A espera acabou, mas convenhamos que nem demorou tanto assim! Pouco mais de duas semanas do anúncio, o sexto álbum de estúdio de Ariana Grande já está entre nós. Intitulado positions, o projeto tem, ao longo de 14 faixas, várias abordagens ao redor do R&B, além de parcerias Doja Cat, The Weeknd e Ty Dolla $ign.
Tirando o gênero que predomina no álbum, o conceito de positions não é muito claro. Dando exemplos de sua própria carreira, “Dangerous Woman” apresentava uma Ariana deixando de lado as orelhinhas de gatinho, e apostando numa máscara de coelho feita de látex, numa clara alusão ao sadomasoquismo. Foi sua saída definitiva do teen pop e sua entrada fenomenal e poderosa ao universo das divas do gênero. “Sweetener” tinha o cabelo platinado, o mundo de cabeça para baixo e o desafio de abordar, de forma respeitosa, as consequências do atentado em Manchester. Seu último álbum, “Thank U Next” foi uma verdadeira catarse de sentimentos, abordando o noivado relâmpago com o comediante Pete Davidson, a morte do rapper Mac Miller e a cobertura intensa de sua vida pela mídia. A principal diferença está ligada ao fato de positions ter sido divulgado quase que de surpresa, sem entrevistas ou declarações da cantora e de sua equipe. Então, baseado no lead single e no photoshoot, só é possível deduzir que, além do R&B, Ariana adotou um visual clássico e com referências aos anos 60. Agora é hora de descobrir que tais características fazem parte do álbum!
O começo de “shut up” é composto por instrumentos de corda, uma possível referência ao lado classudo da era. Assim como em “positions”, a melodia é muito ditada pelo violão, porém no caso da abertura também é acompanhada por violoncelos e violinos. Os versos são ligeiramente mais acelerados, enquanto que o refrão se preocupa em estender a frase “shut up” com melismas maravilhosos. A verdade é que seria uma faixa extremamente bem linear, se não fosse a virada no último refrão, que remete à um conto de fadas que deu errado, o que não deixa de ser mentira, já que Ariana canta sobre um relacionamento que deu errado, pedindo encarecidamente para que o ex cale a boca e siga sua vida. Confesso que parece que estou pegando no pé de Ariana, mas devo alertar que a forma pausada com que canta nos versos lembra um pouco o hit “7 rings”.
O curioso título “34+35” traz a tão esperada essência que muitos fãs teorizaram após a divulgação do nome “positions”. Numa referência à posição sexual 69, se você não percebeu é só fazer a soma, Ariana questiona se o seu parceiro aguenta a noite inteira, enquanto faz diversas referências a outras posições sexuais e ao ato do sexo em si. Mantendo a frequência do uso de instrumentos de corda, dessa vez são combinados com uma batida mais marcada, que lembra trap, mas também a torna mais dançante. Muitos especulam que esse possa ser o segundo single do álbum, e considerando a faixa foi a única lançada com um lyric video, a certeza é praticamente concreta.
Doja Cat é a primeira parceria do álbum, na dançante “motive”. Abandonando as cordas pela primeira vez, as batidas são pop clássico e remetem à era Dangerous Woman. Já na letra, Ariana questiona as intenções de seu parceiro, indicando que ele pode conquistá-la então não deve ficar brincando com seus sentimentos. A presença de Doja é responsável por dar um up na canção, que é boa, mas me soa deslocada da tracklist. Apesar disso, não me surpreenderia se ganhasse um clipe para aproveitar o hype da dupla. Infelizmente “just like magic” não é tão mágica assim. O refrão soa bobo, e talvez seja essa a intenção, mas nem a composição, que pede para estalar os dedos, nem a produção, que novamente lembra as batidas de trap, convencem de que é uma abordagem irônica sobre a vida.
As expectativas para a parceria com The Weeknd são altas, afinal ela já rendeu a maravilhosa “Love Me Harder”. Confesso que até a metade de “off the table” eu me senti decepcionada, pois apesar de ter um instrumental dramático e sensual, ela é linear de uma maneira que reconhecer o refrão não é uma tarefa muito fácil. Apesar disso, da ponte para frente a faixa ganha uma força tremenda, com vocais absurdos de ambos, que transmitem perfeitamente a ideia de que aquele amor ainda não está fora de questão.
