Foto: Summer Breeze Brasil/Equipe MH Arts (Diego Padilha e Marcos Hermes)
O Summer Breeze Brasil 2024 chegou ao fim. Neste domingo (28), aconteceu no Memorial da América Latina, em São Paulo, o terceiro e último dia da segunda edição, que, assim como a primeira, mostrou-se um sucesso.
Nomes como Mercyful Fate, Anthrax e Killswitch Engage figuraram entre as atrações principais. Ainda, compuseram o resto do lineup Avatar (que, até então, havia vindo ao país apenas como abertura do Iron Maiden), While She Sleeps, Carcass (cujo baixista e vocalista, Jeff Walker, sofreu com o calor), Overkill (que repetia incansavelmente a frase "we don't care what you say" devido à faixa "Fuck You"), Ratos de Porão, entre outras atrações.
Considerando as três datas, o saldo foi muito positivo. Neste ano, a organização ajustou o som, equilibrado e na altura certa, como também proporcionou duas estações de hidratação, fundamentais diante do clima quente e abafado. Mais uma vez, acertou na curadoria, apostando em diferentes vertentes e gerações do rock/metal, trazendo uma programação diversa, e concedendo sessões de autógrafos com alguns dos artistas - dando ao público um card ainda mais "trabalhado" para que pudessem pegar as assinaturas. Não é à toa que, no fim da noite, já foi anunciada a edição de 2025, marcada para os dias 3 e 4 de maio, no mesmo local.
Veja a seguir o resumo de alguns dos maiores destaques:
While She Sleeps
Formado em Sheffield, na Inglaterra, o While She Sleeps tinha a missão de engajar um público que enfrentava o forte sol do meio-dia em sua performance tipicamente metalcore. E, com toda certeza, deu certo.
Sean Long (guitarra), Aaran McKenzie (baixo) e Adam "Sav" Savage (bateria) integram a formação, acompanhados de Lawrence Taylor (voz) e, em partes, Mat Welsh (guitarra e voz) atuando como os verdadeiros frontmen. Mas, sem dúvida, a figura de Lawrence (ou "Loz") que realmente conquistou o público presente. O cantor chutou garrafinhas de água, pediu mais de uma vez para que a plateia aplaudisse a si própria e, em um belo gesto, mencionou o Killswitch Engage e agradeceu à organização e aos fãs:
"Obrigado pelo amor e pelo suporte. somos muito gratos por todo mundo que vem aos shows, que aparece, espera nas filas. Valorizamos isso 100% e não somos iludidos, sabemos que se não fosse por vocês não estaríamos aqui".
Ele mesmo entendia que, no contexto do sol e do último de festival, era difícil mostrar energia, mas entregou seu máximo como líder. Deu boas-vindas a quem estava assistindo a banda pela primeira vez, tratou os fãs como "sexy motherfuckers", divulgou o novo álbum "Self Hell", e, loucamente, foi pro meio da galera em "You are We". Ainda pronunciou "obrigado em português", mesmo que confuso quanto à pronúncia.
Era possível ver que a plateia, pelo menos na parte da frente, correspondeu, abrindo moshpits e obedecendo aos comandos (ficando completamente agachados na saideira "Systematic" e subindo nos ombros um do outro em "Four Walls"). Infelizmente, os britânicos não usaram todo seu tempo - acabando a performance quase 10 minutos antes do previsto -, mas, diante do apresentado, mereciam um espaço ainda maior no lineup.
Em determinado momento, Mat pediu para que a plateia cantasse caso soubesse a letra ou simplesmente fingisse que sabia. A impressão que fica é de que, mesmo quem "caiu de paraquedas" na apresentação, conseguiu encontrar-se ao longo do set.
Avatar
Quando "Beware of The Clown", do Damned, soou nas caixas de som, os fãs sabiam que o Avatar estava para entrar. Jonas "Kungen" Jarlsby (guitarra), John Alfredsson (bateria), Johannes Eckerström (voz), Henrik Sandelin (baixo) e Tim Öhrström (guitarra) subiram, todos em trajes vermelho e preto, e deram início ao set com "Dance Devil Dance", mostrando, desde a primeira música, um bate-cabeça sincronizado.
