Gnash explora sua vulnerabilidade com temática pós-término de namoro em álbum de estreia

Acompanhado de melodias pop suaves, o cantor e rapper californiano Gnash nos presenteou com seu primeiro álbum de estúdio we, que passa, de maneira muito delicada, por todas as fases de um fim de namoro. Do começo ao fim, o artista entrega composições e performances muito genuínas.

Para o seu tão aguardado primeiro disco completo, Gnash superou as expectativas. Gravado em Los Angeles e em Nashville, we traz um time de peso para a produção, incluindo Imad Royal (The Chainsmokers, Panic! At The Disco), Scott Harris (Shawn Mendes, The Chainsmokers, Alessia Cara) e Jimmy Robbins (Kelly Clarkson, Kelsea Ballerini, Maren Morris) e muitos outros. Além disso, o artista teve a decisão inteligente de incluir seu smash hit “I Hate U, I Love U” com Olivia O’ Brien, que levou o artista aos holofotes, o fazendo alcançar o topo da Billboard e ganhar quatro vezes o certificado de platina.

E é ainda nesse contexto grandioso em que Gnash traz um conceito sensível, indo em profundidades sentimentais jamais alcançadas em nenhum outro lançamento e sempre amarrando muito bem uma faixa à outra, transformando a experiência imersiva, completa e apaixonante. “Happy Never After”, a primeira faixa, já apresenta de cara a identidade que o trabalho leva: melodias lúdicas, com temática de fim de relacionamento, que contrastam entre os seus pensamentos obscuros e a sua voz doce e aveludada. 

Após revelar a dificuldade de acreditar no amor na primeira faixa, Gnash segue desiludido em “Imagine If”. Guiado pelo piano e por um flow incrível, o artista cria uma atmosfera leve e despojada para imaginar como as coisas poderiam ter sido diferentes com a mudança de alguns detalhes. Toda sua tristeza é disfarçada por batidas marcantes, contagiantes e cheias de estilo, assim como em “Nobody’s Home”, onde o mesmo reflete sobre a solidão pós-término acompanhado de melodias criativas.


O ciclo do ritmo mais alto astral se encerra em “T-Shirt”, o grande hit e provavelmente uma das mais poderosas e radiofônicas do disco. Enquanto canta sobre seu coração partido e a camiseta que a ex esqueceu em sua casa, o artista impressiona com a evolução melódica que vai de um violão acústico para uma explosão sonora protagonizada pela guitarra que lembra suas influências emo de 2007. É uma mistura de raiva e coração partido. Os mais de 2.5 milhões de streams da música dizem muito sobre o potencial da mesma.

O seu lado sóbrio começa a tomar conta já na deliciosa “Insane”, onde o cantor canta sobre perder sua sanidade em uma canção agridoce apaixonante guiada pelo ukulele. É um dos tesouros mais brilhantes do álbum. Sua fragilidade continua tomando conta em “Dear Insecurity”, que conta com participação de Ben Abraham. A música é um hino sobre inseguranças e abraça a humanidade de maneira muito única. Insegurança é, aliás, um dos grandes pilares do disco, sendo representada muito bem mais tarde na angústia da monotonia que carrega a faixa “Wait” ou na desoladora temática de “Broken Hearts Club”


Em todo momento, porém, o cantor não parece ter filtro ao representar seus sentimentos e é isso que torna o disco tão especial. Sua instabilidade e vulnerabilidade não é escondida e brilha aqui em forma de arte. Ele passa, dessa forma, muita empatia às pessoas que se sentem incompreendidas no mundo. Ele cria um lar para os desolados a cada palavra cantada.

E mesmo afogado pelo peso do coração e de seus próprios pensamentos, o cantor não deixa de também revisitar os melhores sentimentos de estar apaixonado e vivendo um amor, assim como executado nas iluminadas e românticas “Pajamas” e “Feel Better”. Tudo é expressado com muita paixão e criatividade.

Já chegando ao fim, temos a acústica “Be”, onde o cantor fala novamente sobre se entregar completamente ao amor e à cumplicidade que um relacionamento tem. Mas isso acaba se tornando em conflito no triste e intenso dueto que ganhou vida ao lado de Olivia O’ Brien. “I Hate U, I Love U” está longe de ser novidade. Lançada em 2017, já impactou muitos charts e ganhou vários certificados ao redor do mundo, mas ainda depois de tantos anos, impacta com a mesma profundidade.


E em “PS”, a última do disco, seu vazio, dor e desespero, que assombravam nas músicas anteriores, agora se concretizam na compreensão que penava para aparecer nas últimas canções. Poética e simples, a faixa traz versos como “Will this be forever? I guess we’ll wait and see. Even if we’re not together, we’ll forever be we”. Assim, Gnash termina esse material com maturidade e fecha o conceito do disco.

Exalando puro sentimento, Gnash evidencia que o amor, compaixão e empatia permanece além de qualquer outro buraco que ficou. Mesmo em seus estados mais vulneráveis, o que permanece são as boas lembranças. E isso, o cantor, registra em um disco muito inspirado, apaixonante e afetivo.

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