Ellie Goulding une conceito e som comercial para seu novo álbum "Brightest Blue"

Depois de quase 5 anos do seu último, e controverso, álbum de estúdio Delirium, Ellie Goulding reencontrou a sonoridade que a fez ganhar os primeiros destaques de sua carreira no seu novo álbum, Brightest Blue.

A cantora britânica parece ter retornado às suas próprias origens para a sonoridade do seu novo trabalho, ou pelo menos, em metade dele. Ellie dividiu seu novo álbum em dois: a primeira parte, Brightest Blue, apresenta faixa que conversam mais entre si, com sonoridades e temas semelhantes, entregando um conceito bem amarrado, enquanto a segunda parte, EG0, funciona como uma espécie de coletânea de singles mais comerciais, fruto de suas parcerias anteriores do período entre álbuns. 

A primeira metade, Ellie é mais pé no chão, e narra os desenvolvimentos de suas relações conforme foi crescendo até resultar na mulher que é hoje. O álbum começa um tanto quanto tímido, com as faixas “Start” e “Power”, sendo que esta contém sample de “Be The One”, de sua conterrânea Dua Lipa. Fazendo uso de uma música um tanto quanto recente, a comparação é inevitável, e nisso Ellie desestimula o público, já que bem no ponto em que a música de Lipa funciona, “Power” amarga nos ouvidos. 

Embora o álbum peque ao não escolher duas faixas boas para ser seu cartão de visitas, a recompensa vem com a insistência dos ouvintes. Em “How Deep Is Too Deep” , as coisas melhoram, e enquanto narra um relacionamento claramente tóxico, Ellie volta à sua zona da conforto em termos de sonoridade, assemelhando-se muito ao seu segundo álbum de estúdio, Halcyon. A faixa é seguida pela interlude “Cyan”, que poderia perfeitamente estar integrada na música anterior. 

A seguir, o Brightest Blue continua a crescer. Com “Love I’m Given”, Ellie explora sua voz rouca a seu favor. O casamento entre o seu timbre e a melodia proporciona o primeiro grande ato do álbum. O mesmo acontece na faixa seguinte, “New Heights”, que é ainda mais engrandecida pelo uso de instrumentos clássicos. Os violinos e violoncelos dão a leveza necessária para que a mudança sobre a qual Ellie canta aconteça sem que seja muito brusca. 


“Ode To Myself” é a segunda interlude usada, e, assim como a primeira, não agrega sonoramente ao álbum, mas dentro da narrativa nele construída serve como epifania da cantora rever alguns pontos sobre como se relacionar de modo mais saudável. E nesse mesmo sentido surge “Woman”, uma das canções mais tocantes e vulneráveis do álbum. Sabendo explorar os lados positivos do seu relacionamento, “Tides” vem para trazer alegria e cor ao álbum. 

Já em “Bleach”, Ellie aprende a largar mão daquilo que não lhe faz bem. A segunda balada do álbum não é tão intensa quanto “Woman”, porém é mais sincera sobre as barreiras que ela ainda vai ter que enfrentar daqui em diante. Com “Flux”, a cantora volta a usar sua rouquidão ao seu favor, ainda ampliando a grandiosidade da música com uma orquestra tocando ao fundo. 

Encerrando a primeira parte do álbum em grande estilo, Ellie acerta em cheio na faixa-título, “Brightest Blue”. Contando com corais e arranjo de cordas ao fundo, e novamente remetendo à sonoridade dos seus primeiros álbuns, a cantora está enfim realizada por ter encontrado alguém que a faça feliz e enxergar o lado bom das coisas. A emoção trazida pelos instrumentos encerra a narrativa construída até aqui com chave de ouro, dando ao álbum um saldo mais que positivo, ainda que tenha tomado alguns riscos, com sonoridade bem mais introspectiva que seus últimos trabalhos. 


Foi pensando justamente nisso que a segunda parte, EG0 foi lançada junto ao Brightest Blue. As colaborações da cantora com grandes nomes do mainstream atual, como Diplo, Lauv e Juice WRLD serão as responsáveis por dar ao álbum grandes números caso a experimentação da cantora não atinja tantos públicos quanto fez na sua fase mais comercial. 

Mesmo que mostrando ao grande público a face mais experimental da cantora, o Brightest Blue tem grandes chances de ter boa recepção entre os ouvintes. Não fosse as primeiras faixas, ou então as interludes desnecessárias, até mesmo o lado mais experimental de Ellie não correria risco de ser rejeitado. 

Em seu quarto álbum, Ellie Goulding usa sua voz com maestria nas melodias e não tem como desviar da grandiosidade que sua obra se propõe com instrumentais repletos de elementos clássicos. Prova disso são as faixas “New Heights”, “Brightest Blue” e “Bleach”. Sem deixar nada a desejar, Ellie entregou seu melhor trabalho lançado até então. Teve conceito e coesão, e com certeza não será diferente quanto a sua aclamação.

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