Fato é que, a primeira impressão pode ser de estranheza. Em cima do palco, o líder sueco, todo maquiado, encarna uma espécie de palhaço maluco. Todas suas expressões faciais são exageradas e até o discurso é proferido de uma maneira performática. O simples de fato de beber água (num recipiente que parecia propício para gasolina), sorrir, dar a língua, tirar sua capa, fingir tocar guitarra (ou teclado) e, até mesmo, exibir um dos músculos e brincar com os suspensórios virou uma encenação.
E, ao longo do set, o público, aparentemente, entendeu e comprou a ideia. Logo as piadinhas, que iam desde ao calor até repetir seus gritos e "exorcizar a alma", começaram a arrancar risadas e os moshpits passaram a ficar maiores. "Vocês deixaram a gente pegando fogo. Parece que vamos morrer aqui, mas vocês valem a pena", pronunciou.
O caráter teatral, inclusive, vale para todos os membros. Antes de iniciarem a segunda faixa do set "The Eagle Has Landee", os músicos fizeram movimentos em câmera lenta e, para "Colossus", subiram ao palco em marcha.
Johannes pareceu sair do personagem em apenas um momento. Quando sentou ao teclado para tocar "Tower", que trouxe vocais seus a capella no fim, agradeceu genuinamente, mudando o tom de voz: "De verdade, obrigado. Esse é nosso quarto show no Brasil. Nosso primeiro show na Suécia, na Alemanha e nos Estados Unidos, em qualquer outro lugar, nunca foi igual a esse. Estamos tão honrados por estarmos aqui com vocês".
Ao final, o frontman fez uma piadinha perguntando quantas músicas o público ainda queria e fingiu deixar o espaço por "estar magoado". Claro, em seguida, entoou as saideiras "Smells Like A Freakshow" (em que "cheirou" o próprio suor em trocadilho com o título) e "Hail The Apocalypse" - encerradas com uma música circense.
"Tem algo rolando entre São Paulo e Avatar. Nós pertecemos um ao outro. Estamos destinados a fazer isso para sempre. São Paulo pertence a mim", confessou. E pelos coros de "We are Avatar" da plateia, a afirmação é absolutamente verdade.
Kilswitch Engage
Mike D'Antonio (baixo), Adam Dutkiewicz (guitarra e voz), Joel Stroetzel (guitarra), Jesse Leach (voz) e Justin Foley (bateria) entraram no Hot Stage com personalidade e, literalmente, em chamas - com labaredas saindo ao fundo do palco. Joel, que desfila uma série de "pussies" ao longo do set, pronunciou um sonoro "hi guys" quando iniciaram, sendo essa a primeira de suas falas "engracadinhas".
Logo após a entrada com "My Curse", o vocalista principal, que sempre colocava uma das mãos no peito e que acabou pegando uma bandeira do Flamengo, já perguntou se a plateia estava tendo um dia divertido e aproveitou para elogiar o line-up - especificamente as atrações Overkill, King Diamond, Mercyful Fate e, com mais enfoque, Anthrax, pedindo barulho para tais grupos.
Assim, Joel soltou uma piadinha pouco tempo depois: "Mal começamos e quebrei minha guitarra. Sou bom em quebrar coisas, guitarras, corações". A partir daí, com "Rise Inside", começaram alguns dos moshs mais loucos da edição. Voaram palmilhas de calçados, botas e chegaram a levantar um cadeirante vestindo uma camiseta do Gojira.
A animação era tanta que, em "This Fire", o vocalista foi pra galera - repetindo a atitude em outras músicas posteriores, como "This Is Absolution".
"Esse é o nosso último show antes de voltarmos pra casa", explicou, pedindo, também, barulho para toda equipe da banda, desde os operadores de luz aos técnicos de som - um bonito gesto de gratidão a quem monta o show. Ainda, em determinado momento, Jesse bebeu uma cerveja e pronunciou, em português, a palavra "saúde", como também "cheers" e outras expressões semelhantes em diversas línguas.
"The Signal Fire" (dedicada à união) e "The Crownless King" figuraram entre as músicas mais poderosas do repertório. "Essa é sobre líderes políticos que dizem o que fazer, o que é certo e errado. Fod*-se os políticos, fod*-se as pessoas que estão no poder, o poder é do povo, vocês tem o poder de mudar o mundo", descreveu o vocalista a respeito da inspiração da segunda citada.
