A cantora Tais Alvarenga, nova aposta do MPB, lançou recentemente o seu álbum de estreia Coração Só. Batemos um papo com ela sobre as faixas, a sua experiência nos Estados Unidos e muito mais!
Formada em “Trilha para Filme” na Berklee
College Of Music, em Boston, faculdade em que conseguiu bolsa, Tais sempre
esteve em contato com a arte mesmo não tendo músicos na família. Aos 7 anos já
cantava na igreja e tocava piano. No começo da adolescência deu uma pausa do meio
artístico e voltou apenas aos 16 anos com a sua primeira banda. Então, também
descobriu o seu amor pelo teatro.
Coração Só é, então seu álbum de estreia, que recebe o selo da Sony Music. Depois de tantas experiências, a cantora soube expor seu talento muito bem em um álbum denso, teatral e cheio de emoção. Representando momentos intensos da vida da compositora, sua narrativa é como um roteiro de filme romântico. Com o piano bem
marcado, ele representa o amor em sua forma mais real, repleto de altos e baixos.
Saiba um pouco mais também sobre como funcionou o seu processo criativo e de produção na nossa entrevista com Tais:
KT: A música sempre foi parte da sua
vida. Em qual momento você percebeu que queria segui-la como carreira?
Tais: Acho que aos 16 anos, quando eu
comecei a estudar e tive a minha primeira “banda”. Foi uma sensação muito
importante e assim tive vontade de seguir com uma carreira artística. Eu ainda
não sabia exatamente o que seria, se eu iria tocar piano, atuar ou dançar.
Porém, eu já cantava há muito tempo. Acho que nessa época eu comecei, não a entender que eu queria fazer isso, porque eu ainda
não tinha noção da proporção que é uma carreira dessa, das dificuldades e tudo,
mas sabia que tinha nascido com uma sensibilidade para a arte.
KT: Antes de lançar esse álbum, você
esteve no exterior estudando na Berklee College Of Music, em Boston. Quais
foram os maiores aprendizados que você teve lá? Como foi essa experiência?
Tais: Uma das coisas mais importantes
que tive como aprendizado na Berklee é que cada artista tem o seu lugar.
Conheci pessoas do mundo inteiro. Foi aí que aprendi que eu tinha a minha
própria célula artística e comecei a desenvolvê-la. Comecei a fazer o meu
trabalho, entendi a diversidade de coisas que existiam no mundo. Comecei a
entender o que eu queria fazer dentro daquilo. Até então eu cantava, dançava, mas lá existia uma busca muito
forte. Cada artista busca e entende as suas qualidades, limitações e toda essa
diversidade e troca de experiências foram coisas
muito fortes na Berklee.
Além disso, as aulas são maravilhosas,
a qualidade, a tecnologia. Estar lá e falar línguas diferentes é incrível. Outra
das melhores coisas que haviam lá era o fato de muitos artistas grandes irem à
escola para conversar e dar palestras aos alunos. Tive momentos muito especiais
com Cesar Camargo Mariano,
conversamos sobre a vida da Elis Regina (que foi esposa dele por muito tempo) e
eu era muito fã dela. Aprendi sobre valores muito especiais e um pouco sobre o
que é ser músico. O Cesar, por exemplo, assistiu um show meu e falou coisas que
mudaram totalmente a minha visão de palco.
Assisti também uma palestra de Bobby McFerrin que mudou totalmente a minha visão como vocalista. Esses contatos foram muito importantes. O John Mayer, inclusive, trabalhava na Berklee. Esses grandes artistas que frequentavam a escola, davam aulas, encontravam os alunos e traziam coisas muito especiais. Esses momentos foram os dos mais fortes. Também porque eram pessoas que estavam ali fora. Não só artistas conhecidos, mas também mulheres que faziam trilha para filmes por exemplo. A escola recebia muitos profissionais de fora, o que é incrível.
Assisti também uma palestra de Bobby McFerrin que mudou totalmente a minha visão como vocalista. Esses contatos foram muito importantes. O John Mayer, inclusive, trabalhava na Berklee. Esses grandes artistas que frequentavam a escola, davam aulas, encontravam os alunos e traziam coisas muito especiais. Esses momentos foram os dos mais fortes. Também porque eram pessoas que estavam ali fora. Não só artistas conhecidos, mas também mulheres que faziam trilha para filmes por exemplo. A escola recebia muitos profissionais de fora, o que é incrível.
KT: O que seria algo essencial para
sua música na hora de criar? Algo que você tem como DNA ou até marca
registrada?
