Fugindo da imagem de pop star, Miley Cyrus lança seu melhor álbum, "Plastic Hearts"

Retratando sua jornada em busca de liberdade, sobretudo afetiva, Miley Cyrus nos apresenta a mulher que se tornou, vezes inconsequente, vezes ciente de seu impacto, e sempre contra as forças de poder no mundo. Com Plastic Hearts, a cantora transborda atitude e esconde para de baixo do tapete sua desinteressante persona criada no álbum Younger Now, que a partir de agora todos trataremos como breve alucinação coletiva.


O que era de se esperar realmente aconteceu. A espinha dorsal de seu sétimo álbum é realmente o rock, o qual ela executa com maestria, não só musicalmente, mas também nos vocais e posturas. Mesmo assim, a cantora ainda mostra que possui muita facilidade em transitar entre outros gêneros. Enquanto “Prisoner” e “Hate Me” poderiam perfeitamente se tornar músicas pop, “High” e “Bad Karma” flertam com o country, mas sem qualquer risco de remeter ao seu último álbum.


Até sua sétima faixa, o álbum não tem um tropeço sequer. As músicas são intensas, quando não na melodia, em suas letras – como é o caso de “Angel Like You”, na qual Miley abaixa sua guarda e reconhece que falhas em seus relacionamentos se devem à incompatibilidades impossíveis de mudar entre o casal. Neste começo, ela narra a tentativa de sair de relacionamentos que não lhe fazem mais bem, até que consegue, e passa por um processo de não sentir mais falta do que perdeu. Finalmente depois de virar a página, volta a se sentir realmente livre e independente.


Do rock de garagem de “WTF Do I Know” ao rock progressivo em “Gimme What I Want”, o álbum ainda transita em outras referências conhecidas. A intro de "Plastic Hearts" faz direta alusão à inconfundível intro  de “Sympathy For the Devil”, do The Rolling Stones, enquanto “Never Be Me” é a mais poderosa balada do registro, onde a cantora se mostra mais vulnerável que nunca, reconhecendo seus maiores defeitos, com direito a comparação às melhores baladas do Guns N’ Roses em seus tempos áureos.  


Em “Night Crawling”, parceria com Billy Idol, Miley entra de cabeça no universo do cantor e resulta numa das músicas mais obscuras e eletrizantes do álbum. Outro inegável destaque do registro é “Midnight Sky”, que se provou ser a melhor escolha para lead single do Plastic Hearts.



Já com “Bad Karma”, Miley sutilmente descreve sua inconsequência nos relacionamentos que viverá daqui pra frente. E por falar em inconsequência, a cantora mostra os dois dedos do meio à mídia em “Hate Me”, perguntando ironicamente, com medo de entrar no clube dos 27, se depois de quase uma vida inteira sendo perseguida, os veículos vão tratar sua memória como ela merece depois de sua morte. A atitude e afronta da cantora se encerra em “Golden G String”, deixando claro que jamais deixará que a sociedade ou os poderosos da indústria determinem como ela deve ser ou se portar.


O Plastic Hearts serve de homenagem ao rock, sobretudo às mulheres que encabeçaram esse gênero, que em sua grande maioria é masculino. Mulheres que inclusive sempre serviram de inspiração à Cyrus. Não é por acaso que as últimas duas faixas na edição deluxe do álbum são covers da banda Blondie, de Debbie Harry, e The Cranberries, de Dolores O’Riordan, e ainda conta com um ótimo remix que intercala “Midnight Sky” com “Edge Of Seventeen”, da lendária Stevie Nicks, que dispensa introduções.


É claro que em sendo uma artista essencialmente pop, e depois de tantas polêmicas, Miley encontra um grande desafio que é fazer seu álbum ser reconhecido por aqueles que mais  consomem rock por conta de simples preconceito vindos de erradas percepções que as pessoas tem sobre a vida da cantora.


Da mesma forma que por mais que o álbum seja ótimo, tanto em seu conteúdo lírico quanto na irreparável produção, ele também encontrará problemas em ser consumido pelos fãs de música pop. Pensando nisso, outro acerto dele foi tornar “Prisoner”, parceria com Dua Lipa, em single.


Depois de ter passado pelo pop, hip hop, psicodélico e country, Miley prova mais uma vez aquilo que já não tínhamos mais dúvidas: ela é uma das maiores artistas de sua geração e tem inegável versatilidade musical. Características pessoais da cantora, como sua atitude e liberdade, são essenciais para que esse álbum funcione, e o resultado não poderia ser melhor. Os álbuns de Cyrus costumam ser inconsistentes, mas em Plastic Hearts a cantora finalmente acertou a mão e fez dele o seu melhor trabalho até então.


Um comentário:

  1. Que critica bem escrita!!! Li duas vezes agradecendo por cada palavra, sério, parabéns!

    Esse álbum da Miley ta impecável, desde quando virei fã dela (lá no Bangerz) torcia por um álbum de rock, a voz dela sempre soou perfeita pro gênero. eu amo isso nela, o fato de nunca sabermos o que vem pela frente, e esse álbum tem muito disso, os diferentes tons que vão surgindo na narrativa são surpresas muito boas.

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