Os instrumentos de corda voltam a dar as caras em “six thirty”, onde Ariana questiona o boy se ele é capaz de lidar com toda a sua bagagem. O refrão é super curto e tem batidas mais marcadas, não necessariamente muito cativantes, pois assim que você começa a curtir, ele acaba. Aliás, esse é um problema frequente no positions. O grande destaque de “safety net” é o rapper Ty Dolla $ign, que entrega ótimos vocais e ainda harmoniza com Ariana. Cantando sobre pular de cabeça num relacionamento, sem se importar com a queda, os vocais masculino e feminino constroem uma ótima atmosfera, que mostra a dinâmica do casal e os medos com relação à seus sentimentos.
“my hair” é a responsável por mostrar uma nova faceta de Ariana, que flerta com um jazz classudo ao longo de 2 minutos e 38 segundos. O começo com um violão logo é substituído por saxofones, que criam uma atmosfera sensual enquanto ela incentiva o parceiro a passar as mãos em seu cabelo. A canção ainda é dona de uma sequência invejável de whistles em seu encerramento. Outra faixa muito aguardada pelos fãs é “nasty”, que ganhou teasers divulgados pela própria cantora. Com uma forte presença do R&B, ela é mais uma que entrega o que muitos fãs desejavam: uma letra sensual e sexualmente aberta. Ariana provoca o parceiro no refrão “Don't wanna wait on it / Tonight, I wanna get nasty (Yeah, yeah) / What you waitin' for? (What you waitin' for?)” enquanto entrega excelentes vocais, com direito à whistles.
Falando sobre entrega, “west side” fala sobre ceder aos sentimentos. Infelizmente é uma das mais fracas do álbum, pois sua produção é similar a outras faixas, e acaba dando uma sensação absurda de filler. Talvez tenha a ver com o fato de eu ter feito maratona da série “Emily In Paris” a pouco tempo, mas a primeira imagem que me veio à mente ao escutar “love language” é um casal sentado num bistrô francês e trocando juras de amor. Abordando a cumplicidade entre o casal, Ariana canta sobre adorar a forma doce com que seu parceiro fala. Um ponto questionável é a ponte, que pode ser interpretada como cringe ou despretensiosa, já que tem versos como “Baby, pardon my French, but could you speak in tongues?”. É uma produção mais agitada, principalmente no refrão que é acompanhado por instrumentos de corda. A presença da outro é interessante, mas por ser rápida e ter um ritmo pausado, acabando esbarrando na essência do álbum Thank U Next.
Pulando “positions” e indo direto para “obvious”, a faixa fala sobre se declarar para o parceiro, deixando claro seu amor e empenho no relacionamento. O ritmo é mais agitado e marcado por estalos, e consegue a proeza de fugir do fantasma do disco anterior sem diminuir a velocidade. O álbum se encerra com a balada “pov”, onde Ariana canta sobre desejar se enxergar do ponto de vista de seu parceiro, para assim amá-la por inteiro. Definitivamente é um destaque vocal, pois mostra uma voz mais rústica e intensa da cantora, acompanhada por uma produção mais calma, que explode no último refrão.
Outra questão complicada é a duração das canções, e sim, eu entendo que estamos na era do streaming, mas não acho que nada justifique uma faixa com menos de 3 minutos, ou com exatos 2 minutos e 14 segundos como é o caso de “west side”. O grande problema é que por serem curtas, as faixas emendam umas nas outras e acabam soando parecidas, então se você viaja por 30 segundos, você precisa esperar o refrão para aí sim tentar identificar a canção.
De forma geral, “positions” não é ruim, e está longe disso. Ele entrega ótimos vocais, composições inteligentes e desinibidas, e algumas produções que saem do comum sem perder a essência de Ariana. A principal questão é que, comparado com outros álbuns, por mais que soe mais coeso, não necessariamente soa mais interessante ou potente o suficiente para superar a era Thank U Next. E, verdade seja dita, essa talvez nem seja a vontade da cantora, afinal ela já declarou várias vezes que não liga para charts, mas o público, em sua grande maioria, não pensa assim. Agora é uma questão mais de conduzir a era com inteligência, e a possiblidade de “34+35” como próximo single é um excelente próximo passo!
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