Anavitória e a pluralidade audaciosa do novo álbum, "COR"

Após o sucesso da parceria com Duda Beat, o duo Anavitória começou 2021 com o pé direito, lançando de surpresa o quarto álbum de estúdio, COR, um projeto inventivo, plural e maduro que marca fase independente da dupla. Com 14 canções inéditas, o disco promete te deixar de queixo caído, com direito a participações especiais de Rita Lee e Lenine.

Entre versos poéticos e produção muito rica, COR nasce em um momento de maior liberdade criativa do Anavitória, que experimenta agora áreas não exploradas antes, mas se mantendo firme às raízes do duo, musicalmente e historicamente. Sim, historicamente. Logo na capa do álbum, por exemplo, as meninas deixam de lado a paleta monocromática de sempre para vestir as cores da bandeira do Tocantins, estado de origem da dupla. E é, com muito orgulho, que elas abrem o disco com a poderosa faixa "Amarelo, Azul e Branco", em que elas celebram sua matriz tocantinense da forma mais vibrante possível: "E quando eu espalho cor, eu conto a minha história", elas exclamam.

O alto astral é mantido com muita classe em "Te Amar é Massa Demais", faixa que mantém o tão primoroso e tradicional romantismo lírico de Ana Caetano, mas com nuances musicais que já indicam uma maturidade e confiança sonora absurda. Em um passo nada convencional para a discografia da dupla, Anavitória nos embala em um samba percussivo e vintage que penetra quase como se fosse um raio de sol.

Mas, como dito anteriormente, a fórmula doce e apaixonada de suas canções também continua muito presente neste novo momento, porém ganhando novas instrumentações e intensidades musicais que elevam o nível para um patamar impressionante. É o caso da delicada "Explodir", um verdadeiro tesouro poético. A balada amplifica aquele sentimento de amor incondicional através de versos encantadores e instrumentais finais que desabrocham de maneira épica. O conjunto da instrumental "(dia 34)" com "Ainda é Tempo" também transforma o que seria simples para qualquer outro artista em algo colossal e extremamente memorável. Dispensando uma superprodução, a faixa acaba sendo mesmo assim um dos momentos mais genuínos e emocionantes do disco.

Também não seria um álbum do Anavitória se não tivesse aquela dose de vulnerabilidade que desperta arrepios instantaneamente, né? Estamos falando da sentimental e reflexiva "Abril", da graciosa "Te Procuro" e, sem dúvidas, da assombrosa “Eu Sei Quem é Você” - faixa que fãs acreditam ser sobre Tiago Iorc, após polêmica que o cantor teve com o duo referente a direitos autorais.

Apesar de não terem os destaques mais óbvios, devemos dar também as devidas menções honrosas para a produção cheia de clímax de "Tenta Acreditar", a adorável canção levada por ukulele "Cigarra", a energia positiva de "Carvoeiro", composição complexa de "Selva" e a intensidade voraz de "Terra", que é um dos momentos mais sublimes do álbum, sem dúvida. 

E, para encerrar com chave de ouro, temos a parceria com o veterano da MPB, Lenine, em "Lisboa". A faixa é, indiscutivelmente, outra que entra para o time das melhores do álbum. Ao mesmo tempo que ela é polida na medida certa, ela traz uma fluidez apaixonante. Além disso, a harmonia entre Ana, Vitória e Lenine é impecável, despertando tons floridos que figuram perfeitamente a evolução de Anavitória nesse disco.

Em Cor, a dupla de Araguaína (TO) pinta seu caminho vitorioso do estrelato nacional para a qualidade de potencial internacional. O projeto dissemina uma brasilidade dramática e romântica que ecoa de forma lúdica e cativa em níveis inexplicáveis. Anavitória parece se superar a cada lançamento e dessa vez não foi diferente. Neste álbum, arte do duo é concebida de forma muito autêntica e reverberada através de um sentimentalismo revigorante pouco visitado pela nova geração da MPB. Ao mesmo tempo que Cor soa como um passo corajoso, parece como uma evolução muito natural e inerente para Anavitória.