Tais: Eu diria que estar só. Tenho
dificuldades em compor com alguém por perto. Não tenho nenhum rito. Posso
compor ou uma música pode vir até mim dentro do elevador com o meu celular. Porém,
não consigo cantar uma ideia nova com alguém, a não ser que seja muito próximo,
como um parceiro. Então eu diria que é essa exclusão.
KT: Algo muito forte em seu trabalho é
o piano bem emocionante. Qual é a sua relação com o instrumento e como você
acha que ele combina com seu trabalho?
Tais: O piano é um instrumento muito
instintivo para mim, afinal eu não estudei piano. Então agora eu vou começar a
estudar. Estou fazendo shows sozinha e estou sentindo falta de algumas
técnicas, já que eu não tenho. O piano foi algo muito natural. Na verdade, eu
só toco piano hoje porque eu tinha um de brinquedo na minha casa, muito
pequenininho, e minha mãe me ensinou uma música e achou que eu aprendi muito
rápido. Por isso, começou a me colocar em aulas de música.
Porém, eu gostaria muito de ter mais técnica. O piano hoje compreende um pouco da narrativa do meu trabalho porque ele é totalmente imersivo e caminha junto com a minha voz. Então, ele está dentro das dinâmicas, é um acompanhante. Se tornou uma peça chave em Coração Só, junto a bateria do Pupillo. É quase uma extensão de mim, não algo muito racional, por isso as vezes ele peca em um meio mais profissional.
Porém, eu gostaria muito de ter mais técnica. O piano hoje compreende um pouco da narrativa do meu trabalho porque ele é totalmente imersivo e caminha junto com a minha voz. Então, ele está dentro das dinâmicas, é um acompanhante. Se tornou uma peça chave em Coração Só, junto a bateria do Pupillo. É quase uma extensão de mim, não algo muito racional, por isso as vezes ele peca em um meio mais profissional.
KT: Chegando no Brasil, você se
deparou em um cenário musical atual que não ia de encontro com o seu, mais
comercial porque é o que vendo no país. Então, você procurou por um produtor
que realmente entendesse a musicalidade que você procurava. Como você enxergou
o que procurava no Pupillo, da Nação Zumbi?
Tais: Na verdade, quando cheguei no
brasil passei por uma fase muito “hardcore”. Na Berklee, eu estava acostumada com
um tipo de profissional, mas aqui, estamos com um conceito muito diferente do que
eu tinha na escola, que era um lugar muito puro musicalmente, em que a música é
respeitada em primeiro lugar.
Quando cheguei tomei um choque, porque a música não era o primeiro lugar, mas sim o que está em alta. Passei por alguns produtores para testar algumas faixas. Tem músicas em Coração Só que foram gravadas diversas vezes com pessoas diferentes. Cheguei até a gravar um disco inteiro com um produtor e joguei fora, porque eu sentia que não chegava onde eu queria. Comecei a me sentir até um pouco traumatizada com essa questão das pessoas me produzirem.
Então, quando a Sony me contratou, o presidente dela falou que o Pupillo seria uma boa opção para este caso, já que como produtor, ele respeita a música em primeiro lugar. Claro que ele com a personalidade forte dele e eu com a minha, nós entravamos em sérios embates no estúdio, de bater aporta e ir embora. Porém, tudo porque a ideologia de cada um era muito forte. Ele defendeu muito tudo o que ele achava importante nesse trabalho e para mim, era tudo o que eu queria. Porque às vezes os produtores acham que eles sabem dizer o caminho ou querem te levar para o caminho do sucesso. Mas o Pupillo estava muito interessado em encontrar dentro do trabalho os pontos fortes e os que representassem o que eu estava querendo dizer. Então musicalmente, foi um encontro muito incrível.
Quando cheguei tomei um choque, porque a música não era o primeiro lugar, mas sim o que está em alta. Passei por alguns produtores para testar algumas faixas. Tem músicas em Coração Só que foram gravadas diversas vezes com pessoas diferentes. Cheguei até a gravar um disco inteiro com um produtor e joguei fora, porque eu sentia que não chegava onde eu queria. Comecei a me sentir até um pouco traumatizada com essa questão das pessoas me produzirem.
Então, quando a Sony me contratou, o presidente dela falou que o Pupillo seria uma boa opção para este caso, já que como produtor, ele respeita a música em primeiro lugar. Claro que ele com a personalidade forte dele e eu com a minha, nós entravamos em sérios embates no estúdio, de bater aporta e ir embora. Porém, tudo porque a ideologia de cada um era muito forte. Ele defendeu muito tudo o que ele achava importante nesse trabalho e para mim, era tudo o que eu queria. Porque às vezes os produtores acham que eles sabem dizer o caminho ou querem te levar para o caminho do sucesso. Mas o Pupillo estava muito interessado em encontrar dentro do trabalho os pontos fortes e os que representassem o que eu estava querendo dizer. Então musicalmente, foi um encontro muito incrível.
