Alice in Chains mostra seu lado mais cru e estranho em "Rainier Fog"


Ah, nada como cheiro de grunge pela manhã! O Alice in Chains está de volta, mais forte do que nunca e estranho como sempre. O novo álbum, Rainier Fog, representa um momento ímpar na discografia deles, mas ao mesmo tempo traz composições que remetem a lançamentos passados. Pode parecer confuso, mas faz sentido e você vai entender.

Considerando que a banda está vindo do ótimo The Devil Put Dinosaurs Here, parece que eles gostaram muito da parte mais sombria e obscura desse álbum e resolveram explorá-la um pouco mais a fundo. Jerry Cantrell e William DuVall entraram em estúdio prontos para apresentarem suas composições mais “fora da caixa”, dando vida ao peso e à estranheza de Rainier Fog.

As notas de “The One You Know” abrem o disco e já dão a entender que a experiência será no mínimo desafiadora. A faixa traz um pouco da sonoridade clássica do Alice in Chains (não por acaso é o lead single) e ainda vai um pouco mais longe, trazendo um riff principal imponente e uma atmosfera bem intimidadora, além de um solo de guitarra ferocíssimo de Jerry. É possível notar, logo de cara, que a mixagem do álbum está muito bem feita.


A faixa-título “Rainier Fog” anima um pouco mais as coisas e traz William brilhando nos vocais, com Jerry cantando apenas na ponte. O riff vai soar muito familiar para os fãs da banda e, em especial, irá agradar aqueles que gostaram do álbum anterior. “Red Giant” é aquela que vai te conquistar facilmente pela atmosfera misteriosa e pesada. As guitarras e os vocais trazem uma mistura sensacional de exaustão e raiva, com o ponto mais alto estando no solo emocionante de Jerry, que se mostra cada vez mais íntimo de seu instrumento.

A delicada “Fly” explora um lado mais acústico da banda, com óbvias semelhanças às já clássicas “Voices” e “Your Decision”. A canção é simplesmente linda e traz alguns efeitos sutis, como o phaser na guitarra e na voz, além de utilizar a famosa técnica do eco invertido também nos vocais, deixando-a um pouco mais com a cara obscura do álbum, sem perder seu brilho próprio, é claro.

Drone” é uma espécie de metal embebido na fonte do blues. O andamento arrastado, combinado com algumas partes de violão e o riff cheio de pausas, dão à faixa uma sonoridade bem única dentro do álbum, definitivamente uma ótima surpresa para nós. “Deaf Ears Blind Eyes” não faz questão de esconder que é filler e não impressiona muito, mantém-se morna o tempo inteiro e não leva destaques, apenas reproduz a velha fórmula da banda, o que não é de todo ruim, mas a torna apenas mais uma canção sem muito brilho.

A segunda canção acústica do álbum, “Maybe”, segue uma linha diferente da primeira, indo numa direção bem mais estranha, usando do violão para dar uma atmosfera mais misteriosa aos versos e criando um grande contraste com o refrão melódico. O single “So Far Under” retorna à sonoridade pesada da primeira faixa e acaba por não trazer muito além dela, apesar de também ser bastante competente, especialmente pelos ótimos vocais de William.

Falando nele, William DuVall simplesmente provou novamente que é um vocalista incrível e um letrista tão bom quanto. Nos versos da maravilhosa “Never Fade”, William destilou a dor da perda, inspirado nas mortes de sua avó e do saudoso Chris Cornell. A faixa traz um riff viciante, bem semelhante às músicas da carreira solo de Jerry, além de vocais realmente viscerais de ambos os vocalistas. Sem dúvidas uma das melhores canções desse disco.


O encerramento do álbum ficou por conta da épica “All I Am”, que simplesmente vai lhe tirar o sossego, pelo ar incômodo, exausto e inquieto da faixa, pela letra forte e ao mesmo tempo ambígua e pelas guitarras que tornam esses sete minutos uma experiência muito impactante. Inconscientemente, a canção passa um forte sentimento de que “acabou”, algo característico nas composições mais pesadas da banda, dando assim o término perfeito ao álbum.

Rainier Fog é definitivamente um dos álbuns mais consistentes dos últimos anos, trazendo composições diversas, balanceando muito bem o pesado e o melódico. Apesar da produção ser relativamente simples, todos os elementos estão em harmonia e a mixagem foi impecável. Liricamente e musicalmente falando, a banda evoluiu e perdeu o receio que um dia já teve. Mais uma vez, Alice in Chains não decepcionou, nos entregou um dos melhores álbuns da carreira e segue sendo uma das melhores e mais importantes bandas do rock moderno.


Um comentário:

  1. Alice in Chains passa longe do que eu sou acostumada a escutar e de primeira nem curti o álbum, mas agora lendo isso, fiquei com vontade de dar outra chance. Vou ouvir com mais calma e avaliar de coração aberto. Como sempre, os artigos são tão bem escritos que fazem a gente mudar ideia. Sou muito influenciada!

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