Entenda o conceito por trás de "~how i’m feeling~", álbum de estreia do cantor Lauv

Em seu aguardado álbum de estreia ~how i’m feeling~, o cantor Lauv apresenta um som diverso e composições reflexivas sobre sua vida pessoal, expondo até momentos de solidão, bom humor, paixões e corações partidos. Com esse primeiro disco oficial, o cantor tenta encontrar seu som no pop e, de forma humanizada, se aproxima de seu público, predominantemente formado pelas novas gerações.

Com os his "I Like Me Better" e "Paranoid", Lauv foi se tornando discretamente um dos grandes nome em ascensão do pop. Mesmo seguindo sua carreira de forma independente, o artista acumulou bilhões de streams, escreveu músicas para grandes artistas, como Charli XCX, entrou em turnê com Ed Sheeran, e já fez shows em todo mundo como headliner. Tudo isso sem lançar oficialmente um álbum. Imagina então agora.

~how i’m feeling~ é a obra que promete consolidar de vez o cantor dentro da cena. Cantando sobre suas dificuldades no amor, problemas com ansiedade e inseguranças, Lauv abre portas para discussões sobre saúde mental, um assunto que ainda é tabu para muitos. O músico, muito vocal sobre seus problemas com depressão, mergulha no tema com o desafio encorajador de se conhecer melhor e aceitar todas emoções, por mais contrastantes que elas possam ser.

Com essa proposta, ele amarrou o conceito perfeitamente ao criar 6 personagens que representam traços de sua personalidade: o positivo, o existencialista, o romântico ao extremo, o fuckboy, o palhaço e o explosivo. Todos se encontram e discutem entre si na websérie que Lauv criou, a One Man Boyband. Com muito humor, o cantor retrata como é conviver com todos esses lados de sua persona, indo à fundo na complexidade de sua saúde mental.

“~how i’m feeling~ começou num momento sombrio da minha vida, quando eu estava deprimido e tendo uma crise existencial. Eu não tinha certeza se seria capaz de fazer um álbum. Mas marca minha jornada do fundo do poço, no início de 2019, para um local estável de felicidade, plena expressão e auto aceitação. Esse álbum é tudo para mim e espero que o mundo o ame tanto quanto amei fazê-lo.”, contou Lauv sobre o lançamento.

O projeto começa com "Drugs & The Internet", uma balada que se transforma em um verdadeiro hit dançante e chiclete. Em tantos sentimentos à flor da pele, Lauv confessa ao fim: "I sold my soul/ And all I got/ Likes from strangers, love on the internet.". Dessa forma, ele abre já falando da solidão que veio com a fama, principalmente na era digital. Entre sintetizadores bem animados, tal sentimento é reafirmado bem claramente na faixa seguinte em parceria com Anne-Marie, "Fuck, I'm Lonely":  "It's been me, myself, and why did you go, did you go? Oh, Fuck, I'm lonely".

Seguindo, nos deparamos com o EDM dramático da inédita "Lonely Eyes", uma das surpresas mais cativantes do álbum. Lauv canta sobre não se conectar com ninguém, exceto pela garota que possui os mesmos "olhos solitários" que ele. Em "Sims", Lauv impressiona com um dos seus momentos mais criativos do álbum, em questões de composição e melodia. O cantor fala sobre conhecer a pessoa certa no momento errado e começa imaginar vários outros cenários para a ocasião que poderiam ser melhores, como se eles estivessem no The Sims, no MoMa e vários outros lugares.

A partir daí, o disco trilha um caminho de pop colorido e apreensivo que ilustra suas desilusões amorosas e picos de ansiedade, incluindo "Believed", "Fow Now", "Tattoos Together" e "Feelings". Essa última sendo uma das melhores faixas do álbum. 

Acima de tudo, o que fica nítido no disco é como Lauv se entrega com intensidade aos seus sentimentos, por mais contrastante que isso possa ser. Em um mesmo álbum nos deparamos com a  energia fervorosa de "Mean It", parceria com Lany, e a melancolia inspiradora de "Changes", em que o cantor expressa sua vontade de mudar para melhor.

Claro que, com um tracklist com mais de 21 faixas, é de se esperar algumas faixas descartáveis. Mas elas não deixam de cumprir o conceito de explorar um pouco de cada lado de sua personalidade. Aí entramos com a despojada "Sweatpants" e a picante "El Tejano" (com Sofia Reyes) representando o fuckboy. Também temos um pouquinho do Lauv palhaço na adorável faixa "Billy", em que o cantor usa o nome de seu cachorro pra contar sobre sua trajetória na música. Sua persona explosiva ganha espaço mais tarde em "Who", a parceria ácida com o BTS. E seu lado mais positivo aparece no doce dueto com Alessia Cara, "Canada".

Já o Lauv existencialista aparece, mesmo que repentinamente, em quase todas as faixas do disco de forma reflexiva. Mas em "Tell My Mama", esse lado de sua personalidade ganha bastante destaque. A canção é uma carta de desculpas aberta à sua mãe, comentando sobre seus arrependimentos, o passado do qual não se orgulha e o medo de morrer jovem demais. 

Ao fim do disco, o existencialista dá a mão para o romântico ao extremo. Estamos falando de "Sad Forever" e "Julia". A primeira serve de cenário para uma crise de ansiedade em seu ápice. Já na segunda, Lauv traz a performance mais crua do trabalho para falar sobre o seu relacionamento com Julia Michaels. As letras são profundas e o piano sombrio faz com que a faixa seja o momento mais intimista do disco. 

Na última faixa do disco, o cantor resume toda a essência de ~how i’m feeling~. Em "Modern Loneliness", Lauv descreve a forma como nos sentimos sozinhos, mesmo no meio da multidão: "We love to get high, but we don't know how to come down". Na canção, ele faz um panorama muito realista da nossa sociedade atual, apontando como o gozo da era digital é superficial. “We’re never alone, but always depressed, yeah,”, lamenta ele. Com um crescente colossal e um coro impactante, a faixa tem tudo para ser a favorita de muita gente.

Ao mesmo tempo que ~how i’m feeling~ representa a geração mais jovem com seu espírito vibrante, também reflete em comum o quadro de ansiedade gerado pelas relações interpessoais cada vez mais ambíguas e complexas. Com tantas emoções duelando entre si, Lauv mostrou que a vida é uma batalha constante como mostrada no famoso filme da Pixar Divertida Mente. O cantor nos mostrou que a aceitação de todos esses lados é o que transforma os árduos pensamentos na mais bela pista de dança.