Por mais que seja difícil de
acreditar, Lenny Kravitz ainda está vivo, e como está! O cantor acaba de lançar
seu décimo primeiro (!!!) álbum de estúdio Raise
Vibration, que mistura elementos de rock, soul, funk e pop. Essa salada maluca
de estilos tão variados, deu origem a um dos lançamentos mais criativos de 2018 e a
gente te explica direitinho como isso foi possível.
Lenny já se provou um dos
artistas mais talentosos e criativos da história e, como não poderia ser
diferente, seu novo álbum reforçou mais uma vez esse fato. Raise Vibration traz uma viagem incrivelmente agradável por entre
todos os estilos explorados por Lenny em álbuns anteriores, mas ainda criando
uma identidade própria, cheia de cores, como a capa já nos indica.
O tracklist do álbum foi muito
bem montado e bem dividido entre as diferentes sonoridades que cada faixa
apresenta, começando pelo soul-pop de “We
Can Get It All Together”, passando pela balada de piano “Here to Love”, até a romântica e
eletrônica “I’ll Always Be Inside Your
Soul”. De todos os estilos que influenciaram o álbum, o funk é de longe o
mais evidente, estando bem presente em cinco das doze faixas.
A já citada faixa de abertura “We Can Get It All Together” é quase um
clichê ambulante, mas é estranhamente gostosa de ouvir. A batida de tempo médio
é muito bem acentuada pelo baixo e os sempre ótimos vocais de Lenny também não
deixam a desejar. Ainda assim, a canção é bem morna, a letra simplesmente não
traz nada de muito interessante e o refrão não conquista.
Felizmente temos a maravilhosa e envolvente
“Low” na sequência, trazendo o bom e
velho funk de volta, com guitarras à la Nile Rodgers, um baixo com muito
movimento e vocais bem sutis do inconfundível rei Michael Jackson. Os vocais de
Lenny estão on spot e a letra é bem
do jeitinho que a gente espera dele. Não por acaso, essa, que é uma das melhores
canções dele, foi lançada como segundo single do álbum, uma escolha muito
sábia.
Subindo a marcha, o funk continua
na animadíssima “Who Really Are the Monsters?”,
que te leva direto a uma festa no início dos anos oitenta: percussão típica da
disco, teclados incessantes, vocais irônicos e cheios de efeitos, batida eletrônica,
ruídos para todo lado, um feroz solo de guitarra e um sax pra fechar com chave
de ouro. Não dá para reclamar, né?
O rock and roll dá as caras na
faixa-título “Raise Vibration”, uma música
cheia de pausas e com influências muito claras de Beatles, o que infelizmente não
funcionou tão bem assim, já que a faixa se mostra cansativa e, apesar de não
ser ruim, também não faria falta. A letra e a estrutura do instrumental indicam
um desleixo típico de demos, é uma pena que esse seja o produto final.
“Johnny Cash” é uma das clássicas baladinhas emocionantes do Lenny,
nada menos que isso e nada mais também. Tudo bem, a letra é bem construída, os
teclados e os arranjos de cordas são lindos, os vocais são ótimos, mas o
sentimento que prevalece o de que estamos ouvindo uma versão menos empolgada do
hit “Stillness of Heart” de 2001, ou seja, mais do mesmo.
O que temos em “Here to Love” é uma letra forte e
desesperada por paz, intensificada pelos vocais impressionantes de Lenny e pela
linda base de piano. Em pleno 2018, uma canção assim é muito bem-vinda, tendo
em vista que o ódio tem reinado pelo mundo. Por outro lado, o nosso querido
Lenny parece ter se empolgado demais e a canção dura um pouco mais que do que
deveria, mas a gente releva pela mensagem bonita.
Se é de funk que você gosta, “It’s Enough!” traz exatamente isso, com
uma pitada de protesto e um groove simplesmente irresistível. O lead single
traz uma das letras mais criativas de Lenny, que se desdobra em versos contra
racismo, corrupção e ganância. É de se esperar que o carro-chefe do disco tenha
esse teor polêmico, mas precisava mesmo de oito
minutos?
“5 More Days ‘Til Summer” é uma das canções que realmente salvam o
álbum. Um refrão que gruda na mente e uma letra bem despretensiosa, a faixa
traz tudo que queremos ouvir num álbum de Lenny Kravitz, incluindo um ótimo solo
de guitarra. A música traz um instrumental bem disco, com baixo e piano em
destaque, deixando tudo bem melódico e convidativo. Realmente um acerto e tanto!
Pra te manter dançando, o álbum
continua com “The Majesty of Love”,
que também traz funk da melhor qualidade. Os metais, a percussão e
especialmente o baixo, são apenas alguns dos intermináveis destaques dessa
faixa, que mostra muito bem o bom gosto e o talento de Lenny, não só como
compositor, mas como instrumentista também.
Uma bagunça, é do que podemos
chamar “Gold Dust”. Blues e rock entram
em uma falta de harmonia estranha e desconexa, onde os elementos
simplesmente não se encaixam em lugar nenhum. De longe a pior faixa do disco e
talvez uma das poucas da carreira de Lenny que realmente podemos chamar de
ruim. Finja que o álbum tem onze faixas, é melhor assim.
Quem é fã de longa data do
cantor, provavelmente vai gostar muito de “Ride”,
especialmente pela semelhança com o hit “It Ain’t Over ‘Til It’s Over” de 1991.
A canção tem grandes pontos positivos, como a ótima letra e a base agradável,
mas em certo ponto, a faixa fica estagnada e os vocais começam a ficar
repetitivos, talvez até forcem o ouvinte a dar o famoso skip.
“I’ll Always Be Inside Your Soul” é bem inesperada e não faz o menor
sentido no contexto do disco, mas apesar disso, a base calma e eletrônica, que até
flerta com a trap music, faz um lindo contraste com o lado
romântico-psicodélico de Lenny, tornando essa uma das canções mais ímpares da
carreira dele. Com essa ótima surpresa é que o álbum se encerra.
Raise Vibration não está entre os melhores álbuns de Lenny Kravitz,
mas nem entre os piores, afinal temos Baptism
e 5 na disputa. Quase nenhuma das
grandes canções que Lenny já se provou capaz de fazer está presente nesse álbum
e a inconsistência é evidente como poucas vezes foi em sua carreira. Nesse
caso, os singles são uma opção melhor de compra do que o álbum em si, o
desapontamento é real.
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