Com convidados de peso e uma das
sonoridades mais originais da atualidade, o novo álbum do Gorillaz nos mostra
que o retrô ainda está bem presente no agora. The Now Now traz fortes influências das décadas passadas e as
transforma em inovação. Não entendeu? Calma, a gente te explica!
Voltando do mediano Humanz de 2017, a banda virtual de Damon
Albarn não parece ter medido esforços para se redimir e nos entregou um dos
álbuns mais sólidos da carreira desde o debute autointitulado de 2001, trazendo
até alguns lampejos de suas origens trip hop. As participações também são
surpreendentes: a lenda viva do jazz George Benson, o renomado pioneiro da
house music Jamie Principle e o inigualável Snoop Dogg que dispensa
apresentações.
Logo no início, com “Humility”, já podemos perceber a forte
veia funky que o álbum apresenta, especialmente pela presença de Benson na
faixa. O que ouvimos é um encontro interessante de algo vindo direto da década
de oitenta, com o som futurista característico da banda, tudo muito bem
encaixado numa base arrastada e envolvente. O único ponto negativo é que George
Benson não aparece tanto quanto merecia, mas isso a gente releva.
Trazendo uma vibe meio Plastic Beach, “Tranz” parece ter ido buscar inspiração lá no terceiro disco da
banda, contando com sintetizadores incrivelmente viciantes e um andamento bem
mais agitado que a canção anterior. Um pouco mais ao final da faixa, os vocais
chegam a ficar em segundo plano, de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Digamos
que a duração de menos de três minutos foi perfeitamente calculada, pois alguns
segundos a mais já comprometeriam a qualidade da faixa.
O flow de Long Beach e a
imponência de Chicago unem forças na maravilhosa “Hollywood”, uma das melhores faixas que esse britânico maluco
chamado Damon já teve a audácia de lançar. Chega a ser difícil de acreditar que
um rapper e um pioneiro do house poderiam dar tão certo juntos, mas Snoop Dogg
e Jamie Principle se encaixaram muito bem na base dançante criada pela banda, é
simplesmente incrível, não há nem o que destacar, pois tudo é destaque nessa
faixa.
A ambiciosa “Kansas” não traz a mesma empolgação das anteriores e aposta em uma
atmosfera viajada, com teclados insistentes e vocais que soam consideravelmente
dispersos. O que acaba por salvar a faixa é o groove viciante do baixo. Retornando à pegada laid back da primeira faixa, “Sorcererz”
vem com uma levada lenta e carregada de balanço, com potencial para agradar até
mesmo os mais conservadores fãs do bom e velho funk. Último destaque da
primeira metade do disco.
Não é possível que Damon tenha se
levado a sério quando colocou “Idaho”
nesse álbum, mas o uso de substâncias ilícitas parece ser necessário para entendê-la,
realmente não há o que dizer, ouçam apenas para ter certeza de que vão pular
esta faixa nas próximas ouvidas. A contagiante “Lake Zurich” te chama para a pista com uma levada pra lá de
dançante, apresentando um ótimo casamento entre baixo e sintetizadores, assim
se fixando facilmente entre as faixas de maior destaque no álbum.
Como não só de funk vive a banda,
a acidez de “Magic City” nos leva
novamente à antiga fórmula trip hop do Gorillaz, lembrando até mesmo do primeiro
disco, mas sem abandonar o contexto viajado do álbum. Ainda que isso possa soar
impossível, synthpop, R&B, o velho trip hop e até uma pitada de blues estão
presentes em “Fire Flies” e a parte
mais assustadora é que deu muito certo e o resultado é uma canção muito bem
construída e estranhamente inovadora, sendo até difícil de encaixá-la em um
gênero só. A levada inconstante e os teclados foram os maiores responsáveis por
isso.
O que foi dito sobre “Idaho”
também se aplica a “One Percent”,
com a simples adição de que nesta última ainda temos um destaque para os
teclados, que criam uma ambientação muito agradável e até fazem esses dois
minutos soarem um pouco menos dolorosos. A seriedade passa longe da esquisita “Souk Eye”, que não parece muito
convidativa num primeiro momento, mas pode vir a te conquistar depois da primeira
metade, com uma mescla estranhíssima de disco e uma espécie de jazz eletrônico,
que encerra o álbum em um fade out que até nos entristece por colocar fim em uma
experiência tão ímpar.
Se Humanz foi um grande erro, The
Now Now foi um acerto e tanto. O álbum aposta forte no funk e provavelmente
será responsável por disseminar o gênero para as novas gerações, o que é um
ponto muito positivo. As participações foram de grande ajuda, afinal onde mais
você vai encontrar três lendas da música, de três gêneros distintos, em um
álbum só e completamente distantes de seus estilos de origem? Fato é que
Gorillaz novamente inovou ao misturar tudo que a gente já conhecia de uma forma
totalmente nova. Obrigado por ter essa coragem, Damon!
Esse álbum está muito fodaaaaaaaaaaa
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