Em sua primeira passagem pelo brasil, a banda japonesa CHAI reuniu centenas de fãs e abalou as estruturas do Primavera Sound São Paulo. Formada por quatro meninas, as composições flutuam entre uma mistura de estilos como o indie, o pop, o dance e até mesmo um pouco de punk.
Com uma proposta de quebrar padrões de beleza e disseminar o neo kawaii – movimento cultural que vai contra a cultura do kawaii, que representa algo fofo e bonitinho – elas estão em seu terceiro álbum de estúdio e prometem ainda fazer muita diferença ao redor do mundo.
Confira as principais influências musicais, propostas, sonhos e marcos da carreira das meninas em entrevista exclusiva para o Keeping Track:
KT: Para alguém que está conhecendo o CHAI agora, como vocês mesmas descreveriam a identidade artística do grupo, em termos musicais, visual e etc?
CHAI: Primeiramente, o CHAI é uma banda de 4 garotas japonesas gêmeas em que o tema principal da é o neo kawaii. É uma forma de falar para a pessoa que ela é bonita. Todas temos algum complexo com a aparência ou corpo e estamos encarando isso como uma arte. Ou seja, nos inspiramos nisso para fazer as músicas e queremos espalhar esse conceito para o mundo todo. Sabemos que esses complexos são enfrentados por todos. Essa é a principal identidade do CHAI.
KT: Algo fascinante de vocês é o quão intenso e exuberante o trabalho do CHAI é em tantos sentidos. Quais são as referências que dão luz a esse fator tão forte do grupo?
CHAI: Claro que inicialmente tem a questão musical, somos artistas que não temos apenas a questão da música, mas da aparência. Tem uma banda brasileira chamada CSS, que também nos influenciou muito. Baseman Jack e Ton Ton Club foram outros artistas que influenciaram muito no estilo que temos até hoje. Também tem a questão da moda, que gostamos muito. Aliado a isso, a questão do complexo que usamos como arte. Jogamos na parte de moda, de música. Então, o sentimento que temos também é muito importante para o que temos feito na banda.
KT: Do álbum Punk para o Ink tivemos algumas mudanças, né? O que foi determinante nessa mudança de rota entre um álbum e outro?
CHAI: Os álbuns anteriores até o Punk, eles foram feitos antes da pandemia de coronavírus. Então, eram feitos em estúdio, nós ensaiávamos, íamos criando as músicas, era algo entre nós, muito nosso, a nossa linguagem de criação e criatividade. Quando começamos a fazer o Ink foi justo quando começou a pandemia. No Japão, não podia sair de casa de jeito nenhum por dois meses, a gente não podia se ver, ver amigos, as entrevistas eram todas online e a partir daí, tivemos que criar música de uma forma diferente também. Isso também acabou fulminando na questão de “precisamos conversar com outras pessoas para fazer as coisas” e isso muda também a linguagem de como as coisas são feitas. Até o Punk fizemos muitas turnês fora do Japão, conhecemos muitas pessoas e no Ink algumas delas acabaram se envolvendo também na criação desse álbum. Tudo isso também mudou a forma como nos sentimos sobre a música, como fazemos música. Ter amigos, conversar com pessoas. Essa reflexão dos sentimentos que criou o álbum Ink.
KT: Em que momento o grupo se encontra musicalmente hoje? O que podemos esperar do próximo disco, por exemplo, qual linha gostariam de seguir?
CHAI: Atualmente estamos em um ponto em que o nosso objetivo como banda é ganhar um Grammy, e estamos com a maior força e motivação, que jamais tivemos, como se fosse a nossa “última cartada” para ganhar esse prêmio. Então, estamos em um momento de motivação e muita energia. O caminho é justamente essa questão no neo kawaii e mudar essa cultura que temos hoje no Japão. Falar para o mundo que o nosso país tem essas garotas fortes que estão fazendo música e fazendo a diferença e queremos poder passar isso para o mundo todo.
KT: Precisamos falar de vocês ao vivo. Como foi se apresentar aqui no Brasil no Primavera Sound? Vocês foram um grande destaque, mas queria ouvir de vocês quais foram as suas coisas favoritas?
CHAI: O primeiro Primavera Sound que participamos foi o que aconteceu na Espanha, em Barcelona e acredito que graças a isso também pudemos vir para o Brasil também. E ficamos muito felizes em poder vir para um festival tão grande. Claro, que o festival em si, o palco grande, a qualidade é ótima, mas o principal é poder encontrar os fãs. Tinham muitos fãs lá e foi isso o que nos deixou muito felizes. É uma grande felicidade poder encontrar eles aqui.
KT: Vocês chegaram a aproveitar o restante do país em geral? Como vocês tem aproveitado?
CHAI: No primeiro dia, chegamos a pegar um Uber e andar pela cidade, não lembramos exatamente para onde fomos (risos). Mas demos uma andada e a impressão mais forte que ficou é que as pessoas daqui são muito atenciosas. As pessoas sempre vinham muito solícitas, ajudavam e isso é uma das coisas mais impressionantes. Além disso, a comida daqui também é muito gostosa, então esse foi outro fator que ficou marcado. No evento nós andamos sim pelo festival, compramos camisetas, ecobags e pudemos ver bandas que a gente não conhecia. Conhecemos bandas novas que não conhecíamos e pudemos curtir alguns shows no meio dos brasileiros, do público. O que foi uma coisa muito emocionante para nós, porque a energia do brasil é muito diferente. O brasileiro é muito expressivo, conseguimos ver nos olhos quando estavam se divertindo. Somos japonesas, mas gritávamos junto porque estávamos ali no calor do momento. É mais ou menos o que a gente já imaginava, porque sempre soubemos que os brasileiros eram muito quentes, receptivos. Vocês também dançam de um jeito diferente, sabem usar o quadril, é bonito.
KT: Vocês já conquistaram muita coisa legal na carreira, mas o céu é o limite para vocês né? Qual sonho vocês ainda querem muito realizar?
CHAI: É aquela coisa... não tem limite mesmo. Acho que o primeiro objetivo realmente é espalhar o neo kawaii, transmitir para as pessoas uma música que dê forças para elas, poder mudar a opinião das pessoas com essa questão da beleza e os padrões. Esse é o principal objetivo, quebrar esses padrões da beleza. Nós mesmas temos os nossos complexos e acredito que vamos sim conseguir fazer isso porque entendemos como as pessoas se sentem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário