Drama sem motivo, música de
elevador, produção excessiva e uma enorme vontade de soar como um
norte-americano, são coisas que você encontra no novo álbum do Arctic Monkeys!
Depois de cinco anos de espera, os caras estão de volta com o trabalho mais
esquisito de toda a carreira. Confira com a gente toda a falta de entusiasmo de
Tranquility Base Hotel & Casino!
Se desligando de vez do estilo que a banda ajudou a difundir, Tranquility Base embarca em uma viagem de experimentalismo e psicodelia, com um sutil toque de lo-fi. O evidente esforço para fazer um álbum que soasse antigo e chique ao mesmo tempo, acabou nos proporcionando uma das experiências musicais mais cansativas da história do rock moderno, um indício de que quem era fã do Arctic Monkeys pré-AM não vai gostar muito do conteúdo do novo álbum.
Se desligando de vez do estilo que a banda ajudou a difundir, Tranquility Base embarca em uma viagem de experimentalismo e psicodelia, com um sutil toque de lo-fi. O evidente esforço para fazer um álbum que soasse antigo e chique ao mesmo tempo, acabou nos proporcionando uma das experiências musicais mais cansativas da história do rock moderno, um indício de que quem era fã do Arctic Monkeys pré-AM não vai gostar muito do conteúdo do novo álbum.
A maior parte dos vocais do álbum
são provenientes de demos que Alex Turner gravou antes mesmo de mostrar as
composições para o resto da banda, o que explicaria então o fato de que todas
as canções parecem ter sido feitas ao redor de sua voz, que inclusive soa extremamente
alta em relação aos instrumentais, algo que contribui muito para uma inevitável
fadiga auditiva.
O álbum já começa de forma desagradável,
com a torturante “Star Treatment”. A canção passa quase seis minutos
prometendo algo que nunca se concretiza e nos deixa eternamente esperando um
ponto alto inexistente. Alex Turner não convence com seus vocais em estilo
blues cinquentista e a guitarra de Jamie Cook simplesmente não aparece na faixa,
deixando o único destaque na mão do baixista Nick O’Malley, que quase salvou o
dia com seu instrumento. Quase.
A estranheza continua com “One
Point Perspective”, que se não te irritar logo de cara com o loop de bateria e
o teclado insistente, talvez te conquiste após três ou quatro ouvidas. Turner
novamente falha em encaixar seus vocais exageradamente dramáticos, mas Cook e O’Malley
não deixam a faixa se perder e atingem uma das melhores harmonias de guitarra e
baixo que já ouvimos na discografia deles. Que ótima esquiva, hein, queridos?
O maior destaque da primeira
metade do álbum fica com “American Sports”, que mesmo curta, nos surpreende pela
grandeza de seus arranjos. O piano, o sintetizador e a bateria fazem um trio
implacável no instrumental, servindo de base para os vocais de Turner, que
finalmente se encaixa bem em uma canção. Não à toa, a faixa foi uma das
primeiras a ser tocada nos shows mais recentes, quem conhece ambos os projetos,
vai concordar que ela é uma filler do
Arctic Monkeys com gostinho de single do The Last Shadow Puppets. Alô, Miles
Kane!
Lembram-se do que foi dito, sobre as
faixas terem sido criadas ao redor dos vocais? Pois bem, aqui em “Tranquility
Base Hotel & Casino” é o primeiro momento em que essa ideia parece ter dado
um pouco errado, mas calma, nem tudo está perdido. A faixa-título carrega um
dos melhores instrumentais do disco, piano, baixo e sintetizador perfeitamente
encaixados com uma bateria simples e contagiante. O problema está no fato de
que os vocais, além de destoarem muito do restante, se sobressaem
excessivamente, deixando o instrumental quase em terceiro plano.
