Death Cab for Cutie supera as expectativas com "Thank You for Today"


Como está sendo cada vez mais recorrente, mais uma banda indie resolveu beber nas fontes da década de oitenta e os aventureiros da vez são o Death Cab for Cutie. O grupo acaba de lançar seu nono álbum de estúdio e traz influências fortíssimas do pós punk, mas claro, mantendo a boa e velha essência característica deles. O resultado se tornou Thank You for Today.

A frase que define o Death Cab for Cutie é: esses caras não sabem a hora de parar. Para a nossa sorte, é claro. Mesmo depois de construírem uma carreira sólida, os caras ainda não parecem estar satisfeitos e continuam experimentando e demonstrando uma criatividade absolutamente incrível. Nesse novo álbum, os esforços deram vida, possivelmente, ao melhor trabalho deles.

Thank You for Today passeia pela sonoridade reinante entre as décadas de setenta e oitenta, trazendo influências quase que explícitas de New Order (ou Joy Division, se você preferir), The Cure e se você for ainda mais detalhista, é possível ouvir alguns traços de Roxy Music. Claro que, com a grande experiência que a banda já possui, eles combinaram tudo isso à sua própria maneira, dando forma a algumas das melhores canções de sua carreira.

A ótima faixa de abertura “I Dreamt We Spoke Again” tem uma atmosfera envolvente e vai te prender facilmente com o teclado e vocais absurdamente viciantes. A guitarra é quase uma ode ao famoso som do baixo de Peter Hook (New Order, Joy Division). A letra é curta, mas não se engane, é bom ouvir com cautela, pois a ambiguidade pode significar algo muito mais profundo, o que deixa a interpretação totalmente nas mãos do ouvinte.

Abruptamente, o disco continua com o ritmo rápido da bateria de “Summer Years”, que logo dá lugar a guitarras bem leves e muito agradáveis, além de um baixo repleto de pausas, bem característico da banda. Os vocais são incrivelmente contagiantes e contrastam bem com o tempo acelerado, a melancolia é ainda mais acentuada pelos teclados da faixa.

O lead single “Gold Rush” deixa absolutamente claro que é uma música de trabalho e logo se mostra bem comercial, desde a batida (que aliás incorpora um sample da canção “Mind Train” da Yoko Ono) até o vocal repleto de efeitos, além é claro da letra clichê e da incessante repetição do nome da faixa, que até começa a incomodar depois de um tempo. Apesar da canção ser até simpática, é como dizem por aí: Don’t believe the hype!


A progressão de “Your Hurricane” transformou o que poderia ser uma canção simples de três minutos, numa obra de arte incrivelmente emocionante. A letra é maravilhosa e cheia de metáforas e mostra uma frieza que chega a doer, especialmente no refrão. Os vocais são precisamente intensos e as guitarras se unem aos teclados para criar uma atmosfera que inevitavelmente te transporta para dentro da música. Uma ótima candidata à lista “canções incríveis que provavelmente nunca ouviremos ao vivo”.

Nostálgica que só ela, “When We Drive” não anima o ritmo, mas traz uma letra bem menos melancólica, fugindo um pouco do peso emocional das faixas anteriores e também se inclinando um pouco mais ao pop. Indo mais adiante, “Autumn Love” é um ponto único no álbum, sendo a única faixa com um clima realmente alegre e de letra otimista, repleta de determinação e desapego, com vocais de apoio que frisam ainda mais a mensagem. Escolha perfeita de single.

A beleza de “Northern Lights” é tão impressionante, que antes mesmo dos vocais começarem, a faixa já te conquista com a linha maravilhosa de baixo e o piano, que mais à frente ecoa lindamente em harmonia com as guitarras. Apesar da letra ser bem simples e incisiva, a mesma não deixa a desejar e o refrão provavelmente vai ficar na sua cabeça. Os vocais de apoio foram feitos pela fofura em pessoa Lauren Mayberry, vocalista da banda CVRCHES.


Retornando à melancolia, “You Moved Away” traz um instrumental bem calmo e atmosférico, com uma ambientação de teclado que acompanha todo o andamento da canção e uma batida minimalista. Logo após o penúltimo refrão, se ouve uma rápida e intensa ponte, com várias linhas de teclados que se completam entre si e decaem abruptamente, dando lugar ao último refrão e encerrando a faixa.

Em “Near/Far”, os teclados são a espinha dorsal e realmente salvam a faixa, que até se mostra competente, mas ainda acaba por se encaixar num formato morno e redondo demais. A levada mais rapidinha e o baixo constante ajudam a deixar a canção um pouco menos esquecível, assim como a guitarra que acentua um pouco mais o ritmo. Os vocais não convencem muito e ficam inclusive em segundo plano na faixa.

Uma letra forte, um piano emocionante e uma bateria microfonada mais de longe, assim foi criada a atmosfera da canção mais pesada do álbum, “60 & Punk”. Por quatro minutos, o ritmo lento canção se arrasta por uma melancolia fria e cinza, com uma dose bem generosa de desapontamento. Como dito anteriormente, a letra é forte e pesada, especialmente por se tratar de algo que pode (e irá) fazer sentido na vida de muitos ouvintes. É assim, no ápice da tristeza, que Thank You for Today termina e, por mais estranho que isso possa soar, não poderia ser melhor.


É louvável a capacidade da banda de se renovar e se superar, mesmo depois de tantos álbuns e tantos anos de carreira. Thank You for Today talvez seja o trabalho mais bem construído do Death Cab for Cutie, não só pelas ótimas composições e pela produção impecável, mas pela forma como os quarenta minutos do álbum passam suavemente, como uma experiência única e agradável, o que nos tempos atuais é uma raridade. Já queremos o próximo e pra ontem!


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