Com uma sonoridade bem particular, Bernardo do Espinhaço dá vida o seu terceiro álbum de sua carreira. Thardi é um álbum relaxante que viaja pelo MPB e indie rock com uma identidade assinada pela Música Popular da Montanha. Nunca ouviu o termo? Interessante, né? Por isso, batemos um papo com o músico para contar tudo pra gente sobre seu som e o novo disco.
Para te contextualizar, a música da montanha não se caracteriza por sonoridades comuns da natureza. Ao invés disso, Bernardo constrói uma ambientação de pura natureza, através de arranjos bem bolados e instrumentos leves que projetam a mesma liberdade do vento que o músico vive ao redor do mundo com sua vida de montanhista.
O violão, acordeon, piano, flauta, viola caipira e ukulele se unem em uma harmonia de outro mundo para dar luz ao seu som autoral. E é com essa força que, depois de O Alumbramento de um Guará Negro em uma Noite Escura e Manhã Sã, nasce agora seu terceiro projeto: Thardi, o seu álbum mais pop até então, no sentido de conter melodias ainda mais contagiantes e doces do que os outros trabalhos.
O disco é cheio de preciosidades e tesouros da montanha. Logo de cara, “#BoraLá” já dita a vibe positiva que o disco segue. “Que é Para Você Saber” e “Rasgue o Céu” flertam com um soul pop, com leves elementos de rock orgânico, formando um som incrivelmente refinado. “A Trilheira”, por sua vez, nos proporciona uma experiência envolvente, sendo ela um dos grandes destaques do álbum. Além dela, as baladas “Benjamin” e “Os Senhores” traz um tom de delicadeza e paz, fazendo de Thardi um material realmente inesquecível.
Com um trabalho tão rico em essência e autenticidade, não poderíamos deixar de bater um papo com Bernardo para que ele nos contasse um pouco mais sobre o projeto e o processo criativo do seu som. Confira a entrevista na íntegra:
KT: Como você explicaria a Música Popular da Montanha? Qual é a essência dessa arte e o que ela significa pra você e para suas composições?
Bernardo: Essa definição se dá mais no campo da tematização, porque faço canções inspiradas em montanhas e no montanhismo, do que na estética em si. De qualquer maneira, há no som que faço uma linguagem não tão comum, e isso ajuda na construção da singularidade também.
KT: E foi desse jeito, nas montanhas, que seu mais novo álbum, Tardhi, foi ganhando forma, né? Quais são os principais elementos da natureza que te inspiram na hora de compor?
Bernardo: Sou praticante de caminhadas de longo curso, ou travessias (trekking), e são nesses cenários que geralmente se desenvolvem as minhas percepções criativas. Mas isso não necessariamente impõe um condicionante limitador. Eu escrevo sobre qualquer coisa.
KT: Teve alguma música em específico desse projeto que te impactou bastante na hora de criar?
Bernardo: “Sobre os Montes” é uma canção onde adotei como eu-lírico a minha ex-namorada. Terminamos um relacionamento longo no início do ano passado. Inevitavelmente é uma canção que mexe com muita coisa dentro de mim. É um processo ainda difícil de lidar, mesmo tanto tempo depois.
KT: E quanto à sonoridade, você está vindo com um álbum que esbanja versatilidade do começo ao fim, incluindo violão, arcordeon, piano, flauta, viola caipira, ukulele e muito mais. De que forma esses instrumentos individualmente agregam à sua música?
Bernardo: É até engraçado pensar isso, eu projetei um álbum mais minimalista nas cores, mas enfim, sou esse cara meio plural mesmo, isso acaba pulando para fora durante a feitura. Acho que, de alguma forma, confere um caráter world music para o som, nada além disso.
KT: Algo muito particular dessas aventuras e viagens que te guiam é a liberdade. Você acredita que as músicas de Tardhi transmitem também esse sentimento libertador? Como você faz para que isso seja transmitido a cada canção?
Bernardo: Tenho uma crença sobre o que faço, mas isso só se dá de fato naquele que escuta, que consome minha música. Tenho lido muitos relatos de audições por aí, é bem particular o que as pessoas recebem. Pretendo não interferir nisso, inclusive.
KT: E percebemos que a liberdade realmente é um espírito que pode contagiar pela música. O clipe de “#BoraLá” é um exemplo perfeito disso, onde você une mais de 100 pessoas ao redor do Brasil compartilhando esse mesmo sentimento pelos stories do Instagram. Como essa produção representa o seu conceito de Tardhi? Qual é o sentimento que você tem por ter feito parte disso?
Bernardo: Reunimos gente do mundo inteiro na verdade. Essa ideia do clipe surgiu do diretor, o Guima Ferreira, ele é um cara multimídia e antenado. Aproveitamos que tenho um público que se envolve e o resultado foi esse mosaico especial. Acho que essa música e esse produto audiovisual são bem emblemáticos para o Tardhi mesmo, é um disco que propõe acessibilidade. Deve ser cantado por quem quiser e onde quiser.
KT: Por fim, considerando que você se define como um verdadeiro “lobo guará que escreve livros musicais sobre sua vivência na montanha”, qual mensagem final você quer deixar para quem já ouve suas músicas e para quem está te conhecendo agora?
Bernardo: Eu fico bem feliz por encontrar gente que tem cuidado ao escutar um novo compositor, não é algo simples abrir a porta do seu coração para uma voz que você desconhece. Mas acho que a riqueza está justamente nesse estranhamento, por superarem esse estágio agradeço!
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