Em "Caution", Mariah Carey mostra cautela ao entregar seu melhor trabalho em anos

Nesta última sexta-feira (16/11), Mariah Carey lançou Caution, seu primeiro disco em 4 anos, que mais pareceram décadas de espera. Após o mediano Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse e seu longo nome de gosto duvidável, a cantora enxugou o repertório e trouxe um total de apenas 11 faixas, perfeitamente harmonizadas sintetizando todo o talento que ela pode oferecer atualmente.

Que Mariah já não tem a mesma voz de anos atrás, todos sabemos. Isso é natural para qualquer um que use a voz como instrumento de profissão, mas parecia que enquanto o mundo todo sabia, Mariah ainda acreditava ter o mesmo alcance para firulas vocais como antigamente - é o que percebemos em canções como “Supernatural” e “Heavenly”, ambas do álbum anterior.

Já em Caution, ela parece ter consciência de sua voz e a utiliza com perfeição, como nos vocais sussurrados característicos presentes nos singles “GTFO” e “With You”, que agora provam não merecer os títulos de buzz single e lead single, respectivamente. Ainda que sejam canções excelentes, soam mais como canções favoritas dos fãs e que não possuem tanto impacto no mainstream.


O cenário muda em “Caution”, canção que dá título ao álbum. A temática da música diverge do que se imagina do título, mas traz em suas letras composições poéticas que mostram Mariah em um de seus auges criativos. Criando uma atmosfera ora misteriosa, ora sensual, ora melancólica. Claramente a melhor escolha para lead single, esta música intensifica o lado sentimental do álbum enquanto pincela ritmos envolventes.

“A No No” vem em sequência, representando um dos maiores momentos do álbum: no que é, provavelmente, a canção mais acelerada do projeto (o que já diz muito), Mariah utiliza-se do artifício da nostalgia, trazendo samples de Lil’ Kim, vocais do lendário Notorious B.I.G. e ainda interpolando perfeitamente a icônica canção “No Scrubs”, do trio TLC.


“The Distance” é a que soa mais inovadora no repertório de Carey, em um refrescante momento do disco. Já é metade da curta tracklist, e o ritmo poderia desacelerar - mas esta canção, que traz um poderoso instrumental baseado na canção “Happy Song”, empolga pelas boas vibrações. “Giving Me Life”, parceria com Slick Rick e Blood Orange, é o auge do projeto. Batidas cruas de hip-hop mescladas à melodias pop e guitarras que aparecem de surpresa. O brilho deste momento é a produção, assinada por Carey e Orange, elaborada e intensa. Seus mais de 6 minutos de duração são imperceptíveis e logo chegamos a “One Mo’ Gen”. Não é um destaque, mas não interfere no andamento do CD - a ponte entre os versos e o refrão é irresistível, dando um charme único à canção.

“8th Grade” toca nas feridas da infância de Mariah, discutindo seus sentimentos da época. Produção de Timbaland com Mariah, conta ainda com Poo Bear na composição - famoso no Brasil pela parceria com Anitta. “Stay Long Love You” é um clássico filler que sempre podemos esperar - não adiciona nada positivo, não é ruim o suficiente para ser um ponto negativo, tornando-se apenas esquecível. 

Ainda mais quando precede “Portrait”, um dos maiores momentos de Mariah em toda sua carreira. Resgatando sentimentos melancólicos referenciados em “Looking In” e “Outside”, a cantora se segura nos vocais, mantendo-se fiel à sua realidade atual. No entanto, o conteúdo lírico e a melodia chorosa da canção nos levam à um novo universo, tal qual as duas mencionadas acima também fazem. É muito gratificante vê-la atingir picos criativos mesmo com tantos anos de carreira.


Por fim, “Runway” é o presente dela para os fãs japoneses, e brinca com a nostalgia auto-referencial, inserindo o trecho “the way it feels to fly”, de sua canção Butterfly, na interpolação utilizada ao longo de toda a canção. É uma canção interessante e curiosa, com letra inspiradora, mas é fácil compreender o por que de ser uma faixa bônus.

Em geral, Caution alterna diversos momentos de ironia e melancolia, focando mais nas qualidades e nuances que a voz de Carey oferece atualmente do que em piruetas vocais que, apesar de todos amarmos mais do que qualquer coisa, precisamos compreender que o tempo passa. Aqui, nesse caso, o tempo passa, mas como o vinho derramado mencionado em “Giving Me Life”, Mariah Carey só fica melhor.

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