Foto: Summer Breeze Brasil/ Equipe MH Arts (Diego Padilha e Marcos Hermes)
Tradicional festival alemão, o Summer Breeze acabou de ganhar sua segunda edição brasileira. Após uma estreia bem-sucedida no ano passado, o evento retornou para São Paulo nesta sexta-feira (26) num formato um tanto quanto diferente - com três dias, sendo este o primeiro.
Para quem marcou presença em 2023, a essência segue mantida, como a distribuição dos palcos, a qualidade e diversidade do line-up e as sessões de autógrafos. Em contrapartida, houve uma preocupação maior com o público em relação à hidratação, com uma estação de água à disposição, e com o som, desta vez no volume ideal. Além disso, rolou brinde de mão de espuma, proporcionado pelo patrocinador Sportsbet.
Já em relação às atrações, os destaques ficaram em Gene Simmons (vocalista e baixista do Kiss, com sua banda solo), Mr. Big, Sebastian Bach, Edu Falaschi, Exodus (que mandou um "heavy metal forever" no fim do set!), Dr. Sin, Sioux 66 e Black Stone Cherry.
Veja um resumo dos principais shows abaixo:
Sebastian Bach
Sem dúvida, Sebastian Bach tem o carisma como um dos pontos altos de sua performance. Não só isso, como a espontaneidade. A apresentação até começou com um erro no telão - coberto pelo nome do Black Stone Cherry - e, ainda assim, casou com o aspecto despojado do clássico vocalista do Skid Row. Brent Woods (guitarra), Andy Sanesi (bateria) e Clay Eubank (baixo) o acompanharam.
Aliás, todo seu repertório é uma homenagem à sua antiga banda e também, como o próprio enfatizou por diversas vezes, ao rock e heavy metal. Isso porque, para além das músicas de seu ex-grupo onde fez história, entoou trechos de "Tom Sawyer", do Rush, "Children of the Damed”, do Iron Maiden, e "I Love It Loud", do Kiss - por duas vezes, em referência à atração principal da noite. De brincadeirinha, rolou ainda “Rollerback Girl”, de Gwen Stefani.
Não faltaram clássicos: "18 and Life", "I Remember You", "Youth Gone Wild" e "Wasted Time", a capella, especialmente para o Brasil, segundo suas palavras em português. Por inúmeras vezes, o artista rodou seu microfone de fio, brincou com o cabelo do baixista ("you've got the gig"), pronunciou característicos "obrigado Brasil", "you're metalheads" e "I fucking love Brasil" e, claro, desfilou agudos.
Para completar. rapidamente levantou a blusa em sinal de calor e, de fato, a tirou após encerrar sua participação no festival - ficando apenas com uma brilhosa calça vermelha. Também explicou que esteve ao Brasil pela primeira vez em 1989, 34 anos atrás, e mencionou que cantaria músicas não só do álbum homônimo de estreia, como também, por exemplo, do "Slave to the Grind" (1991) . Foi impossível não levar-se pela animação e falas genuínas do cantor que, realmente, parecia feliz em estar de volta.
Mr. Big
O Mr.Big chegou ao Summer Breeze Brasil com uma promessa de despedida. A performance fez parte da turnê "The Big Finish" - anunciada como a última da carreira. Antes mesmo da primeira música, com "Blitzkrieg Bop" dos Ramones nas caixas de som, ficou claro o carinho por parte da banda, composta por Eric Martin (voz), Billy Sheehan (baixo), Paul Gilbert (guitarra) e Nick D'Virgilio (bateria).
Durante o set, o frontman repetia "are you ready", enquanto movimentava-se de maneira ávida pelo palco, curvando-se aos fãs e dizendo, em português mesmo, "te amo Brasil" e "viva Brasil". Também gesticulou bastante ao longo da apresentação, fazendo desde um sinal de relógio até chifrinhos na cabeça, pegando, ao final, uma bandeira do Brasil.