A levada agridoce de “Golden
Trunks” nos deixa sem direção, pois a guitarra parece ir ao hard rock, mas como
não há bateria, a faixa nos leva em outro caminho, não muito promissor. A seção
melódica da canção é ótima, mas nem mesmo a grande quantidade de instrumentos
foi capaz de preencher o vazio da falta de bateria. No fim, o piano e
especialmente o baixo se destacam, mas é apenas isso que a faixa oferece de bom.
Representando o álbum melhor até
que a faixa-título, “Four Out Of Five” é de longe uma das coisas mais cafonas
que Alex Turner já teve coragem de gravar (contando com o EP Submarine), mas a canção até que tem um certo
charme. O violão, os teclados e a bateria se conectam muito bem com os vocais
principais e de apoio, que mais parecem vir de um jingle de TV dá década de cinquenta. Se você estiver se
perguntando, sim, esses são os cinco minutos mais bagunçados e confusos do
álbum e também os mais divertidos. Se isso é bom ou não, fica a seu critério.
A próxima integrante da série Músicas Sem Razão de Existência é respira
“The World’s First Ever Monster Truck Front Flip”, a canção com o nome quase
tão grande quanto a decepção causada por ela. Não existem destaques, não existem
formas de defender a faixa e não há comentário positivo possível para ela. A
ambição de Alex Turner foi longe demais e a prova disso são os três longos
minutos desse tema de novela mexicana que é melhor a gente fingir que nem
existe.
Para nos aliviar, “Science
Fiction” traz uma ótima combinação de jazz da bateria, com um toque de psicodelia
das guitarras e a suavidade dos vocais e do piano. Por algum motivo, o baixo
não aparece muito nessa faixa, mas mesmo de fundo, prova que também casa muito
bem com a bateria. Se mostrando uma composição bem redonda, a canção é um dos
maiores destaques da segunda metade do álbum, especialmente por revisitar o
estilo arrastado e misterioso no qual a banda já se deu muito bem em trabalhos
passados.
Infelizmente, as coisas tomam um
rumo deplorável em “She Looks Like Fun”, que parece uma colisão entre piada de
mau gosto com trilha sonora de filme infantil dos anos setenta. A melodia é
estranha, a letra não faz o menor sentido, tudo parece um enorme desencontro
musical, além de que os vocais e o instrumental não combinam nem um pouco. O
ministério da saúde adverte: não é recomendado ouvir a faixa na íntegra, pois a
fadiga auditiva é real.
Caindo de vez no blues, “Batphone”
representa um grande acerto no álbum, tudo é muito bem encaixado, especialmente
os vocais e a bateria, que para a nossa surpresa, foi tocada por Turner, o que
deixou a faixa ainda mais com a cara dele. O sintetizador, que acompanha
praticamente todo o andamento da canção, acentua o clima sarcástico da mesma,
juntamente com o baixo. Demorou para que a banda encaixasse um blues, mas aconteceu
de forma bela, não podemos negar.
O disco poderia perfeitamente ter
se encerrado no topo com a faixa anterior? Sim, mas é claro que seria bom
demais para ser verdade. Não há palavras apropriadas para descrever o quão
brega é “The Ultracheese”. Em pleno 2018, Alex Turner se arrisca numa balada
sessentista cuja sonoridade se encaixa perfeitamente no cenário de um pub
irlandês onde as pessoas apenas conversam entre si e não dão a mínima para a música
tocando ali, basicamente o que todos nós faríamos em sã consciência. O
procedimento aqui é o mesmo da sétima faixa: finja que nem existe, é melhor
assim.
Tranquility Base Hotel & Casino é um grande balde de água fria
nos fãs da banda, especialmente os que esperavam mais um disco cheio de hits
como sempre foi. Como já disse o próprio Alex Turner, “Don’t believe the
hype”! As expectativas para o álbum foram enormes e o que nos foi entregue é um
trabalho morno e sem sal, em certos momentos até sem identidade. Não é bom e
nem ruim, é apenas esquecível. Aguardemos o próximo disco, pois esse não
convenceu.
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