Quatro anos após o lançamento do último disco, Beneath the Skin, a banda islandesa Of Monsters and Men retorna aos holofotes com seu terceiro álbum de estúdio, Fever Dream.
O disco mostra mudanças no som da banda que, ao longo das 11 faixas, abre mão de alguns elementos orgânicos e nórdicos para experimentar sons mais metálicos, além de muitas distorções na voz. Apesar disso, é inegável que a essência do grupo, principalmente na forma de metáforas com a natureza, ainda está presente.
A primeira música, que também é o lead single, “Alligator”, é o melhor exemplo para englobar o som do álbum. O ritmo é fortemente marcado por uma bateria, além de outros elementos mais pesados, mas que mesmo assim não tiram a atmosfera mágica que só Of Monsters and Men é capaz de criar. Vale destacar a beleza do clipe para essa música, principalmente para os cortes que seguem as marcações da bateria.
“Ahay” não tem uma produção tão encantadora quanto às outras. Entretanto, a letra é simples e bonita, falando sobre sentir atração por alguém, mesmo com a sensação de não conhecê-la de verdade. Vale dizer que o refrão lembra muito a clássica “Fireflies” do Owl City. Apesar do nome engraçado, “Róróró” faz referência ao verbo to row (remar em português), mostrando o dilema de pessoas que, por medo de se entregar, acabam fugindo de relacionamentos.
“Waiting For The Snow” é o primeiro destaque do álbum. A distorção das vozes é combinada com o som de um aparelho de monitoramento de batimentos cardíacos, dando um ar melancólico que traz lágrimas aos olhos. A letra, que fala sobre o peso de carregar o mundo nas costas, se complementa muito bem com a produção, criando uma balada inesquecível.
“Vulture, Vulture” e “Wild Roses” repetem a estrutura clássica, em que as estrofes crescem até explodir no refrão. Apesar de não soarem tão inovadoras na produção, elas cumprem o papel de entreter o ouvinte.
O segundo destaque vai para “Stuck In Gravity”, que tem o refrão perfeito para cantar com o isqueiro – ou o telefone – para o alto. A música fala sobre sentir-se sem rumo por causa da saudade, e a crescente ao longo dos minutos traz uma sensação de superação. O verso “Head is still an animal” fazendo referência ao álbum de estreia da banda, My Head Is an Animal, é um detalhe singelo, mas que aquece os corações dos admiradores da banda. Ouso dizer que esse trecho é mais do que só um easter egg, é uma mensagem para os fãs: “o som pode mudar, mas a essência da banda vai permanecer”.
“Sleepwalker” tem um refrão que lembra um pouco a música “Up&Up” do Coldplay. Mesmo não sendo a faixa mais alegre, tem uma melodia gostosa, principalmente durante o refrão. “Wars” é a faixa mais animada, daquelas que você imagina uma multidão (olá Lollapalooza 2020) acompanhando com palmas. O tom alegre das estrofes e do refrão é contagiante, e gritam para ser o próximo single.
“Under A Dome” é a única faixa explícita, e também a que mais foge do comum para a banda. A produção é mais pesada e introspectiva, o que cria uma atmosfera mais dark. Por ser mais experimental, é a música que pode causar maior estranheza com relação aos fãs. Os longos trechos instrumentais têm elementos que lembram o ambiente de uma fábrica. O ultimo verso da canção é extremamente distorcido, o que dificulta o seu entendimento, porém complementa bem a crescente industrial criada ao longo da música.
“Soothsayer” é o perfeito encerramento, trazendo a mistura da música mais orgânica com os elementos metálicos que foram introduzidos ao longo do disco. O refrão é melódico e grudento, e o coro de “Stay here” contribui para dar o tom à faixa mais romântica do álbum.
De maneira geral, Fever Dream representa uma evolução singela, porém significativa. A banda não tem medo de arriscar com novos elementos, mas tem consciência e respeito por sua essência. Assim, o álbum consegue cumprir o objetivo de conquistar um novo público e o de agradar os fãs que conhecem o grupo desde “Little Talks”. Agora só resta esperar para descobrir qual é o próximo passo da banda Of Monsters and Men.