Aliás, mesmo com toda loucura, ainda não era suficiente para Joel, que perguntou se a plateia estava "cansada" (em português mesmo) e que não via "nada". Tal declaração originou um grande circle pit, simplesmente histórico.
Com um agradecimento pelo apoio ao longo de 25 anos, a banda encaminhou a performance para o fim. Tocaram "Holy Diver", em um tributo para Dio, e, curiosamente ao som de "Careless Whisper", de George Michael", despediram-se - a descrição de "deuses do metalcore" nunca fez tanto sentido.
Anthrax
Anthrax mostrou porque é um dos maiores nomes do thrash metal da história. Scott Ian (guitarra e voz), Charlie Benante (bateria), Joey Belladonna (voz), Jon Donais (guitarra), Dan Lilker (baixo, sendo um dos integrantes originais da banda, e atualmente, em subsituição a Frank Bello) incendiaram o Ice Stage. Pelos telões, era possível enxergar sinalizadores na plateia, que só mostraram a intensidade do momento.
"I Can't Turn Your Loose", de Otis Redding, ecoou nas caixas de som antes que os músicos entrassem. Joey, que vestia uma camiseta do próprio grupo, incentivava todos os tipos de grito e logo destacou: "Essa noite é nosso último show dessa turnê. Faremos dessa noite especial com vocês."
Até o "Olê Olê Olê Anthrax" entoado pela plateia ganhou um acompanhamento dos músicos na bateria e guitarra. "Tenho uma pergunta para vocês. Não sei como dizer em português, isso é ruim da minha parte, mas vou aprender para a próxima vez. Vocês gostam de thrash metal?", perguntou Scott antes de "Metal Thrashing Mad".
"Antiscoial", "Medusa" (em que Belladonna fez que estão de murmurar "eu te vejo" para uma pessoa especifica) e "Keep It in the Family" (dedicada especialmente para os fãs que mantêm o metal vivo) apareceram no set. Mas, sem dúvida, "I Am the Law" com a participação especial de Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, foi o ponto alto. O brasileiro chegou ovacionado e, diante do carinho, fez até uma reverência.
"Nosso amigo, nosso irmão, vocês devem saber quem é, talvez o amem" descreveu Scott a respeito do brasileiro, que já havia tocado com a banda em outras ocasiões no passado.
Assim como muitas atrações do line-up, o Anthrax prometeu voltar em breve. Ainda acrescentou que é provável que o façam com o novo álbum, que deve sair em 2024. E, para a alegria dos admiradores, os descreveram como uma "das melhores plateias que já vimos."
Mercyful Fate
Antes mesmo que o Mercyful Fate subisse ao palco, uma ansiedade já havia sido instaurada. Instantes antes do Anthrax iniciar sua apresentação, uma cortina preta com o logo da banda foi estendida no Hot Stage. E, claro, havia um motivo por trás do mistério.Com poucos minutos de atraso, o pano caiu e revelou um cenário de tirar o fôlego. Uma cruz invertida e iluminada em dourado pairava no meio, enquanto escadas, silhuetas de catedrais, uma espécie de altar e um pentagrama terminavam de compor o cenário. O vocalista King Diamond, com um acessório de chifres e sua pintura de rosto, simulou uma espécie de ritual antes que Hank Shermann (guitarra), Bjarne T. Holm (bateria), Mike Wead (guitarra) e Becky Baldwin (baixo) entrassem e o acompanhassem.
Não demorou para o que frontman entoasse um "boa noite" e ressaltasse que fazia um tempo desde que estiveram no país pela última vez (em 1999) - posteriormente, prometendo que não demorariam tanto de novo para retornar. Expressivo, sempre rangendo os dentes, trazia raiva aos seus agudos inconfundíveis e batia em seu peito. O pedestal do microfone, na verdade, era uma cruz, a qual fingia usar como guitarra. E falando no instrumento de seis cordas, seus solos protagonizaram boa parte do set, abrilhantado por "Come to the Sabbath" e "Melissa".
As interações eram mais curtas. Ele limitou-se a dizer, incontáveis vezes, "obrigado" e "maravilhoso". Chegava a ficar parado, apenas olhando a plateia. Afinal, a sua música e o que mostrava falavam por si só. Antes do encore, com "Satan's Fall", deixou um recado: "vocês são únicos, tenho 100% de certeza".
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