas é um trabalho que significa bem mais do que você imagina. De
forma muito genuína, a cantora coloca a sua alma nas músicas em um trabalho
humano muito singular que promete emocionar e impactar muita gente.
O álbum, com produção assinada por Rick Bonadio,
reúne cinco inéditas, além das músicas lançadas em seus EPs anteriores, aquelas responsáveis por elevar Kell ao primeiro escalão
dos artistas brasileiros, isso só em um ano. Ele basicamente é uma declaração
pura de amor de Kell à arte e à vida. Em meio ao marasmo morno do mercado que
raramente diz alguma coisa, a cantora não tem medo de expor todos os seus
lados: desde sua rebeldia até seus sentimentos mais bonitos.
A sinceridade e a maneira crua que ela aborda
diversos temas do nosso cotidiano certamente cria laços duradouros entre o
ouvinte, algo importantíssimo para um álbum de estreia. Como uma artista no
começo de sua carreira consegue proporcionar uma conexão tão forte com seu
trabalho e chegar a um sucesso grandioso? Isso só Kell Smith saberia responder,
mas certamente a resposta estaria relacionada à simplicidade e verdade da vida, algo que, convenhamos, é muitas vezes trocado pelo exagero e irreal hoje em
dia, pelo menos no mundo da música.
“Mais do que meu, Girassol é para entregar para as pessoas algo completo. Significa para mim não perder a magia das coisas essenciais, obras na íntegra, como sempre fizeram os artistas que tanto venero. O mundo está ficando acostumado a receber as coisas picadas, ainda mais na música. O CD é a demonstração de que quero entregar o produto completo”, diz Kell.
Ela surgiu com o sucessos absurdo de “Era uma
Vez” e “Respeita as Mina” (virou até lema do Corinthians). A
primeira se tornou rapidamente a canção mais ouvida do país, enquanto essa última serviu perfeitamente como um hino feminista, que trouxe uma composição justa suficiente para
nomear a cantora como uma das maiores cronistas atuais que abordam o cotidiano,
relacionamentos e a vida.
Logo no começo do disco, percebemos que cada frase
que ela coloca é digna de reflexão. Pegue por exemplo a inédita que inicia e
batiza o álbum. “Eu quero aquela vida que a gente inventa antes de dormir”,
“Cada um só tem a vista da montanha que escala/(...)Tenho medo de não ser o
melhor de mim/E giro para onde gira o sol”. Quer poesia mais adequada que
essas? Não tem. “Girassol” já abre o material de forma iluminada e
positiva.
Em seguida, temos a também inédita “Ai de Mim”,
que traz um ambiente mais refinado ao álbum, proporcionado pelos vocais
teatrais, arranjos de metais, guitarra e teclado vintage. A mesma fórmula é
aplicada em “Diferentão”, dessa vez com pedal steel e influências do
ska, que traz um swing muito único e refrescante ao material.
Em “Era uma Vez”, faixa já adorada pelo público, Kell traduz o resgate à infância
de maneira muito genuína. A identificação com a música é quase que universal,
fazendo dela um tesouro com uma conectividade muito preciosa. Não tem jeito:
essa canção será eterna nos nossos corações e sempre cairá como um abraço
quentinho. Mais uma vez, vemos a cantora fazendo o que faz de melhor: falando o
que nosso coração precisa ouvir.
Girassol também é muito bem representado pelas
baladas apaixonantes, como é o caso das inéditas “Capuccino” e “Respira
Amor”, que exalam charme através da linha suave guiada por piano e violão. Nesse
mesmo caminho temos as lentinhas que já conhecíamos, como a encantadora “Nossa
Conversa”, a delicada “Maktub”, a cativante “Meu Lugar” e a inspiradora “Viajar é Preciso”. Em
todas elas, Kell expressa um dos sentimentos mais bonitos do mundo de uma forma
leve, poética, criativa e, como todas as faixas do disco, muito verdadeira. É
realmente mágico ouvir as palavras e melodias da cantora ecoando pelo fone de
ouvido de forma tão majestosa.
Porém a cantora não se
limita ao violão, piano e letras mais românticas. Aliás, ela vai muito além disso
ao levantar sua bandeira e defender muitas causas sociais importantes, como o
feminismo, sem ter o medo de colocar o dedo na ferida de muitos e exalar sua
rebeldia de forma nua e crua. “Respeita
as Mina” é o momento mais explosivo do álbum. A gente fica
de queixo caído com a quantidade de verdades ditas de uma só vez, tudo com seus
versos de rap impressionantes. Kell realmente dá uma aula de empoderamento
feminino, respeito e igualdade. O mesmo se repete em “Marcianos”, faixa inédita genial que traz também esse
lado mais rebelde da cantora através de um Hip Hop sem igual e e muitas
críticas direcionadas à sociedade como um todo. Músicas como essas enaltecem a
natureza da cantora de desconstruir padrões e rótulos com muita facilidade.
Chegando ao fim, nos deparamos com “Sete
Galáxias” junto à sua composição impecável
que nos faz repensar sobre o jeito que estamos vivendo a vida. Por fim, Kell
Smith transmite todas as suas cores em “Coloridos”, faixa que traz um som bem amarrado que
viaja entre o R’n’B, Soul, Jazz e Hip Hop. A música traz uma narrativa
de amor e aceitação, encerrando o disco de maneira incrivelmente positiva e
expressiva. O trabalho humano da cantora nos faz refletir, abraçar todas as nossas
cores, sem preconceitos, e acima de tudo, viver.
Girassol deixa
claro que Kell Smith é uma das maiores artistas que temos no cenário
brasileiro. Precisamos de alguém como ela no mercado. Alguém que use melodias
doces e cativantes para expressar a natureza humana de um jeito cru e sincero. Acima
de toda sua personalidade musical e artística, a cantora nos cativou pela sua
alma, que é facilmente sentida em todas as músicas. Kell Smith faz de suas
reflexões, devaneios e sentimentos, um bem comum de todos nós ao trazer um álbum
simples, porém genial a ponto de fazer a gente se ver em cada verso e em cada melodia.
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