Depois do altíssimo nível atingido com um dos melhores álbuns pop de todos os tempos, o Dangerous Woman, Ariana Grande nos entrega neste final de semana seu quarto álbum de estúdio, Sweetener. Será que o novo disco conseguiu atender as expectativas?
Muita espera antecipava este disco e, muito provavelmente por causa disso, muitos tenham se decepcionado com o trabalho. Pharrell, um dos principais produtores do álbum, havia dito que esse era, de longe, o melhor trabalho da cantora. Scooter Braun, seu empresário, afirmou que ela traria vocais épicos para reafirmá-la como uma voz a ser reconhecida. E muito se esperava também após o atentado em Manchester.
Sweetener é, de fato, um passo ousado. Ainda é pop, mas não é tão óbvio e fácil de engolir como seus hits mais radiofônicos de eras passadas. As canções crescem gradualmente de forma lenta, fazendo com que você descubra sonoridades interessantes na quarta ou quinta vez que ouça o álbum - isto é, se você decidir dar tantas chances ao mundo adocicado - porém, meio amargo em suas primeiras impressões.
Começamos com “Raindrops (An Angel Cried)”, que é uma bela canção acapella com uma melodia envolvente, mas logo vem “Blazed”, que não esconde ser criação de Pharrell, parecendo com basicamente qualquer coisa que ele tenha produzido ultimamente. É um tanto dispensável e esquecível, ao contrário de “The Light Is Coming”, que te vence pelo cansaço repetitivo e no final você se pega cantarolando o refrão.
“R.E.M.” é uma agradável e sexy canção com fortes influências R&B, mostrando uma versatilidade divertida de Ariana. Os vocais trazem diversas harmonias com sua própria voz, deixando a canção quase que acapella. O ritmo acelera novamente na já conhecida “God Is A Woman”, que agora soa como uma das canções mais fortes do álbum. Os vocais ao final da canção junto ao coral são épicos e esse é um dos melhores momentos da carreira dela, sem dúvidas. Já “Sweetener” soa muito como uma canção menos inspirada que estaria no debute da cantora ou até na sua fase “Put Your Hearts Up”. É um tanto descartável e não é muito memorável no produto final.
A obviedade da produção de Pharrell retorna em “Successful”, que claramente é um descarte do cantor, seja pela sonoridade ou pela letra boba e supérflua. Mas, se você der uma chance, talvez seja um pouco divertida. Mas o melhor ainda estaria para chegar em “Everytime”, que é onde o álbum inicia seu auge. É uma canção pop nos moldes da perfeição, com fortes melodias grudentas e batida contagiante.
O nível se mantém com “Breathin”, talvez a canção mais bem aceita e muito provavelmente o terceiro single da era. Não à toa, uma vez que tudo se encaixa perfeitamente aqui e a música soa, de fato, como um grande sucesso mundial. Caso seja trabalhada, pode repetir o que “Side to Side” fez com Dangerous Woman: se tornar ainda maior que “No Tears Left to Cry”.
Aliás, falando nela, é “No Tears Left to Cry” que segue o álbum. A canção já é um clássico na carreira de Ariana e é, indiscutivelmente, uma de suas melhores canções. No entanto, acaba destoando um pouco do álbum por ser a mais pop, mas é agradável ouvir algo familiar.
“Borderline” soa esquecível e não surpreende em ser mais uma produção de Pharrell. Continuando, “Better Off” é uma canção agradável que parece inofensiva, mas cedo ou tarde vai grudar na sua cabeça. Também possui uma forte influência R&B e lembra os caminhos que ela tomou com “I Don’t Care” lá no Dangerous Woman. “Goodnight n Go” também é calma, mas possui alguns graves poderosos reinventando completamente a versão original da música. “Pete Davidson” dispensa comentários, enquanto “Get Well Soon” é uma canção com toques gospel e uma bela letra, que fecha o álbum com o pensamento de “foi isso?”.
O álbum pode parecer desconexo, mas basta ver a lista de produtores que o entendimento se torna fácil. As canções que o público mais tem aceitado, tais como “Everytime”, “Breathin” e as já conhecidas “No Tears Left to Cry” ou “God Is A Woman” são todas produções de Max Martin ou Ilya, dois gênios que já provaram ter muita química com Ariana. Nas demais, Pharrell assina 7 canções, enquanto as outras possuem diversos produtores. Juntar mentes tão diferentes e manter um trabalho coeso não é tão fácil e aqui é a prova. Principalmente quando a identidade do produtor fica tão presente no resultado e você acaba cedendo seu lugar para ele.
Logo, não é nada ofensivo dizer que Ariana ainda está buscando sua sonoridade e enquanto amadurece, cada vez mais se aproxima do que mais soa como sua personalidade. Dangerous Woman era mais coeso e marcante, de fato, mas Sweetener possui mais de sua identidade, mesmo sendo um pouco confuso e instável - talvez, seja o começo de uma transição.
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