Viajando pelo amor e frustrações de forma introspectiva, Jão impressionou a todos em seu álbum de estreia, Lobos. Com músicas compostas pelo próprio cantor e Pedro Tófani, o disco promete ser um grande hino de libertação dos mais jovens.
Seguindo a linha das canções lançadas anteriormente, nesse primeiro álbum completo, Jão afirma sua identidade pop como nunca antes: de forma diversa, agridoce e dramática. Acompanhado de uma produção muito bem executada, o cantor incorpora o espírito selvagem de um lobo em uma narrativa cética que vaga entre as incertezas, instabilidades e descaminho de Jão. A cada música, temos um uivo diferente pronto para despertar a identificação na alcatéia dos chamados new millennials.
Começando o disco muito bem, temos a mistura dançante de tecnobrega com pop de “Vou Morrer Sozinho”. Logo nessa primeira música já percebemos que Jão está disposto a se abrir por completo no álbum, sendo sincero e cômico ao mesmo tempo em versos como “Ai meu Deus, eu vou morrer sozinho se eu continuar nesse caminho” em que o cantor trata o amor líquido na lógica da hipérbole do não pertencer, sem medo algum.
Essa mesma força é interpretada em “Imaturo”, o hino que já conhecíamos, perfeito para cantar junto com os amigos em um fim de noite. A selvageria ganha vida por completo, porém, na marcha libertadora de “A Rua”, faixa com raízes africanas e temática urbana que tem o título de ser um dos grandes destaques do disco.
De qualquer forma, é maravilhoso sentir o lado mais vulnerável e sensível de Jão também aparecer nesse trabalho tão completo. A balada “Me Beija com Raiva” é a grande prova disso. A canção traz uma sofrência inspirada no ritmo sertanejo e, ao seu fim, possui um acordeão que rouba a cena em um instrumental delicioso. “Lindo Demais” traz um respiro de positividade com uma verdadeira explosão de amor. Jão se entrega ao seu lado mais cor-de-rosa em uma bela experimentação com EDM, que adiciona uma energia extremamente iluminada à canção.
Aliás, um leve toque de EDM é o que se predominou nesse disco. O ritmo trouxe mais vida e intensidade às composições dramáticas de Jão em vários momentos, como em “Lobos” e “Aqui”. Essa última já havia sido lançada, mas ganhou arranjos adicionais que levaram o trabalho para outra dimensão, contando dessa vez até mesmo com vocais do português Diogo Piçarra.
Porém, mesmo que o álbum se mostre cheio de atitude em vezes, é nas preciosidades mais frágeis em que encontramos mais emoção e verdade. “Ainda Te Amo” segue a linha acústica, expondo o lado mais cru de Jão ao tentar esquecer um amor. A mesma impressão temos na melódica “Eu Quero Ser Como Você”, onde o cantor novamente aponta seus defeitos e questiona sua sanidade e todas as suas noias.
Por fim, acompanhado de um piano, Jão encerra o disco com “Monstros”, que entrega uma letra genuína e um tom delicado de tocar o coração de qualquer um: “Eu abraço a escuridão que sempre se fez o meu lar. Agora eu corro com meus lobos, danço ao redor do fogo, bem nos olhos vejo os meus monstros que insistem em me encarar”.
É nesse momento de arrepiar em que nos vemos representados em cada insegurança projetada nesse álbum. Todos nós somos lobos como Jão, que gritam ansiedade, liberdade e solidão em cada olhar, vivendo na dualidade eterna do selvagem e do afetivo e do amargo e do doce. É por esse motivo que Jão faz tanto sucesso entre os jovens e, com esse disco tão contemporâneo, ele deve ir cada vez mais além.
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