KT: Levando em conta o processo
criativo, como ele flui para você? Tem alguma coisa que você sempre faz ao
compor até a música sair?
Tais: Eu componho tudo junto, a música
e a letra. Depois eu vou polindo ela. Tem algumas que saem logo inteiras como “Sai
de Casa”, que eu compus em 15 minutos e depois eu só arrumei a letra, porque
ela veio naturalmente. Porém, também há faixas que são mais racionais, quando
você quer falar sobre aquele assunto e então, tenta encontrar uma maneira de
dizer. Mas em minhas composições de Coração
Só, eu simplesmente estava sentindo aquilo. Todas as faixas desse disco
foram assim. Estão todas dentro de uma célula artística parecida, porque todas
foram compostas no meio de um abismo ou de uma tristeza, além de terem sido
muito viscerais, ou seja, compostas rapidamente.
Eu componho até para outros atristas, às
vezes para comerciais ou músicas específicas. Então, quando eu componho dessa
maneira, geralmente faço uma procura primeiro. Escuto muitos instrumentos dessa
atmosfera, dou um tempo e depois vou compor. Quando é algo específico ou quando
eu quero compor algo mais poético eu leio muito e tenho conversas com pessoas.
Às vezes, é muito doido, mas acho que inspiração e criatividade vem dos
momentos mais vazios. Quando você esta no carro, no chuveiro ou lavando a
louça. Quando a sua cabeça esvazia, eu acho que o inconsciente vem com tudo.
KT: Qual a principal mensagem que você
quer passar com Coração Só? O que você imagina que as pessoas sintam ao ouvir
o álbum?
Tais: Na verdade, não imagino muito. O
meu desejo com esse álbum é que as pessoas sintam que tem alguém no mundo que não
tem medo de demonstrar o que se é, ou melhor o que se foi, já que esse disco já
foi composto, gravado e eu já vivi. É um disco que fala sobre sentimentos
profundos e relações intensas. Ele é quase uma contramão do que se tem hoje. No
sentido de que, o mundo moderno está muito rápido nessas colocações, nós não conseguimos
viver ao longo prazo. Acho que é disso que ele se trata, sobre as pessoas precisarem
se permitir encontrar esse lugar verdadeiro, dessas relações intensas. Então,
eu não tenho expectativa que a pessoa sinta nada, se ela se incomodar com o
disco, ótimo.
Ele pode causar reações diferentes. Contém
muita verdade e por isso, tenho encontrado até dificuldades em minhas entrevistas,
porque as pessoas não querem falar sobre isso, sobre o que é de verdade, suas
fragilidades. Acredito que isso é algo permitido, é bonito. É bonito carregar
um amor no peito, uma tristeza ou uma felicidade e Coração Só, na verdade, é um encontro com pessoas tão intensas
quanto eu. O seu nome é esse porque me sinto muito só nesse lugar e acredito no
amor como algo muito duradouro e nobre. Acho que todo o seu sentido está um
pouco perdido hoje em dia. Eu tenho encontrado pessoas que acreditam no mesmo
que eu, por isso o lançamento do álbum está sendo algo muito bonito, por ser um
encontro.
KT: Para finalizar a entrevista, diz pra gente: daqui para frente,
como você vê sua estrada? Tem alguma expectativa, sonhos ou novidades para o
futuro?
Tais: Acho que o meu próximo disco será
mais solar. Tenho uma personalidade muito alegre, apesar de Coração Só ser denso. Acho que estou em
um momento um pouco “saindo do casulo”.
Eu não tenho um sonho assim grande. Nesse exato momento, gostaria muito que essa carreira fosse profissional. Quando digo profissional, não estou falando de algum profissional que eu trabalho, porque trabalho com profissionais incríveis, que podem me dar um suporte incrível. Porém, é uma carreira que não tem retorno financeiro e difícil nesse aspecto. Difícil de se chegar nos lugares, não tem estrutura. Eu, inclusive, voltei para o Brasil porque queria reabsorver a cultura depois de estudar no exterior. Queria muito que o Brasil fosse um lugar mais aberto para os artistas. Se fosse para escolher alguma coisa seria que a minha carreira dê frutos reais e não só imaginários.
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