Halsey mostra toda a sua vulnerabilidade em novo álbum "Manic"



Depois da distopia que envolveu a temática de Romeu e Julieta criada para o Hopeless Fountain Kingdom, Halsey retorna a todo vapor para agora narrar a vida real. Manic é o título de um novo álbum muito pessoal que consegue concentrar um pouco de tudo em sua sonoridade e temática. É intenso em todos os sentidos.


Pela primeira vez desde a obra-prima alternativa Badlands, a cantora se mostra vulnerável e expõe suas próprias inseguranças ao grande público. Suas letras envolvem muito mais do que relações pessoais, exteriorizando também os seus problemas de autoestima e confiança. O nome do álbum também é bem honrado já que o disco desnuda seus sentimentos mais angustiantes e tudo parece estar imerso em uma atmosfera de psique.

A melodia doce, lenta e suave do terceiro álbum de estúdio muitas vezes esconde a pesada temática que o envolve. Os sons abafados e futuristas são bem explorados, junto aos vocais agudos da cantora que na maioria das vezes passam um sentimento de agonia, raiva ou confusão, ao mesmo tempo que temos os momentos românticos e de melancolia. Nas faixas, ainda conseguimos nos deparar com o pop misturado ao R&B, ao rock (já utilizado em “Nightmare”) e até ao country, como nunca visto nas produções de Halsey.
“Ashley” é a faixa de abertura e também o nome da cantora. A sua letra, muito autocrítica, já evidencia a proposta do álbum de mostrar os seus mais internos pensamentos, essência e verdadeira identidade. Ela é uma das poucas no estilo já explorado em outros trabalhos, com batidas mais pesadas de R&B, pop e atmosfera obscura.
Então, nos deparamos o single “Clementine”, que por sua vez honra a ideia dos pensamentos e da psique através da melodia. Ela intercala um ritmo lento, calmo e sons abafados com picos de emoção e vocais gritados. Do mesmo modo, traz contradições na letra, como se tudo fosse muito confuso. Segundo a própria cantora, a faixa foi inspirada na personagem Clementine do filme O Despertar da Mente (2004), uma figura cheia de cor e energia. Em vídeo feito para o Spotify ela descreve “Você pode ouvir duas vozes. Uma é Halsey, calma e performática. A outra é Ashley, gritando o seu coração fora compulsivamente ao fundo.” 

Logo depois ouvimos um dos singles mais importantes e que mais resumem o Manic, "Graveyard". A sua sonoridade tranquila embala a importância do amor próprio, principalmente em meio a um relacionamento amoroso de forma extremamente poética. "I know when you go down all your darkest roads/I woulda followed all the way to the graveyard”.


O violão ao fundo em “You Should Be Sad” inaugura a influência country antes nunca explorada pela cantora. A faixa é marcada por uma pegada futurista e trágica no estilo “Nothing Breaks Like a Heart” de Miley Cyrus. Porém, aqui ela retorna às raízes para falar sobre relacionamentos amorosos frustrados. “Finally // Beautiful Stranger” é a outra única puxada para o country. A atmosfera romântica de campo continua a falar sobre o amor, mas pela primeira vez no álbum ela está otimista. Narra um dia romântico com o parceiro, toda a insegurança de um novo relacionamento e ao mesmo tempo toda a paixão.



“Forever... (is a long time)” volta com a suavidade e atmosfera doce, até um pouco infantil, de “Clementine”. O violão e o piano evidenciam a melancolia e marcam a construção, que não é nada convencional e relembra faixas de trilha sonora dos filmes da Disney para fazer uma reflexão sobre a sua jornada como artista até aqui, mostrando tanto os momentos bons como os ruins.

Outro fator interessante são os interlúdios marcados por parcerias com cantores também de diferentes gêneros. “Dominic’s Interlude” é o primeiro deles, colaboração com Dominic Fike, cantor e rapper americano. Ele se liga perfeitamente a “I HATE EVERYBODY” e de novo a melodia volta a ser leve e suave, as vezes até alegre, o que engana sobre o assunto dos versos. Agora a artista discute sobre insegurança e a sua visão sobre o amor começa a aparecer, mesmo ainda sendo pensamentos individuais, sem um outro ou um momento específico.

Entre a faixa e o próximo interlúdio ainda temos “3am” e “Without Me”, ambas no mesmo estilo já utilizado pela cantora em outros álbuns, fora a “Finally // beautiful stranger” já citada. Contudo, com as guitarras e bateria ao fundo a primeira inicia a influência do rock que aparecerá mais adiante, principalmente pela sua parceria com Alanis Morissette. Nela, questiona sobre as suas relações, tanto de amizade quanto amorosas e ainda aborda os problemas da bebida alcoólica. Até porque Manic também é um álbum sobre estado mental e bipolaridade, condição enfrentada por Halsey.

“Alanis Interlude” chega para dar um toque de empoderamento feminino, porque mesmo com um disco pautado na vulnerabilidade, o tema não poderia faltar nos trabalhos da cantora. A sua atmosfera sensual e ousada cabe perfeitamente a trama. Então, "Killing boys" segue a mesma linha. É mais um hino feminista para a indústria do pop. Com uma pitada de rock e batidas fortes de bateria ela supera, quer vingança e está autoconfiante. “Cause I don’t need you anymore”

“SUGA’s Interlude” chega para mudar o curso novamente. É uma parceria com um dos integrantes da banda coreana BTS. Por isso, tornar tudo pop e melancólico. A cantora questiona se deveria continuar com as performances ou passar a apenas escrever suas músicas. Quando se quer ser uma super mulher e fazer um pouco de tudo, o tempo fica curto e a saúde mental pode até se comprometer.

A partir dele, as faixas realmente seguem tristes e lentas. “More”, com os seus sons eletrônicos inesperados e os sinos, narra seu vazio jamais preenchido após um aborto que teve anos atrás. É uma carta aberta singela, honesta e cheia de sentimento. “Still Learning” volta a si mesma para falar sobre amor próprio “I should be living a dream but I go home and I got no self-esteem”, também com as batidas pop urbanas e dramáticas. Para enfim, a artista fechar o compilado com “929”. Um resumo perfeito desse álbum e de sua vida pessoal e sentimental.
Manic, ao chegar em seu último segundo, nos deixa um vazio no peito que machuca, de certa forma, mas que também abre espaço para uma reflexão inspiradora a qualquer um. Este é o maior disco da carreira até agora, por um simples motivo: além do talento inquestionável de Halsey, pudemos conhecer um pouco da alma iluminda, do coração forte e da mente imparável de Ashley, que fez deste lançamento um ambiente íntimo e honesto com seus fãs. Um verdadeiro marco histórico!