Com “God Is A Woman”, Ariana Grande prova que ainda tem muitas cartas na manga com a sua nova era e um fôlego criativo que continua firme e forte desde o Dangerous Woman, além de se estabelecer como uma das grandes figuras da geração. Um marco na carreira, uma celebração mais que necessária e um dos clipes mais memoráveis da década.
É inegável o quão bem sucedida foi a era Dangerous Woman. Ariana caiu nas graças de um público muito grande, que antes a via apenas como uma garotinha boba que fazia sucesso num programa de TV infantil, e finalmente provou ter potencial de popstar. Arrisco dizer até que tomou as mesmas proporções do que a Britney foi para sua geração. E sempre após um grande sucesso, vêm também as altas expectativas para futuros materiais que mantenham ou superem seus antecessores. Mas todo artista muda e sua música segue junto, e é aí que mora o perigo para quem não sabe dosar seu público.
Há anos que Ariana transita, aos poucos, entre sua “...Baby One More Time” e “Gimme More”, e isso acontece por conta de que sua fanbase é composta majoritariamente por meninas mais novas. Como artista, é difícil fazer com que seu público amadureça junto com você — Taylor Swift conseguiu fazer isso muito bem —, mas Ariana achou uma ótima maneira de se posicionar como uma mulher forte e, ao mesmo tempo, educar a nova geração desde cedo, colocando em pauta discussões importantíssimas de empoderamento feminino. "God Is A Woman", mais do que uma música sobre o ato sexual, é sobre prazer feminino, que tanto é silenciado por um poder patriarcal da moral e dos bons costumes.
O single dá continuidade à boa forma de “No Tears Left To Cry”, com produção igualmente assinada por Ilya e Max Martin — já sabemos quais músicas serão boas e quais serão do Pharrell. Gosto muito que Ari tenha se jogado num R&B que brinca o tempo todo com o hip-hop, sendo um som que combina muito com seu vocal e mistura vintage e contemporaneidade.
Na composição, a cantora afirma que conseguiu a submissão do homem pela mulher através do prazer sexual que ela proporcionou, e o clipe potencializa essa discussão em metáforas dentro de uma realidade ideal onde Deus é uma mulher e esmurra o falocentrismo.
Tudo se inicia com Ariana no centro do universo, com a galáxia se movendo conforme ela dança, e a cena guia o ritmo do que virá a seguir. Dave Meyers, o diretor do vídeo, faz um ótimo trabalho ao colocar o órgão sexual feminino em perspectiva central o tempo todo, sendo o núcleo de todo o poder da mulher, em planos que representam a arte, a concepção da vida, a natureza e as diversas religiões e crenças. Também é discutido que a figura masculina sempre tenta diminuir a mulher ao longo da história, ao mesmo tempo em que está constantemente sugando todo o fruto de seu trabalho, na forma mais horrível de exploração velada.
E quando a mulher consegue finalmente quebrar toda essa barreira criada, somos presenteados com um monólogo de Madonna de uma versão adaptada do versículo Ezequiel 25:17, popularizado pelo filme Pulp Fiction. E então Ari se coloca como a própria Deusa criadora do universo, numa releitura da obra de Michelangelo, que ao lado de outras mulheres, dá o poder da vida ao que seria a representação de Eva, a primeira mulher, à sua imagem e semelhança. A beleza da mulher, de todas as cores e formas, é enaltecida o tempo todo, e a importância disso é enorme na conjuntura atual em que nos encontramos, onde o patriarcado vem perdendo força e tentando ao máximo silenciar grupos de minoria.
“God Is A Woman” vem na hora certa, em que o público já sabe abraçar conceitos que Lady Gaga injustamente não conseguiu passar na era ARTPOP. É um presente aos fãs, à nova geração, e principalmente à todas as mulheres. Estou ansioso para conferir o que vem pela frente, com boas expectativas e com o coração mais quentinho agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário