Nossa querida Lily Allen
está de volta, dessa vez expressando o lado mais sincero e introspectivo de sua
vida pessoal para conceber seu novo álbum, No Shame. Sem dúvidas, o lançamento nos pegou de jeito com seu
jeito tocante e despretensioso de ser!
Você com certeza deve se
lembrar da cantora inglesa por conta dos grandes sucessos que se destacaram no
debute de sua carreira em 2006, como “Smile”, e no seu segundo álbum em 2009,
como “Not Fair”. Sem dúvidas, no meio de uma parada musical cheia de letras
superficiais, a cantora sempre chamou atenção ao falar dos outros e de diversas
situações sem filtros. Sempre com um ska-pop
refinado, Lily Allen usou sua sinceridade para chamar atenção do mundo e falar
algumas boas verdades como ninguém, com letras icônicas cheias de atitude.
Desde o seu último
álbum, Sheezus (2014), portanto,
muita coisa aconteceu. A cantora já não estava tão no auge assim. E a cada ano
que passava algo novo acontecia: ficou grávida duas vezes, passou por um divórcio
um tanto quanto doloroso, viu sua carreira se afundando, tudo isso enquanto
ainda aturava paparazzis e tabloides espalhando fofocas de sua vida pessoal por
toda parte, como a escandalosa traição da cantora com o DJ Daniel London, seu
atual namorado.
Em meio a tantos conflitos,
a própria cantora já revelou que estava extremamente frustrada com o rumo que
sua vida tomou. Ela inclusive já confessou que se sentia perdida, sem identidade e percebia
que estava falhando como mãe, como esposa e até na sua vida profissional,
acordando sempre de ressaca no ônibus da turnê. Tudo permanecia muito doloroso e
saturado para Lily Allen e foi no meio desse turbilhão de coisas que a cantora
deu vida ao seu disco mais pessoal e delicado até agora, o maravilhoso No Shame.
O álbum é um resgate à
simplicidade, assim como também pode ser considerado um diário de autoconhecimento
onde a cantora compartilha todas as suas dores e pensamentos mais profundos. É
de quebrar o coração, mas ao mesmo tempo é libertador. Detalhando esses eventos
mais atuais e conturbados de sua vida, a cantora retorna sem filtros como
sempre, porém dessa vez não para falar dos outros, mas sim de si mesma, algo
que pouco víamos nos seus trabalhos anteriores. As batidas exuberantes dos
últimos discos são trocadas por baladas delicadas e intensas para nos ambientar
em uma compilação de músicas cruas e dolorosas que se conectam facilmente com o
ouvinte.
Acompanhada dos versos “I’m a bad mother, I’m a bad wife. You saw
it on the socials, you read it online. If you go on record saying that you know
me, then why I am so lonely? ‘Cause nobody fucking phones me”, Lily Allen
já abre ao álbum com “Come On Then”,
contextualizando a situação miserável que a cercava, destrinchando sua reputação,
inseguranças e caos de sua vida pessoal e profissional em um ritmo trap-pop bem iluminado, que contrapõe as
letras tão pesadas do disco. Em “Trigger
Bang”, ela segue a revelar que não se dá bem com a fama e as pessoas desse meio,
porém dessa vez com um ritmo mais rápido e despojado, muito bem usado também
mais tarde em “Waste”, que usa uma
interessante experimentação com reggae
para apontar o dedo para uma ex-amiga, que deixou rastros tóxicos em sua vida.
Tudo começa a ficar
hostil e doloroso quando a cantora registra o término com seu ex-marido, Sam
Cooper. Independente de ser guiada pelo reggae/ska
de “What You Waiting For” ou
pelo piano genuíno e cheio de emoção de “Family
Man”, é perceptível que a saúde mental de Lily estava extremamente confusa,
debilitada e perversa.
“Your Choice” expõe
como realmente o relacionamento dos dois estava chegando ao fim dia a dia, com
brigas, ciúmes e um clima amargo, que também prevalece nas músicas através de
um trap pop bem sólido. “Lost My Mind”, por sua vez justapõe
letras extremamente depressivas com um ritmo lúdico e positivo guiado por um
EDM diferenciado, que representa perfeitamente a dualidade e o tormento que
passava pela sua cabeça na época.
Porém, nada é tão triste
como “Family Man” e “Apples”. A primeira viaja pelo cenário
devastador e sombrio do término, marcando esse momento como um dos mais intensos
e chamativos do álbum. É realmente de quebrar o coração ouvir a cantora falando que está perdida e sem fé, enquanto jura que ela não é maldosa ao fazer todas essas coisas, dizendo que só está assustada com tudo. É uma faixa genuinamente triste, que toma dimensões surreais com o
piano que a acompanha.
Já “Apples” possui um clima nostálgico em evidência, onde Lily lamenta
por tudo que aconteceu entre eles, enquanto se perdoa por sua própria
personalidade, se comparando com seus pais que já passaram por diversos
divórcios, ao indicar que “a maçã não cai tão longe da árvore”, tudo de uma
forma muito genuína e poética.
Em “Three”, mais uma faixa desoladora, a inglesa deixa explícito sua culpa
na questão da maternidade. Um piano leve nos leva para o ponto de vista de suas
filhas, Marnie e Ethel, que segundo Lily se sentem extremamente distantes dela,
por conta de sua agenda sobrecarregada. A interpretação e a composição dessa
música fazem com que a gente realmente mergulhe na alma da cantora, tornando
tudo ainda mais real e triste.
Percebemos um pouco mais
do interior de Lily em “Everything To
Feel Something”. Novamente, o piano toma conta em uma balada agonizante. Através
de uma letra escrita de forma muito crua, a cantora nos dá um plano geral do
seu abuso de substâncias, como álcool e drogas, deixando claro o vazio que
sente sem elas. O estado que ela chegou estava tóxico, lamentável e
extremamente compulsivo. Seu entorno estava caótico, mas seu interior claramente estava vazio. A faixa enche os olhos de qualquer um sem muito esforço.
Ao fim, a cantora
realmente abre caminho para um novo momento de sua vida, se renovando e superando
a escuridão criada durante todo o disco. “My
One” conta sobre as demais aventuras que Lily teve ao redor do mundo
tentando achar um amor e não obtendo sucesso. Mas sem tristeza: agora a cantora
se permite zombar de si mesma e levar tudo na esportiva. Um recomeço é o tema
de “Pushing Up Daisies”, onde ela
narra sua relação com seu atual namorado de forma extremamente amorosa e
positiva, imaginando uma vida inteira a dois. Enquanto isso, “Cake” é realmente a chave do disco.
Podendo ser considerado a luz no fim do túnel, a canção finaliza o No Shame para se reerguer, emponderando
as mulheres e as livrando dos estereótipos e valores da sociedade. Assim, terminamos esse
material de um jeito inesperado: extremamente confiante e encorajador.
Como o próprio nome do álbum
diz, Lily Allen, ao contrário de muitos, não sente vergonha de sua história e
está pronta para expor seus momentos ruins como forma de aprendizado. Nunca a
cantora se mostrou tão vulnerável ou trouxe uma mensagem tão profunda quanto a
esse disco. A proposta desse trabalho é realmente humana, do começo ao fim e suas
composições fazem jus a isso, se conectando com o ouvinte e contando sua
história da forma mais verdadeira e fiel possível. Realmente impressionante,
Lily!
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