O reino dançante de Cher em "Dancing Queen"


Sem material inédito desde 2013, quando lançou o excelente e subestimado Closer to the Truth, os fãs se viram na mesma dualidade que acompanha cada era de Cher nesta década: aposentadoria ou pausa? Felizmente, dessa vez, pausa. Inspirada pelo universo musical da banda sueca ABBA ao participar da sequência de “Mamma Mia”, o passo dado foi um compilado curto, mas preciso das melhores canções do repertório da banda que reinventou os moldes do pop.

E a escolha não poderia ter sido mais adequada. Dancing Queen não deve ser ouvido como um álbum de covers; nem interpretado como uma tentativa de emular as originais. Pelo contrário, as releituras de Cher apesar de discretas e sutis fazem extrema diferença no resultado final e junto a sua voz trazem um frescor e sabor único ao projeto.

Iniciamos com o maior clássico de todos e que dá nome ao disco, “Dancing Queen”. É fiel à original, com alguns elementos eletrônicos que dão um toque mais atual ao conjunto. Os vocais não possuem tantas edições, o que torna uma versão interessante por podermos ouvir apenas a voz dela.

Em seguida, “Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)” é o tipo de música que já tem tons épicos pelo riff eletrônico que inspirou “Hung Up”, da Madonna, e foi extremamente inovador na época de lançamento. Aqui, já percebemos uma mixagem maior, que se encaixa perfeitamente na canção e se transforma num clássico Cher.


“The Name Of The Game” brinca mais com o ritmo e a voz de Cher, sendo uma versão inesperada e uma ótima surpresa, flertando até com um lado mais sexy. Até aqui, podemos perceber uma extrema coerência entre uma sonoridade atual que se mantém fiel à antiga, e isso é bastante raro.

“SOS”, primeiro single oficial do projeto, dá uma acelerada e traz mais batidas por minuto que a original. Os vocais soam no ponto e casam muito bem com a faixa, resultando num dos auges do disco que se mantém sólido. Junto com “Gimme!”, as duas são as que tem mais chances de ser daquelas que possivelmente irão tocar incessantemente nas boates LGBT da Europa, famosas por nunca deixar passar nenhum sucesso dançante da Deusa do Pop.


“Waterloo” mantém os graves pesados e deixa o ritmo mais divertindo, abrindo espaço para a também divertida “Mamma Mia”. Cher foi cuidadosa ao não modificar a estrutura de ambas, mas atualizando-as o máximo possível, refrescando a sonoridade e imprimindo sua personalidade sutilmente como no discreto vocoder em “Mamma Mia”.

“Chiquitita” é mais emocional ainda e muito calorosa, deixando um sorriso no rosto de qualquer ouvinte. É impressionante como a voz de Cher consegue carregar tanta emoção. “Fernando” não traz muitas novidades depois da versão do filme, a não ser por ser somente com os vocais dela e discretamente mixada para ficar mais coesa no álbum. Ainda assim, mantém-se mais fiel à sonoridade nostálgica e casa muito bem com a voz encorpada da cantora.

“The Winner Takes It All” é uma canção essencial que não poderia faltar, além de ser uma das mais aclamadas mundialmente do grupo e de mais difícil execução vocal. Portanto, Cher decidiu por não arriscar em áreas tão complexas em que Meryl Streep, por exemplo, fez com maestria no passado (ela decidiu por fazer isso a seguir), e fez uma versão dançante que ainda é emocionante, mas brinca mais com o vocoder e a dinâmica da música, sendo um tanto inesperado e uma surpresa positiva. 

Mas a melhor surpresa estaria guardada em “One Of Us”, completamente desnuda e no auge de sua emoção. Os vocais mexem com os sentimentos de qualquer um, a dor é iminente o álbum termina com um gosto agridoce, seja pela tristeza das últimas notas emitidas ou pela grandiosidade de tudo que tivemos a oportunidade ouvir nessas 10 músicas.


Como um todo, Dancing Queen é um compilado de canções já conhecidas pelo público em versões refrescantes, atualizadas e revisitadas, com fortes nuances de nostalgia. O melhor de tudo é ser presenteado com um trabalho que abre espaço para ser ouvido sem lembrar diretamente o corpo original do ABBA, por ter tanta personalidade de Cher inserida em cada elemento de todas as músicas. 

É uma homenagem ao ABBA mas também a ela mesma. Dancing Queen era o passo mais adequado pois agradaria do público mais jovem ao mais adulto, e funcionou: em 55 anos de estrada, Cher terá o maior debute da sua carreira nos Estados Unidos com este álbum, tendo chances de estrear em #2 com 72 anos. Parabéns e obrigado pela música, Cher!

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