Roosevelt conta como ressignificou a mágica da Dance Music para os dias de hoje no novo álbum "Polydans"

O aclamado produtor Roosevelt apresentou na última sexta-feira, 26/02, seu aguardado terceiro álbum Polydans. Com maestria, o artista concebe esse projeto como uma verdadeira carta de amor à música eletrônica, mais especificamente à Dance Music. Em entrevista exclusiva ao Keeping Track, o alemão revelou um pouco dos bastidores e processo criativo do disco, incluindo até algumas curiosidades inéditas.

Em uma excelência sem igual, Polydans consolida de vez a experiência de um mestre da produção apaixonado pela Dance Music. Roosevelt é um grande fã e tem estudado e aperfeiçoado, minusciosamente, cada detalhe do movimento que agitou as cenas de clubes na década de 80. Hoje, ele revive o gênero de forma vibrante e autêntica.

Aliás, quando se trata de Dance Music, Roosevelt revela que, tendo morado em Berlin por um bom tempo, acabou acompanhando a raíz natural do estilo musical ganhando forma na vida noturna da capital. Com o tempo, ao se globalizar, o gênero foi perdendo um pouco de sua essência para estruturas pouco inventivas e muito comerciais, mas o produtor conta que de uns anos para cá tem visto uma luz no fim do túnel: "De 2017 para cá, eu sinto que houve uma movimentação de diversidade e reinvenção que trouxe um ar fresco à Dance Music. Parece que esse estilo voltou a ser divertido de uns tempos pra cá".

Mas se você acha que ele pretende fazer uma grande revolução no movimento, é aí que você se engana. "Eu acredito que, no geral, a música pop é um grande remix. A grande diferença é quando você coloca seu próprio toque, bebendo de suas influências, porém tornando disso algo único. É isso que quero fazer. Não tenho intenções em fazer uma grande revolução", disse o músico.

Por conta disso, o músico celebra a democratização de fazer músicas nos dias atuais de era digital. Todos hoje podem aprender a produzir sem sair de casa, e imprimindo sua própria identidade naquilo. Inclusive, foi assim que Roosevelt embarcou na carreira musical. "Eu só precisei de um laptop, alguns samples e já comecei a produzir música. Para mim essa é a mágica da Dance Music", completa ele.

Desde então, ele vem se descobrindo na música sozinho, experimentando quais sons diferentes ele é capaz de fazer e aprendendo novas técnicas de forma espontânea. Esse é o segredo de sua música ser tão singular desse projeto ser tão esplêndido. "Eu sinto que, dessa forma, fui me transformando em um produtor melhor com os anos, mas acabei perdendo um pouco daquele apelo genuíno. Então, em 'Polydans', tentei resgatar um pouco dessa sensação que trazia nas minhas primeiras faixas. Mesmo que elas não fossem cheias de técnica, elas pareciam mais autênticas para mim, e isso é muito mais importante do que ser racionalmente bom. É isso que trouxe um charme diferente ao disco", conta Roosevelt.


Após um processo muito libertador, o produtor afirma ainda que Polydans é o álbum mais pessoal de sua carreira, já que não houve nenhuma limitação criativa. Roosevelt se deixou levar puramente pelos seus instintos. Independente das faixas que já estavam prontas, ao chegar na metade do disco, ele evitou modular o projeto de forma racional. "Houve um momento, na metade do álbum, em que comecei a repensar coisas como 'eu não posso fazer uma música Disco agora, porque já tem uma assim', mas aí só ignorei e continuei a produzir cada nova música com um ouvido fresco", revelou o artista sobre seu segredo de não haver nenhuma filler no projeto.

Foi assim que Roosevelt realmente transcendeu a cada nova faixa, misturando os espíritos dos anos 80 e seus sintetizadores, disco, analógico, Yacht rock e euforia, tendo resultados incríveis. Os amantes da música eletrônica tem um prato cheio, com músicas que soam notálgicas, mas ao mesmo tempo destinadas para as pistas de hoje em dia.

Cada faixa contribui com seu sabor para uma experiência sonora muito agradável, o que é resultado de um artista confiante e sem amarras em experimentar coisas novas. Um exemplo disso é, inclusive, o fato de Roosevelt trazer à sua música um violão, pela primeira vez em muito tempo, e ainda tornar aquilo algo único e próximo de seu campo musical. "Tem uma faixa chamada 'Closer To My Heart' em que uso um violão durante toda a música, e eu não fazia isso há anos. Eu sinto que hoje poderia usar instrumentos asiáticos de percussão e ainda fazer aquilo ter minha identidade. Foi assim que me senti nesse disco", conta ele

Um álbum lúdico, brilhante e cinematográfico como Polydans não poderia chegar em um momento melhor na música. Principalmente agora que temos tantos artistas revivendo décadas passadas com um apelo de produção realmente extraordinário. Nesse sentido, Roosevelt reconhece hoje que houve uma grande evolução na cena: "Há 10 anos, tínhamos músicas pop que soavam terríveis. Havia uma distância muito grande entre o pop e o indie. Hoje, os dois mundos colidiram e, para mim, os maiores álbuns hoje são de Dua Lipa, Harry Styles, The Weeknd e Lady Gaga. Eles tem produções incríveis. Mesmo ainda tendo a estrutura radiofônica, é impressionante o quão saborosas essas faixas são. Como eu disse anteriormente, eu acho que a música pop é sempre um grande remix, fazendo referências ao passado, e eu acho isso incrível", reflete Roosevelt.

Aliás, ao ser perguntado sobre alguns desejos para a carreira, o produtor revelou que adoraria até produzir para alguma cantora pop em evidência, como Dua Lipa e Kylie Minogue. Mas sendo honesto, contou que o principal objetivo dele é continuar vivendo da música, fazendo shows e se conectando com os fãs, como faz hoje. "Se eu puder continuar gravando músicas muito legais como essas, no meu próprio estúdio, eu diria que é meu maior objetivo", finaliza.

Sem dúvidas, desejamos longa vida a Roosevelt e seu modo visionário e expansivo de produzir música eletrônica atualmente. Polydans deixa claro o quanto precisamos de um artista tão inspirado como ele.

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