Mac DeMarco nos presenteou na última sexta-feira (10/05) com o seu quarto disco de estúdio, Here Comes The Cowboy. Mais uma vez, o grande músico de indie rock traz um pouco de simplicidade exótica que tanto amamos com seus pensamentos mais profundos.
Apesar de sua personalidade cômica, não dá para negar o encantamento introspectivo que Mac já nos proporcionou em seus discos anteriores. Sempre muito sensato, o músico veio construindo um legado de músicas confessionais e reflexivas. É nessa mesma vibe que o cantor agora continua no novo álbum Here Comes The Cowboy, que se firma ainda mais emocionante e vulnerável do que o último disco, com uma pitada do universo que gira em torno de referências de cowboy. É um contraste bem grande, mas que mostra um pouco dois lados de Mac: o caricato e o sensível.
Sobre o álbum, o cantor afirmou: “Esse é o meu disco de cowboy, que é um termo de ternura para mim. Eu o utilizo frequentemente quando me refiro a algumas pessoas da minha vida. Este álbum foi gravado na minha garagem, durante as duas primeiras semanas de janeiro de 2019. Eu toquei todos os instrumentos, exceto por um pouco de teclado aqui e ali, tocado por Alec Meen, meu tecladista de turnê e amigo para a vida”.
A faixa que deu nome ao disco abre a tracklist com um estilo americana assombroso e contínuo que repete "Here Comes The Cowboy" em uma atmosfera fúnebre. O resto do disco permanece inteiramente nessa vibe, com exceção de um momento meio desconexo, onde Mac exala seu lado cowboy de um jeito mais extrovertido, como vemos no funk divertido e descolado de "Choo Choo": "choo choo take a ride with me/ Choo choo you can die". As referências de cowboy também são vistas também na calmaria romântica de "Hey Cowgirl", mas nada se mantém tão para cima como a citada anteriormente.
Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta das composições mais pessoais e delicadas de Mac DeMarco, que ainda tomam conta do disco. Dessa forma, Mac resgata muito bem a sensibilidade e temáticas apresentadas em suas discografias anteriores, sempre bem acompanhado de um violão ou até piano às vezes. Em "Nobody", Mac reflete sobre a fama ser um caminho sem volta. Em "Finally Alone", então, Mac coloca para fora o sentimento de solidão, longe de qualquer agitação, botando seu jeito caipira e cowboy de ser: "Sick of the city, locked in with all the pretty people / You need a vacation". É aí que percebemos o conceito do disco e como ele se conecta com a solitude melancólica natural de Mac DeMarco: o cowboy, em sua fazenda, longe da cidade, ou seja, longe da fama.
Daí para frente, o álbum se torna um grande retrato social da modernidade, se mostrando até obscuro em grande parte. Acompanhada de uma deliciosa guitarra, "Preoccupied" representa bem isso: "Locked up your heart / Without even knowing it / Must be a sign / The days that we’re living in / Preoccupied / And nobody’s hiding it.". A música em homenagem a Mac Miller, "Heart To Heart", bebe da mesma premissa, mas dessa vez com um tema muito mais íntimo ao espectro de Mac. Acompanhada de um piano cheio de soul, ele conta sobre sua amizade com Mac Miller, que nos deixou em 2018. Porém, a reflexão master sobre como vivemos atualmente vem na incrível "On The Square", que traduz muito bem a tendência de nos fecharmos nos nossos próprios quadrados cada vez mais e socializando com o próximo cada vez mesmo.
Por fim, Mac DeMarco nos leva à mais ambiciosa faixa do disco, "Baby Bye Bye". Encerrando bem a obra, ela representa o término de um grande relacionamento não só com a incrível composição de Mac, mas também com um experimentalismo instrumental surreal, que mescla com diversas nuances e mexe com ritmos mais agitados e mais lentos, representando muito bem a inda e vinda desse amor. Tudo é fechado com um tom melódico de primeira.
Nos surpreendendo mais uma vez com um trabalho criativo, Mac DeMarco brilha por completo em Here Comes The Cowboy. Tudo é executado de forma muito bonita e suave e é possível sentir a sua entrega de corpo, alma e coração. É simples, porém muito autêntico. Gostando de suas referências estranhas, dessa ideia de cowboy introvertido, ou não, uma coisa é unânime: o jeito como ele aborda o mundo atual é, de certa forma, um ato revolucionário.
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