Depois da recém-estreia do EP Não Leve a Sério, conversamos com o Murilo Bispo, mais nova revelação da música nacional, para saber um pouco mais de suas inspirações, referências, histórias por trás das letras e como foi o processo de produção do projeto.
Confira na íntegra:
KT: Primeiro de tudo, pra gente se situar também no seu estilo musical, quero saber o que você anda ouvindo, quais músicas e artistas tem te inspirado recentemente?
Mu Bispo: Durante o período de pandemia eu descobri muita coisa porque eu tive, de certa forma, tempo de pesquisar dentro dos streams coisa nova e uma cena internacional de um pop que flerta com bedroom pop, mas não é bedroom pop. Eu tenho ouvido muito LANY, muito Jeremy Zucker, tenho ouvido muito o meu John Mayer que nunca sai de mim, é sempre parte da minha playlist inevitavelmente, Ruel, aquele australiano, bom demais. Então, eu tenho bebido muito dessa fonte gringa, especialmente pela linguagem deles, por mais que o inglês seja muito mais fácil que o português para comunicar, acredito que eles comunicam muito bem e eles falam coisas bonitas de uma maneira muito simples. Tenho tentado entender muito como eles fazem isso para trazer para os meus trabalhos também.
KT: Eu sei que você tem passado por um processo de amadurecimento muito forte nos últimos anos. Pode me contar como foi esse processo desde sua primeira autoral até aqui? O que mudou?
Mu Bispo: Eu sempre comento que a minha carreira artística nasceu muito do nada, porque por mais que eu tivesse uma base muito boa, no ponto de vista musical, de conexão com a música, eu nunca fui artista ou entendi como ser artista. Ai do nada em 2018 eu estava na semifinal de um programa de exposição nacional e tinha que me entender como ser artista ali. Tudo aconteceu pra mim muito no susto e eu comecei a sentir quase uma obrigatoriedade de produzir músicas, para que elas tivessem um lugar no mundo e que elas pudessem me ajudar a me encontrar. Ali em 2020, quando soltei os primeiros singles, eles tiveram muita conexão com o filme teen que eu tinha acabado de gravar, de certa forma é uma linguagem mais simples, mais de adolescente. A partir daí, o amadurecimento foi menos meu, mas mais do meu entendimento como artista. Então, eu me vi nessa minha cobrança pessoal de cara “você precisa falar no seu som do jeito que você é efetivamente, então traz isso para o seu trabalho” e aí começou uma jornada doida de como fazer isso e a pandemia de alguma forma ajudou nesse processo porque eu pude, mais uma vez, ficar imerso, começar a estudar produção e tentar traduzir aquilo que eu estava pensado na mão e mexendo no software e tocando em casa.
KT: E me fala uma coisa, é sua estreia como produtor musical nesse EP. Como foi esse seu desenrolar?
Mu Bispo: Não sei se vocês lembram que tinha um celular da Sony Ericson, com as teclas laranjas, com infravermelho, que tinha um app de construção de música. Ele era basicamente um software de música que você escolhia os tipos de instrumentos e formava uma música e eu lembro de pedir incansavelmente para a minha mãe, para visitarmos a nossa tia que tinha esse celular só para eu poder ficar mexendo nesse software do celular dela. Então, por que estou dizendo isso? Porque essa minha percepção com essa vontade de estar fazendo parte do todo e entender como cada coisa se comporta sempre existiu. Tudo o que envolve música eu quero estar perto. E o trabalho do produtor ele é muito mágico. Existe o título de produtor, mas eu sou 0,222, é muito inicial, principiante a minha relação com a produção. Fico feliz em ter começado, em estar me ambientando cada vez mais com os conceitos e muito feliz por conseguir já aplicar tudo isso em meu trabalho. Hoje é muito gostoso sentar com um produtor e saber falar a língua dele, entender e isso torna muito mais rápido e fluido. Por isso, tem sido muito especial.
KT: Por mais que sua música fique na estética mais doce ainda do Bedroom Pop, tem alguns momentos que a guitarra aparece e é incrível. Como você tem essa veia bem singer songwriter, queria saber de você como é sua relação com a guitarra na hora de produzir seu som?
Mu Bispo: Sendo bem honesto, eu tive que inclusive abandonar ela um pouco, porque era o meu automático. Se eu pensava em compor eu já pegava a guitarra, o que automaticamente me limitava. Porque eu começava a construir as coisas por ela e não pelas coisas. Então eu admiti que eu tenho uma paixão absurda pelo instrumento e que ele vai estar em quase 90% das minhas músicas, só que eu não posso partir dele. Esse desafio que eu me coloquei foi muito legal. Eu estava até conversando com o meu amigo e perguntei como ele escreve, porque ele não é instrumentista, e ele disse que ele está no banho, vem uma melodia na cabeça e ele abre o gravador, canta aquela melodia e leva para alguém que toca e essa pessoa monta a harmonia e arranjo, até que eu decidi fazer isso – montar a melodia e fingir que eu não toco. A guitarra vai continuar sendo parte de tudo, mas cada vez mais eu tenho entendido ela como parte de um todo.
