Com tanto adiamento, mudanças de plano e tentativas de recuperação de imagem, fica difícil acreditar que Iggy Azalea realmente está de volta com um killer single, mas a espera foi recompensadora ao trazer uma identidade visual impecável e uma Iggy que remete muito ao início de sua carreira. Seria "Kream" o grande renascimento de Iggy Azalea?
Iggy está girando a maçaneta emperrada para entrar em sua nova era, o EP Survive The Summer, mas tudo costumava ser muito mais fácil para ela lá por 2013. Ainda dentro da indústria da moda, ela era apontada como uma promessa da música pelo diferencial de fazer rap sendo branca, loira, modelo e estrangeira. Entretanto, enquanto “Fancy” tocava nas rádios do mundo todo e vendia como água, importantes discussões sobre apropriação cultural eclodiram e muitos se revoltaram em questionar que sua carreira fosse justa. Logo, a mesma mídia que a lançou para a glória, se apressou em tomar outro partido e desmoraliza-la até o fundo do poço.
Desde então, passados cinco anos, a australiana têm sofrido constantes ataques online e o público rejeita literalmente qualquer coisa que ela lança, ainda que, nesse mesmo ano, Post Malone (rapper branco) tem estado em primeiro lugar nas paradas mundiais. Musicalmente falando, Iggy claramente melhorou muito e parece ter encontrado seu caminho de volta à boa forma, mas visto que sua gravadora a coloca numa jaula e adia seus lançamentos, parece que sua luta continuará árdua, enquanto outros não precisam fazer o mínimo esforço por motivos óbvios.
Sua nova aposta para reconquistar o público é “Kream”, um ótimo single que conversa diretamente com outras do início de sua carreira, como “Pu$$y”, de onde recuperou sua atitude e confiança em versos rápidos e marcantes, sem medo de conteúdo explícito e de expor sua vida sexual. Da mesma forma, “Work” também é trazida de volta como uma forma de resposta: depois de arriscar uma vida na América e ralar tanto para conquistar tudo o que tem, agora em “Kream” ela só quer se mostrar irreverente às críticas e enaltecer seus atributos e sua independência.
O “Ass, Cash, Bags” da música é, então, sobre provar ao mundo que ela continua de pé apesar de todas as críticas duras; fazer dinheiro mesmo que numa indústria onde o sexo vende, pois ela não tem vergonha de seus atributos; sobre fazer o que bem entender e falar o que bem quiser. No geral, trata-se de empoderamento.
O vídeo é esteticamente perfeito. A direção de arte trabalhou muito bem aqui e provavelmente tem muito dedo da própria Iggy, que sempre gosta de brincar com referências de filmes e outros clipes em seus trabalhos — É notória a alusão a “Toxic” da Britney no figurino azul de Iggy. As cores predominantes em neon são uma tendência que agradam aos olhos e, pelas fotos promocionais, parece que serão constantes durante a era. A australiana está lindíssima e suas habilidades com twerking são inegáveis. É de se agradar muito e, em questões artísticas, ela nunca deixa a desejar.
Iggy Azalea parece que finalmente encontrou seu lugar na música. Ela tentou calar aqueles que diziam que ela não sabia cantar e lançou uma série de faixas mais puxadas ao pop, mas não acredito que tenha a valorizado tanto. Nem mesmo ao experimentar o reggaeton em “Savior” funcionou tão bem como agora. Sua voz fica melhor no tipo de rap que conversa com o trap e o EDM, como costumava ser antes. “MO Bounce”, por exemplo, foi muito injustiçada. E a persona que ela assume de uma mulher que não tem medo de mostrar seu corpo e de se abrir sobre questões sexuais se mistura muito bem com o gênero.
O EP Survive The Summer está em pré-venda e deve sair no início de agosto. Agora é só esperar para que o nível se mantenha, mas o jogo realmente deve virar para a australiana. E melhor do que questionar se Iggy está certa ou não sobre fazer músicas sendo uma mulher branca, deveríamos estar enaltecendo belos trabalhos de mulheres que só querem mostrar sua arte, seja ela qual for, da forma que for.
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