Para quem estava esperando Gene Simmons no palco ao lado, o Hot Stage, era um tanto quanto difícil ouvir com clareza o que o líder falava antes das músicas. Contudo, nada conseguiu tirar o brilho do coro impecável dos admiradores em "Wild World", "To Be With You" e até "Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)" (incluindo a tradicional furadeira para os licks!). Eric, inclusive, não era a única figura nos holofotes. Frequentemente, citou o nome dos colegas (inclusive do saudoso baterista Pat Torpey), que receberam um merecido espaço com solos próprios - no caso, os icônicos baixista e guitarrista.
Ao fim, Billy relembrou uma vinda ao país dezenove anos atrás e prometeu: "nunca esqueceremos dessa noite".
Gene Simmons
Ver Gene Simmons, eterno vocalista e baixista do Kiss, apresentando-se de maneira solo é uma experiência. Junto de Brent Woods (guitarra), Jason Walker (guitarra e voz) e Brian Tichy (bateria), ele trouxe uma performance sem as pirotecnias pela qual sua banda ficou conhecida. Detalhe: sem qualquer tipo de maquiagem ou figurino. O foco é, inteiramente, na música.
Ainda assim, o músico continua com a exata personalidade. Pronuncia os "oh yeah" tão marcantes, segue apontando para os fãs, fazendo caretas e gracinhas, sempre secando o rosto em uma toalha, lambendo o dedo do meio e, por mais que não cuspa o tradicional sangue, até deixa a baba cair como era costume no quarteto mascarado. Todos os maiores clássicos do Kiss (com exceção de "God of Thunder", que, mesmo com pedidos, revelou que não cantaria) integraram o setlist.
A performance começou com risadas saindo das caixas de som e a intro de "I Love It Loud". Mas, quem atuou como o início do repertório foi "Deuce". Logo ali, ficou clara a competência dos músicos de apoio, como também a "estranheza" por ver Simmons desacompanhado dos antigos colegas - sobretudo do vocalista e guitarrista Paul Stanley, seu parceiro por 50 anos.
No entanto, isso não foi um problema. Inclusive, o próprio fez questão de mencionar o nome do Starchild ao citar a composição de "Detroit Rock City" e "Love Gun" e até de Ace Frehley em "Cold Gin".
Por mais de uma vez, entre risadas, pronunciou a expressão "bundas lindas". Soltou um grave de vibrar o peito em "Cold Gin" e agradeceu ao público brasileiro por fazê-lo se sentir em casa. Parou para ouvir todos os coros de "olê olê olê Gene" e, quando não falava um "obrigado" ou "tudo bem" em português, arriscava umas palavras em espanhol (como "perfecto") quase que para provocar - perguntando, inclusive, se havia alguém da Argentina ou Chile presentes.
"Nada é falso, não temos cantores de apoio, cantamos ao vivo, tocamos de verdade e amamos São Paulo. Tenho muitos filhos de São Paulo", brincou.
Para além dos hits do Kiss e de "Are You Ready", da sua própria carreira solo, deixou que Jason comandasse um cover de "Communication Breakdown", do Led Zeppelin, e que Brian guiasse uma homenagem para o saudoso Lemmy, líder do Motörhead , com "Ace of Spades". O momento foi um dos pontos altos do set - ainda mais porque os gritos, pela única vez na noite, cessaram para que Gene falasse sobre o falecido amigo.
"Eu fui ao funeral dele, que tinha muitos amigos. Dave Grohl, do Foo Fighters, estava lá. James Hetfield, do Metallica, também. Ozzy também. E eu. Todos nós para honrarmos Lemmy. Essa é pra você", disse. "Lenny vive", pronunciou, em seguida.
Ao fim, o ritmo frenético do início diminuiu. "Let Me Go, Rock 'n' Roll" veio acompanhada de uma exaltação ao rock, com o músico descrevendo o gênero como surgido "antes do metal, antes do thrash, antes do grunge, antes do alternativo". Para "I Was Made for Lovin You", chamou a cantora Miranda Kassin, enquanto que, em "Rock and Roll All Nite", convidou inúmeras fãs mulheres.
Enfim, terminou a noite afirmando "see you next time". Os fãs, que talvez não esperavam vê-lo tão cedo no país depois do fim da "End of The Road Tour", foram agraciados com um show memorável - especificamente, o segundo desde a saideira do Kiss. Diante de todos os motivos citados, é certo que a noite foi histórica.
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