KT: No EP Não Leve a Sério, cada faixa tem sua própria personalidade e diferença né? Pode me contar um pouquinho do que cada uma carrega de especial?
Mu Bispo: O Não Leve a Sério conta a história de uma pessoa que acabou de terminar, até o momento em que ela esta totalmente liberta desse relacionamento, querendo viver coisas novas. A faixa 1 “Alguém” narra o exato momento em que o término aconteceu e que ficam aqueles mil questionamentos na nossa cabeça do tipo “será que estou fazendo a coisa certa? Será que essa não era a pessoa da minha vida? Quando eu a encontrar na rua, como vai ser?”. “Deixe o tempo” já é uma faixa que começa a trazer um entendimento, uma racionalização desse término. Você começa a entender o que aconteceu e aceita que está tudo bem. É aí que entra “Procura-se”, com aquela necessidade de viver a vida, porque não adianta ficar remoendo esse sentimento. A faixa é esse grito de liberdade. Por fim, “Refrão”. Como o ciclo natural das coisas, esta pessoa que acabou de terminar, racionalizar, entender e ir para a rua, encontrando outra pessoa. Quando ela encontra essa outra pessoa, ela se apaixona novamente. Então, Não Leve a Sério é um grande ciclo e o nome diz respeito a muitas coisas, até do processo de produção do trabalho.
KT: Tô amando os clipes e visuais desse projeto também. Essa parte visual é algo que prioriza também?
Mu Bispo: Quando eu comecei a desenhar o projeto eu tinha certeza de que eu iria precisar de um conteúdo audiovisual para cada uma das faixas. Esteticamente, eu bebi muito dessas fontes gringas também. Pegamos muitas referencias dos artistas que mencionei no começo, do Jeremy, do próprio Ruel, porque acho que são caras que sabem construir narrativa muito bem. Muito das narrativas vieram dali, tanto de audiovisual, quanto de figurino. Então, espero ter feito jus as referências que trouxemos para o projeto.
KT: E você como artista independente começando na indústria, quais foram os principais aprendizados que você gostaria que as pessoas que estão nessa também soubessem?
Mu Bispo: Primeira coisa é que não se faz absolutamente nada na carreira artística sozinho. Se você tem algum tipo de ideia de que, você vai compor, você vai produzir, você vai lançar... esquece! É uma grande engrenagem, no excelente sentido da palavra. As pessoas se interdependem e isso é muito maneiro. É muito gostoso quando o projeto dá certo e você tem muita gente envolvida, especialmente quando são pessoas queridas, porque a comemoração é outra e a vibração do resultado também. Procure pessoas que de fato querem fazer esse trampo dar certo com você. Por dar certo, não entendam estar no top 1 global. O dar certo é o seu dar certo. Entendam isso. Pode ser encher uma casa grande na sua cidade, com muita gente cantando o seu som. Então, monta esse time que acredita nesse seu dar certo e vai para cima. Resumidamente: tenha um objetivo muito claro na sua cabeça e traga pessoas legais para dentro, para fazer isso acontecer.
KT: Qual seria um grande sonho que tem para a carreira?
Mu Bispo: Um grande sonho que eu tenho de carreira é tocar com os meus ídolos. Eu acho que quando você chega nesse momento, é porque alguma coisa deu certo. Seja porque você construiu um público tão interessante que te fez chegar até lá, seja porque tecnicamente você foi admirado e conseguiu esse espaço. Sem parecer modesto, mas eu já realizei parte desse sonho com um deles, com um projeto ao vivo, que deve sair ainda esse ano. Então, essa é a minha grande métrica que as coisas estão indo bem.
KT: E agora tem muitos projetos vindo por aí né? O que podemos esperar de Mu Bispo em 2022? Pode nos dar um spoiler?
Mu Bispo: A gente conclui agora o lançamento desse EP de 4 faixas, depois dele eu quero soltar mais um projeto que estamos super correndo para conseguir lançar. Um projeto mais tímido, mas super carinhoso. Depois dele, tem uma faixa, uma versão que eu gravei com o Dudu Borges, um dos maiores produtores do país, que se chama “Análoga”. Gravamos outra versão que sai agora esse ano também, no segundo semestre. Estou bem ansioso porque ficou muito legal. Por último, mas não menos importante, o projeto que eu produzi coletivamente, se chama 96, que foi gravado em abril ao vivo, em estúdio, com músicos bizarramente incríveis. O 96 é um DVD basicamente. Gravamos o audiovisual dele ao vivo rolando. Cinegrafia incrível, som incrível. Então, estou muito ansioso porque é um projeto que vai estrear com o pé direito a minha carreira como Mu Bispo.
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